fazenda santa clara ...Ouro, café e gado de João honorio de Paula motta

Apoio ao documentário Santa Clara...Clareai., lançado a 14 de Abril de 2018 em Santa Clara. Santa Rita de Jacutinga-MG

segunda-feira, 16 de maio de 2022

 

(...)A Estrada do Bom Jardim e o Menino Gabriel.(  não há no original).

 Acervo de Rodrigo Fortes

                  [...] Quando todos cuidaram que esta grande via de comunicação, a mais importante para os municípios de maior produção do sul de Minas, estaria livre e desassombrada da guerra que há seis anos lhe move o capricho de uma célebre; quando ninguém supunha que essa guerra reaparecesse em vista do fato incontestável de fazer-se por esta todo o trânsito que de outrora pelas estradas do Chora e Santa Rita de Jacutinga se fazia; quando finalmente, essa estrada e sua direção, ultimamente examinada por dois engenheiros distintos, foi por eles julgadas as de melhores condições não só para rodagem de primeira classe, como para uma via férrea de declividade nunca excedente a 1 ½ %; eis que aparece nas colunas do Correio Mercantil de 28 de março último, oculto como sempre, o menino que compõe a epígrafe deste artigo, dirigindo chalaças e delusões indiscretas, ou melhor, estúpidas, aos Srs. Engenheiros Aroeira e Manoel Pereira, pelo fato de haverem percorrido juntos as duas estradas que se disputam a preferência. Não refutaremos essas parvas alusões, porque elas se acham refutadas pelo contraste de caráter que há entre o agressor e os agredidos.

                 Escrevendo este artigo, só temos em vista informar o público da pertinácia com que se pretende ainda demorar a solução da mais célebre questão que nesse gênero tem aparecido, e que o mesmo público aguarda com interesse. Certo o mesmo Gabriel de que o engenheiro Aroeira não fora fascinado pelo melodiano canto das sereias bípedes, a quem fora por ele apresentado, com a mesma facilidade com que o Sr. Domonte se fascinara pelas sereias quadrúpedes, e nem tão pouco a riqueza e magnificência do palácio em que fora hospedado lhe haviam ofuscado a vista e transviado a razão para não distinguir o superior do péssimo, partiu imediatamente para o Rio de Janeiro para informar ao tio doutor desse raro e espantoso fenômeno!

                 Dias depois seguia ele a caminho de Ouro Preto munido de cartas de empenho para que o presidente de Minas não desse crédito às informações do engenheiro Aroeira, visto como, tinha ele feito os exames das estradas em questão em companhia de Manoel Pereira! Esquecia-se o menino que tinha ido debaixo de chuva, por caminho quase intransitável por causa da enchente do Rio Preto, encontrar o mesmo engenheiro, obsequiá-lo acompanhando-o no dia seguinte até a fazenda Santa Clara, onde pernoitaram sem que esse fato inspirasse o menor receio a ninguém, tanto a respeito do caráter do hospedante, como da honradez do hospedado.

                 Esquecia-se ainda que dias antes o Sr. Albergaria, encarregado pelo governo de examinar de passagem a questão, viajara com seu tio, que também o fora encontrar na vila do Rio Preto e recebera dele uma besta de sela; fora acompanhado de José Theodoro Rodrigues e Joaquim Pereira, percorrer parte da estrada do Boqueirão, sem que ninguém suspeitasse ou suspeite da honradez e caráter sério do Sr. Albergaria por ter recebido um mimo do Sr. Carlos Theodoro, fazer o exame acompanhado por dois homens capazes de prestar-se a ações e atos indignos. Continuemos. Além das cartas de empenho, o menino fora autorizado para oferecer gratuitamente ao governo a estrada que seu tio já havia oferecido na administração do Sr. Conselheiro Carneiro de Campos, e fora por ele aceita essa oferta mentirosa! Agora, porém, redobravam as condições vantajosas da oferta, cresciam os sacrifícios patrióticos e aumentaram rasgos de generosidade em favor do público e dos cofres provinciais! Que raro exemplo de patriotismo (digno de ser imitado) praticado repetidas vezes pelo homem que antes de aparecer a ideia desta estrada nunca os praticara para tornar o seu nome conhecido! Quem diria que a estrada do Bom Jardim havia despertar no coração de homens tão excêntricos o fogo de um entusiasmo tão patriótico a favor de melhoramentos de que tanto carecemos?! O que, porém, se não conforma com isso tudo é acharem-se duas pontes fechadas sobre o Rio Preto, sem que o público possa gozar dos excelentes caminhos, de que nos fala o menino em seu artigo, que atravessam as fazendas dos Srs. Fortes, que, segundo ele diz, sempre estiveram francos a todos! E os ferrolhos? Ah! É para que o público não vá dar uma volta sem conhecimento de causa! Está explicado! Muito bem! Continuemos. Além das cartas de empenho, repetição de ofertas gratuitas etc., o menino teve ordem expressa do tio para que dissesse a todas as pessoas com quem falasse o seguinte: - Manoel Pereira não possui um só vintém, vendeu tudo quanto possuía para pagamento de dívidas, está desgraçado! - Esta linguagem, como meio muito honesto e honroso do nosso herói para atravancar a estrada que o incomoda, não é nova, ela é irmã gêmea da mesma estrada, ou mais antiga por outros motivos mais sérios e graves.

