O Vale do rio Preto.
Antes que entremos na configuração do
admirável vale do rio Preto, onde é o teatro romance que estamos delineando, é
bom que conheçamos o rio Preto e seu caudal.
Nasce na Serra da Mantiqueira - sistema
Itatiaia –Separa as Províncias de Minas e Rio der Janeiro,
Separa os Estados de Minas Gerais e Rio de
Janeiro desde a sua nascente, até a sua foz.
Deságua depois de um percurso de cento e
noventa e oito quilômetros, na margem direita do rio Paraibuna, que, logo em seguida,
depois de um pequeno rolar, lança-se no Paraíba do Sul.
Banha o Município de Rio Preto, desde a foz
do ribeiro Passa Vinte, confinante dos municípios de Aiuruoca e Rio Preto, até
o rio Monta Cavalo, que divide os municípios de Rio Preto e Santo Antônio do
Paraibuna (Juiz de Fora).
Banha o município que tem o seu nome numa
extensão de oitenta e um quilômetros[1].
Em seu curso, banha os municípios fluminenses
de Resende, Barra Mansa, Valença- onde dá o nome aos distritos de Santa Isabel.
Em território da província de minas banha os
municípios de Aiuruoca, Rio Preto, a que dá o nome, e Santo Antônio do
Paraibuna.
A sua Bacia, só em território mineiro, é de 1.074
km²[2].
Ao sair da bacia, onde nasce o rio, forma
três cascatas[3]:- a primeira mede cerca de três metros, a
segunda, 20 metros; e, a terceira perto de 30 metros.
A bacia onde nasce[4] o rio Preto tem um aspecto de meio
elipsóide, com seu eixo.
Rio Preto |
|
222 km |
|
Nascente |
|
Foz |
Rio Paraíba*****José
Marinho de Araujo. |
3 326
km2 |
Tem, nos limites do município de Rio Preto, algumas
pontes:- uma, no posto Zacarias, lugar histórico, construída por ocasião em que
o Duque de Caxias aniquilou a revolução de 1842 [5].
Pontes sobre o rio Preto: (Zacarias )
1-Ponte dos Pintos.
Arquivo de José Marinho de Araújo editadas por FHOAA
Uma, na fazenda Pirapitinga, pouco abaixo à
foz do rio deste nome, construída por Pereira, de que já tratamos, e outra na
fazenda Santa Clara.
Na ponte da fazenda de Santa
Clara tinha escrito bem legível, inscrito em caiação, o seguinte:
Junho-24-1844.
Pelo vale do rio Preto,
nas confrontações Aiuruoca, Rio Preto e Valença, espalham-se as ricas fazendas
dos Fortes, adquiridas por herança de seu maior que foi Francisco Dionísio
Fortes.
A maior e mais importante é a fazenda de
Santa Clara, de propriedade do Comendador Francisco Thereziano Fortes.
Comendador Thereziano possui grande fortuna.
É casado com d. Maria Thereza de Souza Fortes, baronesa de Monte Verde. Não tem filhos[6]
Os seus domínios
estendem-se pelas margens do rio Preto,desde a Vila até além da foz
ribeirão Pirapitinga, galgando as montanhas
ramificantes da Mantiqueira.
A sede da fazenda, é,
nestas centenas de léguas, o edifício mais importante. A sua construção
sólida e demorada, foi feita pelos seus escravos que elevam a mais de três mil.
A maior culturada fazenda é a do café. Para a condução da
rubiácea produzida em suas terras, ao mercado consumidor,FranciscoThereziano
Fortes( o barão
de Monte Verde(*),
tem tropas a propósito, possuindo, para esse mister,pedaços de terras- sítios-
ao longo do caminho da Corte, para nesses pontos de descanso, ser tratada a
tropa e se refazer das fadigas da viagem.Muitas das vezes, por essas espécies de estações, são
substituídos os animais da tropa.
É Francisco Dioníso Fortes um grande benfeitor da vila de Rio
Preto,ou em verdade ,o seu construtor.
Não há construção de valor que não tenha o seu nome ligado.
Foi o garimpeiro do vale, desde o município de Paraibuna,
subindo o cursode vários afluentes do rio Preto, até às margens do rio Grande,
na zona do campo.
Arrancou muito ouro no
seio virgem da terra.
Dentro dos domínios de Santa Clara, afastada do rio
Preto,cerca de quatro quilômetros, fica a fazenda de São Bento, pedaço de terra
doado por Francisco Thereziano Fortes ao capitão Tomé Dias dos Santos Brandão,
que muito o auxiliou em suas aspirações.
É uma São Marino encravada na Itália de Leonardi; assim nos
parece São Bento dentro de Santa Clara.
Abaixo da fazenda de São Mathias,ergue-se a sede da fazenda
de Pirapitinga, vendida por Manoel Pereira a Antônio Ignácio Ferraz(no Estado
de Minas.
Comprou a fazenda de Pereira, por intermédiodo patrício de
ambos, Joaquim da Fonseca Moura, negociante na Barra Mansa.[8]
Para essa compra, Ferraz arranjou dinheiro com o Comendador Thereziano, dando-lhe em
garantia hipotecaria a mesma fazenda.
