fazenda santa clara ...Ouro, café e gado de João honorio de Paula motta

Apoio ao documentário Santa Clara...Clareai., lançado a 14 de Abril de 2018 em Santa Clara. Santa Rita de Jacutinga-MG

segunda-feira, 29 de maio de 2023

 

Capítulo VII

A derrubada da Ponte do Boqueirão.

A ponte que passa entre o Boqueirão da Mira, construída por Pereira, é uma obra de arte que está causando no círculo dos engenheiros sérios estudos devido à sua construção[1]. É ali que seu construtor vê o motivo para que sua estrada seja reconhecida.

Muito sólida, dá passagem diariamente às boiadas que descem pelas serras do Bom Jardim, aas tropas e aos cavaleiros.

Se conseguisse jogar a ponte ao fundo do ribeirão Pirapitinga que por ali passa apertadinha vinha não só desmoralizar Pereira, como arruiná-lo. Dessa forma não poderia, esperar como era seu desejo, serem indenizados pelo Governo da Província os seus vultosos gastos na construção de estradas e pontes.

Seria uma estúpida agressão ao infortunado bandeirante da terra ribeirinha.

E, numa noite, em dia e mês do ano de 1856, Belizário Mariano de Morais, o administrador de Santa Clara, acompanhado de Calixto, “Tira-Prosa” e muitos escravos da Fazenda, vão ao Boqueirão trazendo sua gente munida de serrotes, mandando cortar as travessas da ponte, deixando-as de forma que na passagem de qualquer peso, cairia no ribeirão.

No dia seguinte- o milagre- passa uma boiada e nada acontece. Pouco depois o madeirame descia pelas águas agitadas do ribeirão Pirapitinga.

A este respeito o “Correio Mercantil”, da Corte, na sua edição de 16 de maio de 1863, publica o seguinte:

A estrada do Boqueirão e a atrocidade inaudita”          

O “Jornal do Comércio” e “Correio Mercantil”, de 11 do corrente publicaram ambos nesse mesmo dia uma notícia de grande alcance a que deve se prestar a toda atenção. Diz a “Gazetilha”

-Escreve-nos de Minas – A 20 de Abril de noite, homens perversos dirigiram-se à ponte colocada na estrada do Boqueirão, ultimamente feita pelo Sr Manoel Pereira da Silva Júnior, e ali armaram uma terrível cilada aos pobres viandantes, boiadas e tropas; arrancados os corrimões e muitas taboas do assoalho lateral, cortaram à serra as travessas sobre as quais descansam  as linhas do  mesmo assoalho( o lateral), e as deixaram presas pela grossura uma polegada e tanto; o menos peso seria o bastante para levar ao abismo, passageiros e bagagens, mas a Providência Divina, passou logo uma boiada de sessenta rezes sem o menor perigo !

Fez-se o auto do corpo de delito, mas, talvez, nisso ficará!”.

O “Correio Mercantil"  coincidindo em dar a mesma notícia e um pequeno artigo, já deixava entrever melhor o fim a que se dirige a inocente publicação, acrescentando que os  moradores da vizinhança, correndo imediatamente a escorar a ponte, perguntaram entre si,  quem seria esse perverso, essa alma de tigre, esse assassino mesmo, que  cometeu semelhante fato?

E, a essas perguntas o boiadeiro que assinou o artigo respon­deu:

Segundo certo escritor quando se quizer conhecer o autor de um crime, procure — se antes de tudo saber a quem ele pode interes­sar.

Com  efeito,se  essa notícia, não for da meia noite, o atentado merece exemplar  castigo,e as mais mais rigorosas investigações para o descobrimento  de seu autor, muito mais havendo já o corpo de delito ; po­rém se começar apa­recer descontos á notícia, dá se o publico a custar a crer que os ser­radores pudessem de noite, as escuras, regu­lar a polegada de gros­sura que deixaram madeiras ou enfim se o negócio for algumas das costumadas invençoes para serem decantadas pela imprensa como fingi­da oposição à sua estra­da: então, meus senhores, botem, por hora, de quarentena a sua notícia porque o cansado roman­ce e fingimento de perseguições ou oposições já está tão gasto e tão calvo, que nem mesmo a tal polegada de gros­sura que a serra dei­xou as taboas, poderá tapar - lhe a calva; nes­se caso,aplicando a doutrina do  escritor do nosso boiadeiro, cada um de nós interrogará a si próprio:- Quem  será o miserável que tem o interesse em inventar tão ridículos embuste “.

"O Imparcial".

 

Manoel Pereira Júnior da Silva dirige ao Presidente da Província, o seguinte requerimento:

 

«Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Presidente da Província de Minas   Gerais.

Manoel Pereira d a  Silva Júnior empresário expontâneo da estrada de Bom Jardim decre­tada por lei Provincial nº. 839, de 14 de Julho de 1857, vem res­peitosamente requerer a V. Ex. que se digne no dar execução á Lei nº 1.167 de 8 de outubro de 1862, relativa á mes­ma estrada, visto como aproxima a reunião da Assembleia a que deve ser submetido o resul­tado do que dispõe a mesma lei afim de re­solver como julgar de interesse publico. E por­que os interesses do Suplicante se ligam a tal julgamento por isso,

P. a V. Ex. se dig­ne deferir com Justiça.

E. R. M. (a.) Manoel Pereira da Silva Júnior.Estava   colado   um selo   de $100 reis.

Teve esta   petição   o despacho seguinte :-

«Logo que hajam En­genheiros   disponíveis será atendido o, pedido do Suplicante. —Palácio do Governo da  Província de Minas Gerais, 30 de abril de 1863. Fernandes Torres.

Recebeu ainda Perei­ra a seguinte comuni­cação : «Palácio da Presidência da Província de Mi­nas Gerais,  1 de  abril de 1864 — 5ª. Secção. Declaro a Vmcê. em respostas aos  seus ofícios de 17 e 19 do mes  findo, que   n'esta   data oficiei   ao    Engenheiro Modesto  de Faria  Bello[2] para proceder ao necessário exame e   orçamento ,contrato  de conservação da estrada denominada de Bom Jardim,com quem melhores condições oferecer, contanto que que tal contrato vigore depois de aprovado  por esta Província a quem deve ser submetido.

Deus guarde a Vmcê.

(a)               Joaquim Fernandes Torres.



[1]A planta desta ponte foi oferecida ao Governo de Raul Soares, pelo atual prefeito farmacêutico Dermeval Moura de Almeida. Está arquivada na Secretaria de Agricultura.

O artigo publicado no “Correio Mercantil” de 16 de maio de 1863 faz referências à data da derrubada da Ponte do Boqueirão que é de 20 de Abril. (1863).

[2]O engenheiro Modesto Faria Bello, obteve do Governo Provincial, em 04 de Dezembro de 1840, concessão por 40 anos, para explorar estabelecimento balneo- terápico nas águas medicinais, no Município de Patrocínio.

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