                 Com efeito, o nosso menino como sempre, nunca se esqueceu da fórmula recomendada, a qual já tanto se acostumou, que repetia a um mesmo indivíduo três a quatro vezes para o tornar bem ciente dessa circunstância importante para a causa de seu tio. E nós que desejamos auxiliá-lo nessa tarefa nobre, assim como em todas dessa ordem, autorizados pelo Sr. Manoel Pereira, declaramos que talvez seja essa a única verdade de que ele se serve para o triunfo de sua causa; mas asseguramos-lhes também que ainda essa circunstância não atravancará a estrada do Bom Jardim, ela continuará a melhorar-se todos os dias, a conservar-se constantemente, muito embora produzam as cartas de empenho e a nova oferta o efeito desejado.

                 Desse modo fica dispensado o menino Gabriel de continuar com a sua árdua tarefa, porque, nós o repetimos: - Manoel Pereira não possui um só vintém, vendeu tudo quanto possuía para pagamento de credores; está desgraçado! Mas a estrada do Bom Jardim continua e continuará!

                 Duas palavras mais para descrever o menino Gabriel.

                 Este herói, para ser conhecido o caráter, basta vê-lo, ouvi-lo e cheirá-lo. Visto, é um alfaiate de Paris! Ouvido, é o símbolo do pedantismo! Cheirado, é um vidro de almíscar ou patchuli! Mas como nem todos o vêm, nem todos o ouvem e nem todos o cheiram, vamos cantá-lo em verso, porque em prosa está cantado.

                   I

Quando vires, leitor,

Menino magro e comprido

Trajando mui presumido,

Terás um certo doutor,

Formado para o amor.

Nunca para questões sérias,

Porque as suas misérias

Tornariam-se patentes

Desenganando as gentes

De seu saber em matérias.

                   II

Foi bonito, é bem-feito,

Corpinho bastante esguio,

Não se parece com o tio;

Espicha a perna, anda direito,

Em namorar é perfeito;

Promove suas conquistas,

Mostrando aparentes vistas

De no futuro casar-se

Com aquelas que enganar

Com promessas já previstas!

                   III

Com luvas pretas calçando

Vê-lo-ás a toda a hora,

Calça estas as tira fora,

Sempre de cor variando,

E os gaiatos zombando

Do boneco perfumado:

Ande eu bem enfeitado

À custa de meus parentes,

Diz ele mostrando os dentes,

Embora seja zombado.

                   IV

Meu solar é em Lisboa,

Diz ele sério falando,

Embora esteja eu andando

Por essa terra à toa

Eu tenho nome na história,

Desses feitos de glória

De minhas antepassadas,

De lauréolas coroadas

Por mais de uma vitória.

                   V

Circula em minhas veias

Régio sangue puro e nobre,

Muito embora eu seja pobre,

Tenho solar com ameias;

Estou livre das cadeias,

Castigo dos plebeus,

Muito embora sejam meus,

Desprezo essa canalha,

Oriundos de gentalha,

Vil raça de pigmeus.