Menos
de uma légua abaixo, ergue-se a casa da Fazenda de São Fernando[10], do Comendador Carlos
Teodoro de Souza Fortes, Barão de Santa Clara[11], casado com Isabel
Henriqueta Fortes, irmã do (
Barão de Monte Verde ).[12]
Editada
por FHOAA. 2008
Fora do vale do rio Preto, entre as fazendas
de São Fernando e a Freguesia de Conservatória, sita a fazenda de São Paulo[14]de propriedade do Desembargador Antônio
Joaquim Fortes de Bustamante, irmão do (Barão de Monte Verde).
Fonte: material disponível na Internet.
As fazendas de São Mathias,
Pirapitinga, Santa Tereza, São Fernando e São Paulo, ficam no território da
província do Rio de Janeiro.
Fazenda
São Luiz. Fotos de FHOAA em 2009.
A fazenda de São Luiz[16] fica abaixo da fazenda de São Fernando. É
propriedade da Marquesa de Valença.
Todas essas propriedades são
importantíssimas.
Servem do rio Preto para o seu intercâmbio,
por meio de navegação em barcos.
Numerosos barcos cortam as águas mansas do
rio Preto que é navegável desde a cachoeira abaixo da barra do Pirapitinga até
légua e pouco abaixo da vila.
O movimento de canoas no rio Preto é
intensíssimo.
Diariamente descem o rio numerosos barcos,
quase que se soçobrando, com pilhas de sacas de cereais produzidos nas terras férteis,
desta zona, que não só dão o ouro em seus rios, como a prodigalidade de suas
sementeiras fazendo encher as arcas dos seus felizes possuidores.
A bordo dessas embarcações, escravos
empregados nesse serviço, quebram com seus cantares a monotonia do vale.
E, que cantares! São o grito de saudade de
rincões distantes, donde foram roubados para serem mercadejados como simples
objeto. Mas, têm alma.
Os seus cantares regionais, que são pedaços
do coração transformados em notas, ecoam pelo vale.
[1]
Medida quando escrito o livro.
[2]
Anuário Estatístico do Estado do Estado de Minas Gerais 1929.
[3]
Dicionário Geográfico. Dr. Moreira Pinto.
[5]
Consultar Movimento Político em Minas Gerais em 1842, por Dr. Moreira de
Azevedo.
[6] Em Óbitos de Rio Preto, 1836 Folhas 07 Cemitério de
Santa Clara.
Data: 08/01/1836. Nome:
gêmeos Antônio e Francisco. Filhos de: capitão Francisco Thereziano Fortes.
Livro: 1833-1848.
Pesquisa de Fátima Helena Oliveira de Araújo e Araújo Junho 2009.
Arquidiocese de Juiz de
Fora
[7]
Hoje (1938) fazenda do mesmo nome de propriedade da senhora d. Maria de Lourdes
Leite de Andrade. Em 2009, seu nome é Santa Rita de Cássia, e, tem outro
proprietário.
[8]
Chacrinha, distrito da cidade defronte a estação de São Luiz.
[9]
Ainda temo mesmo nome. É de propriedade da família do capitão José dos Reis
Duque.
[10]
Hoje, época em que foi escrito o livro, uma firma comercial.
[11]
O Barão de Santa Clara foi um dos construtores da Matriz do Rio Preto. O
Comendador Thereziano, assistindo a uma missa na Capela de Nosso Senhor dos
Passos, no cemitério do mesmo nome, em dia chuvoso, notou que havia uma goteira
sobre o nicho do padroeiro da Vila. Chegando à Fazenda fez seu testamento
legando trinta mil arrobas de café para a construção da Matriz atual, obra que
foi feita pelo Barão de Santa Clara, em cumprimento ao do dispositivo
testamentário. Sendo o mais rico da época, possuindo dois mil e oitocentos escravos,
com o produto ainda do café deixado por seu cunhado e primo Thereziano, o Barão
iniciou os trabalhos de construção da Matriz, mas, foram necessários outros
socorros financeiros, de que dispôs o Barão. As obras ficaram, naquele tempo,
em 480$000:000. É uma obra sólida, em verdade, pois as suas paredes tema
espessura de um metro e vinte centímetros Ali repousam os restos mortais de seu
construtor. Reza a crônica que, com esta obra despendeu d. Maria Thereza de
Souza Fortes, a quantia de duzentos contos de réis, também. Ao lado esquerdo do
altar mor da Matriz, acha-se, também, uma lousa com esses dizeres “Aqui jaz D.
Maria Tereza de Souza Fortes, Viscondessa de Monte Verde- Fundadora desta
Matriz- Falecida a 6 de maio de 1868”.
[12]
No processo movido pelo Barão contra José Bento de Sousa Fortes e outros,
consta às folhas 32, um auto de perguntas feitas em 12 de novembro de 1859, ao
queixoso, que diz ter a idade de 54 anos, casado, filho de São João Del Rei,
brasileiro.
[13]
São Fernando parece ter sido uma Sesmaria com 225 alqueires, mais ou menos,
possuindo meia légua, em 1804. Essa mesma medida foi julgada em 1825.
[14]
Ainda com o mesmo nome, 1938, 2009.
[15]
O Dr. Bustamante, quando Ouvidor Geral da Comarca de São João Del Rei, assinou
as leis criando as paróquias de Rio Preto, Santa Bárbara do Monte Verde e Santa
Rita de Jacutinga.
[16]
Hoje, 1938, do Sr. Dirceu Vilela.2020,possui outro
proprietário.
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