Capítulo
VII
A
derrubada da Ponte do Boqueirão.
A ponte que
passa entre o Boqueirão da Mira, construída por Pereira, é uma obra de arte que
está causando no círculo dos engenheiros sérios estudos devido à sua construção[1]. É
ali que seu construtor vê o motivo para que sua estrada seja reconhecida.
Muito sólida,
dá passagem diariamente às boiadas que descem pelas serras do Bom Jardim, aas
tropas e aos cavaleiros.
Se conseguisse
jogar a ponte ao fundo do ribeirão Pirapitinga que por ali passa apertadinha
vinha não só desmoralizar Pereira, como arruiná-lo. Dessa forma não poderia,
esperar como era seu desejo, serem indenizados pelo Governo da Província os
seus vultosos gastos na construção de estradas e pontes.
Seria uma
estúpida agressão ao infortunado bandeirante da terra ribeirinha.
E, numa noite,
em dia e mês do ano de 1856, Belizário Mariano de Morais, o administrador de Santa
Clara, acompanhado de Calixto, “Tira-Prosa” e muitos escravos da Fazenda, vão
ao Boqueirão trazendo sua gente munida de serrotes, mandando cortar as
travessas da ponte, deixando-as de forma que na passagem de qualquer peso,
cairia no ribeirão.
No dia
seguinte- o milagre- passa uma boiada e nada acontece. Pouco depois o madeirame
descia pelas águas agitadas do ribeirão Pirapitinga.
A este respeito
o “Correio Mercantil”, da Corte, na sua edição de 16 de maio de 1863, publica o
seguinte:
“A estrada do Boqueirão e a atrocidade inaudita”
O
“Jornal do Comércio” e “Correio Mercantil”, de 11 do corrente publicaram ambos
nesse mesmo dia uma notícia de grande alcance a que deve se prestar a toda
atenção. Diz a “Gazetilha”
-Escreve-nos
de Minas – A 20 de Abril de noite, homens perversos dirigiram-se à ponte
colocada na estrada do Boqueirão, ultimamente feita pelo Sr Manoel Pereira da
Silva Júnior, e ali armaram uma terrível cilada aos pobres viandantes, boiadas
e tropas; arrancados os corrimões e muitas taboas do assoalho lateral, cortaram
à serra as travessas sobre as quais descansam
as linhas do mesmo assoalho( o
lateral), e as deixaram presas pela grossura uma polegada e tanto; o menos peso
seria o bastante para levar ao abismo, passageiros e bagagens, mas a
Providência Divina, passou logo uma boiada de sessenta rezes sem o menor perigo
!
Fez-se
o auto do corpo de delito, mas, talvez, nisso ficará!”.
E, a essas perguntas o boiadeiro que
assinou o artigo respondeu:
Segundo certo
escritor quando se quizer conhecer o autor de um crime, procure — se antes de
tudo saber a quem ele pode interessar.
Com
efeito,se essa notícia, não for
da meia noite, o atentado merece exemplar
castigo,e as mais mais rigorosas investigações para o descobrimento de seu autor, muito mais havendo já o corpo
de delito ; porém se começar aparecer descontos á notícia, dá se o publico a
custar a crer que os serradores pudessem de noite, as escuras, regular a
polegada de grossura que deixaram madeiras ou enfim se o negócio for algumas
das costumadas invençoes para serem decantadas pela imprensa como fingida
oposição à sua estrada: então, meus senhores, botem, por hora, de quarentena a
sua notícia porque o cansado romance e fingimento de perseguições ou oposições
já está tão gasto e tão calvo, que nem mesmo a tal polegada de grossura que a
serra deixou as taboas, poderá tapar - lhe a calva; nesse caso,aplicando a
doutrina do escritor do nosso boiadeiro,
cada um de nós interrogará a si próprio:- Quem
será o miserável que tem o interesse em inventar tão ridículos embuste “.
"O
Imparcial".
Manoel
Pereira Júnior da Silva dirige ao Presidente da Província, o seguinte
requerimento:
Manoel Pereira d a Silva Júnior empresário expontâneo da estrada
de Bom Jardim decretada por lei Provincial nº. 839, de 14 de
Julho de 1857, vem respeitosamente requerer a V.
Ex. que se digne no dar execução á Lei nº 1.167 de 8 de outubro de 1862,
relativa á mesma estrada, visto como aproxima a reunião da Assembleia a que
deve ser submetido o resultado do que dispõe a mesma lei afim de resolver
como julgar de interesse publico. E porque os interesses do Suplicante se
ligam a tal julgamento por isso,
P. a V.
Ex. se digne deferir com Justiça.
E. R. M. (a.) Manoel Pereira da Silva Júnior.Estava
colado um selo de $100 reis.
Teve esta
petição o despacho seguinte :-
«Logo que hajam Engenheiros disponíveis será atendido o, pedido do
Suplicante. —Palácio do Governo da
Província de Minas Gerais, 30 de abril de 1863. Fernandes Torres.
Recebeu ainda Pereira a seguinte comunicação
: «Palácio da Presidência da Província de Minas Gerais, 1 de
abril de 1864 — 5ª. Secção. Declaro a
Vmcê. em respostas aos seus ofícios de
17 e 19 do mes findo, que
n'esta data oficiei ao
Engenheiro Modesto de Faria Bello[2]
para proceder ao necessário exame e
orçamento ,contrato de conservação
da estrada denominada de Bom Jardim,com quem melhores condições oferecer,
contanto que que tal contrato vigore depois de aprovado por esta Província a quem deve ser submetido.
Deus guarde a Vmcê.
(a)
Joaquim Fernandes
Torres.
[1]A planta
desta ponte foi oferecida ao Governo de Raul Soares, pelo atual prefeito
farmacêutico Dermeval Moura de Almeida. Está arquivada na Secretaria de
Agricultura.
O artigo publicado no
“Correio Mercantil” de 16 de maio de 1863 faz referências à data da derrubada
da Ponte do Boqueirão que é de 20 de Abril. (1863).
[2]O engenheiro
Modesto Faria Bello, obteve do Governo Provincial, em 04 de Dezembro de 1840,
concessão por 40 anos, para explorar estabelecimento balneo- terápico nas águas
medicinais, no Município de Patrocínio.
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