                   VI

Gasto dinheiro a granel,

Disse mal, eu não sou pobre,

Por ordem do tio nobre

Que guerreia o Manoel,

Propago certo aranzel

Para chegar ao meu fim;

Todos acreditam sim

Não continuar a guerra,

Pois gastou tudo na terra

Da estrada do Bom Jardim.

                   VII

Petit maître singular

Serei da história moderna,

Enteso bem minha perna,

Contradanço, sei bailar,

Farto a todos de cheirar

As minhas perfumarias,

Que enjoam por muitos dias

Quem tiver de as aturar,

Dou-me em tudo a revelar,

Até nas minhas manias.

                   VIII

Aqui tens, caro leitor,

O retrato lindo e fiel

Do menino Gabriel

Apelidado doutor;

Sinto, porém, certa dor

Que, sendo ele togado,

Seja só advogado

No distrito da relação,

Que lhe negou permissão

De ser nunca magistrado!

                   IX

É mentira, ele dirá

Quando ler este jornal,

Sou juiz municipal

Por um régio alvará;

Bem caro me pagará

O poeta desprezível

Que, reduzindo-me ao nível

Da mais simples expressão,

Feriu o meu coração

Na fibra a mais sensível.

(ass.) Pois não! Que esperança!

Correio Mercantil – 28 de abril de 1862

 

Gabrieladas.

 

         Continuemos a cantar em verso o menino Gabriel; antes de tudo, porém, transcreveremos uma notícia que o correspondente de Portugal transmitiu ao Diário do Rio e que foi publicada no dia 23 de maio, que diz respeito a esse nosso inocente herói. Começa assim: “Os jornais do Porto dão conta de um desastre de que foi vítima, no convento das Ursulinas, uma menina de nove anos. A infeliz menina chamava-se Eliza Gabriel Ploesckelech Fortes de Bustamante, filha de um rico brasileiro chamado Gabriel Ploesckelech Fortes de Bustamante, que ainda há pouco concluíra na Universidade de Coimbra a sua formatura em Direito: essa infeliz menina morreu vítima do fogo, etc”. Que pena e que dor temos de não conhecer essa menina! Se a conhecêssemos, talvez tivéssemos prevenido essa lamentável desgraça, advertindo-lhe que se acautelasse do fogo, porque seu pai era um formidável e forte busca-pé, que por onde passava queimava, quando não chamuscava.

         Cantemos o desditoso e infeliz pai da infeliz Eliza.

I

Passo uma vida feliz

Devido a duas questões

Gasto dinheiro aos milhões,

Sem olhar para o que se diz.

Minha tia nunca quis

Em tais questões figurar,

E muito menos gastar

O dinheiro que seu esposo,

Levando vida sem gozo,

Custara tanto a ganhar.

II

Eu, porém, que sei falar

Linguagem mui sedutora,

Engano a pobre senhora

Para dinheiro me dar;

Rio-me do seu chorar

Quando ela diz, meu sobrinho

Poupa esse dinheirinho

Que tanto custou juntar,

À força de mal passar,

A teu tio, coitadinho.

III

Acredite, minha tia,

Seu conselho seguirei;

Jamais nunca gastaria

Com bazofia ou bizarria.

Nunca mais esqueceria

Essa lembrança da história

Que faz a nossa glória

O nome de Thereziano,

E o de José Floriano,

De mui saudosa memória.

IV

Sei da história desgraçada

Deste último, tio meu,

Que na indigência morreu,

Não herdando de nós nada;

A família malfadada

Sofre demais a opressão

Que contrista o coração

Do ente o menos sensível,

Mas é vontade invencível

Do tio Dr. Zangão.

V

Portanto não gastarei

Sem motivo justo e nobre

O dinheiro que ao pobre

Ele e não eu roubei

Brevemente voltarei

Desta viagem ligeira,

Darei conta verdadeira

À minha boa madrinha,

Que verá da conta minha

Não ter gasto em bandalheira.

VI

Sigo então para Minas

Com ricos pajens fardados,

Quase como eu perfumados,

A conquistar as meninas

A quem repito mofinas

Até fazê-las ceder;

E depois venho dizer:

Minha tia, mais dinheiro,

Que o remendão carpinteiro

Pretende a questão vencer.

VII

Que vergonha minha tia,

Se tal coisa acontecer!

Tio doutor há de morrer

De paixão no outro dia:

Quem tal coisa pensaria

Depois de trabalhos tantos

De festas feitas aos santos,

Presentes à Albergaria,

Eu sempre de romaria

Sofrendo trabalhos quantos!

VIII

Eis que a pobre velhinha,

Por tais razões convencida,

Restando-lhe pouca vida,

Preenche a vontade minha,

Lastimando coitadinha

Por acreditar em mim;

Digo não há coisa assim

Como as duas questões:

Os Fortes fracos ladrões,

E a estrada do Bom Jardim.

IX

Que trabalhos, minha tia,

Sofri eu, passando mal

No Supremo Tribunal

E Relação da Bahia!

De noite nunca dormia

Pensando nestas questões,

Procurava distrações

Com medo de enlouquecer,

Promovendo assim vencer

Os Fortes fracos ladrões.

X

Sinto, porém, um pesar

Que me oprime o coração,

É que, finda esta questão,

Nesta cena singular,

Onde hei representado

Com caráter de honrado

O mais brilhante papel,

Passando por bacharel

Na velha Coimbra formado.

XI

Sinto mais ser divulgado

Por um moderno jornal

Segredo que em Portugal

Eu deixei recomendado;

Quis a morte, quer o fado

Que eu seja muito infeliz,

Suportando o que se diz

De minhas vadiações

Lá na terra de Camões,

Onde estudar nunca quis.

XII

Morreu a pobre Elizinha

De uma desgraça fatal,

Podendo de Portugal

Vir um dia a ser rainha;

Bastava se filha minha,

Que tenho sangue real,

Fosse embora bem ou mal

Essa menina arranjada

Com fidalga ou criada,

Ninguém sabia de tal.

(ass.) – O Rodim Rio-Pretano

Correio Mercantil – 6 de junho de 1862

I

Desculpa leitor amigo

Esta minha versalhada,

Sem medida e mal rimada

Que é esta a regra que sigo,

Desde tempo mui antigo

Conheço certas questões

Que só em versos ratões

Devem hoje ser cantadas,

Hoje queremos estradas

E não fechados portões.

II

Derrubem-se os mandões

Ridicularizem-se os tais,

Que sem menos nem mais

Vedam públicas servidões;

Complicam as questões,

Tudo oferecem sem cumprir;

Não se fartam de mentir,

E o público a sofrer

Dando voltas de morrer

E há de calar e ouvir?! Não.

                                  (do autor)

Gabrieladas

I

A Câmara Municipal

Desta nossa pobre vila

Embirrou, tomou quizila,

De nossa estrada fatal;

Procura-lhe fazer mal

Votando indicações

Pra que se abram portões

Que nunca deram caminho,

A um célebre homenzinho

Que insulta nossos brasões.

II

Esse mal eu já previa

Na passada eleição

Por isso de coração

Pedi muito a minha tia,

A ver se ela gostaria

Para eu sair presidente

Da Câmara com a minha gente;

Mas ela não quis assim

E o ingrato Bom Jardim

Fez-me ficar suplente.

III

Dos honrados suplentes

Presidente fiquei sendo,

E tão duro osso roendo

Com meus prateados dentes;

Combinei com meus parentes

Anular tal eleição,

Incumbindo-se o Zangão

De trapacear e mentir,

Até o poder conseguir

Dos poderes da nação.

IV

Depois de muito esperar,

De dois anos ter passado,

Vai o conselho de estado

Dá-me um cheque de matar!

Apeou-me do lugar

Na ordem da votação,

Sustentando a eleição

Do ingrato Bom Jardim

Que não quis votar em mim

Por causa do Boqueirão.

V

Passar por tal decepção

Depois de tantos trabalhos,

Antes bater com dois malhos

Na cabeça do Zangão;

Cortar-lhe mesmo o ferrão

E por-lhe o corpo a tinir,

Já que não soube zumbir

Para produzir efeito;

Zumbir a torto e a direito,

Não presta para mentir.

VI

Triste foi a decisão,

Cruel o meu padecer;

Antes queria morrer

Na pessoa do Zangão.

Dar gostos ao remendão

E a roda municipal

Foi desgraça sem igual

Para mim e meus parentes,

Que passados e presentes

Lastimamos este mal.

VII

Que me resta? Paciência.

A custo mostrar os dentes,

Já que até dos suplentes

Tiraram-me a presidência!

Alegre na aparência,

Vingança no coração,

Esperar a eleição,

Vencer a ferro e a fogo,

Mostrando assim ao povo

Que fortes os Fortes são!

VIII

Que nos resta? Suportar

Ainda por mais dois anos

O capricho dos tiranos,

Dessa câmara popular

Que não cessa de embirrar

Contra a nossa pretensão

De acabar com o Boqueirão,

Cortando pontas e serras

Para defender as terras

Do tio Doutor Zangão.

IX

Continue, não importa

A Câmara a representar

Ao Governo sem parar,

Que tal estrada está morta;

Ou seja, direita ou torta

Essa por nós oferecida,

Ela será preferida

Pois temos muito dinheiro,

Não haverá engenheiro

Que contra nós se decida.

X

Mas se acaso algum turrão

Embirrar com a nossa estrada

Por não ter sido traçada

Com declive muito bom,

Responderemos então

Pela seguinte maneira

- A serra da Mantiqueira

Que nos opõe embaraços

Vai ceder a Fortes braços

Ainda que Deus não queira.

XI

Que! Atravessar uma estrada

Por meio de nossas terras

Perfurem-se montes e serras

Reduza-se tudo a nada;

Nossa justa pretensão

Entupir o Boqueirão.

Arrasando a Mantiqueira

É esperança lisonjeira

Do tio Dr. Zangão.

XII

Não olhemos a despesa

No custo de nossa estrada

Fique, pois, bem-acabada

Essa magna empresa;

Imite-se a natureza

Com um outro boqueirão,

Mas feito em tal direção

No atravessar a serra

Que não vá cortar a terra

Do tio Dr. Zangão.

XIII

Arrasar a Mantiqueira

Para passar nossa estrada,

Custará pouco ou nada,

Será mesmo outra ligeira;

Ainda sendo a primeira

Em gênero e construção,

Elegância e perfeição,

Que perpetue na história

Um tal feito de glória

Do tio Dr. Zangão.

XIV

Perfure-se essa montanha,

Conste da história dos fatos

Célebres como o do Athos,

Hum, de glória tamanha!

Não foi maior a façanha

Desse antigo guerreiro

Por ter sido o primeiro

Que citou a natureza (1)

Para ceder com presteza

A seu poder e dinheiro.

XV

Imitemos o guerreiro

Que intimou o monte Athos

Não impedisse os atos

Dos monarcas o primeiro,

Do contrário iria inteiro

Entupir o oceano

Por ordem do soberano,

Que não poderia sofrer

Resistisse a seu querer

O soberbo monte ufano.

XVI

Perfurar a Mantiqueira

Aos Fortes será possível,

Reduzi-la mesmo a nível

Ainda que Deus não queira!

Desmentir ao Aroeira

E sua informação

Acerca do Boqueirão,

É dos Fortes um dever,

Para o mundo conhecer

A sua forte razão.

 

XVII

Entupir o boqueirão

Arrasando a Mantiqueira

A picão e cavadeira

A cavadeira e picão

Foi lembrança do Zangão

Foi lembrança lisonjeira

Ainda que Deus não queira

Disse ele estando a tossir

Por força hei de conseguir

Arrasar a Mantiqueira.

(ass.) O Menino

 

 

(1) Xerxes tendo perdido grande parte do seu exército na passagem difícil do monte Athos, deu ordem para que fosse perfurado, escrevendo-lhe ao mesmo tempo uma carta que lhe dizia que não se opusesse a sua resolução, do contrário o mandaria lançar no oceano.

A resposta do monte a tal intimação não é conhecida; talvez agora se encontra nas entranhas da serra, que vai ser perfurada com o mesmo fundamento. Se assim acontecer, que achado para a história!

Correio Mercantil – 12 de outubro de 1862.

 

N.B. – Existe uma quantidade grande de artigos, choradas em versos e mofinas, referentes a esta questão desde 1856.

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

Antônio José de Freitas