(...)A Estrada do Bom Jardim e o Menino Gabriel.( não há no original).
Acervo de Rodrigo Fortes
[...] Quando todos cuidaram que esta grande via de comunicação, a mais importante para os municípios de maior produção do sul de Minas, estaria livre e desassombrada da guerra que há seis anos lhe move o capricho de uma célebre; quando ninguém supunha que essa guerra reaparecesse em vista do fato incontestável de fazer-se por esta todo o trânsito que de outrora pelas estradas do Chora e Santa Rita de Jacutinga se fazia; quando finalmente, essa estrada e sua direção, ultimamente examinada por dois engenheiros distintos, foi por eles julgadas as de melhores condições não só para rodagem de primeira classe, como para uma via férrea de declividade nunca excedente a 1 ½ %; eis que aparece nas colunas do Correio Mercantil de 28 de março último, oculto como sempre, o menino que compõe a epígrafe deste artigo, dirigindo chalaças e delusões indiscretas, ou melhor, estúpidas, aos Srs. Engenheiros Aroeira e Manoel Pereira, pelo fato de haverem percorrido juntos as duas estradas que se disputam a preferência. Não refutaremos essas parvas alusões, porque elas se acham refutadas pelo contraste de caráter que há entre o agressor e os agredidos.
Escrevendo
este artigo, só temos em vista informar o público da pertinácia com que se
pretende ainda demorar a solução da mais célebre questão que nesse gênero tem
aparecido, e que o mesmo público aguarda com interesse. Certo o mesmo Gabriel
de que o engenheiro Aroeira não fora fascinado pelo melodiano canto das sereias
bípedes, a quem fora por ele apresentado, com a mesma facilidade com que o Sr.
Domonte se fascinara pelas sereias quadrúpedes, e nem tão pouco a riqueza e
magnificência do palácio em que fora hospedado lhe haviam ofuscado a vista e
transviado a razão para não distinguir o superior do péssimo, partiu
imediatamente para o Rio de Janeiro para informar ao tio doutor desse raro e
espantoso fenômeno!
Dias
depois seguia ele a caminho de Ouro Preto munido de cartas de empenho para que
o presidente de Minas não desse crédito às informações do engenheiro Aroeira,
visto como, tinha ele feito os exames das estradas em questão em companhia de
Manoel Pereira! Esquecia-se o menino que tinha ido debaixo de chuva, por
caminho quase intransitável por causa da enchente do Rio Preto, encontrar o
mesmo engenheiro, obsequiá-lo acompanhando-o no dia seguinte até a fazenda
Santa Clara, onde pernoitaram sem que esse fato inspirasse o menor receio a
ninguém, tanto a respeito do caráter do hospedante, como da honradez do
hospedado.
Esquecia-se
ainda que dias antes o Sr. Albergaria, encarregado pelo governo de examinar de
passagem a questão, viajara com seu tio, que também o fora encontrar na vila do
Rio Preto e recebera dele uma besta de sela; fora acompanhado de José Theodoro
Rodrigues e Joaquim Pereira, percorrer parte da estrada do Boqueirão, sem que
ninguém suspeitasse ou suspeite da honradez e caráter sério do Sr. Albergaria
por ter recebido um mimo do Sr. Carlos Theodoro, fazer o exame acompanhado por
dois homens capazes de prestar-se a ações e atos indignos. Continuemos. Além
das cartas de empenho, o menino fora autorizado para oferecer gratuitamente ao
governo a estrada que seu tio já havia oferecido na administração do Sr.
Conselheiro Carneiro de Campos, e fora por ele aceita essa oferta mentirosa!
Agora, porém, redobravam as condições vantajosas da oferta, cresciam os
sacrifícios patrióticos e aumentaram rasgos de generosidade em favor do público
e dos cofres provinciais! Que raro exemplo de patriotismo (digno de ser
imitado) praticado repetidas vezes pelo homem que antes de aparecer a ideia
desta estrada nunca os praticara para tornar o seu nome conhecido! Quem diria
que a estrada do Bom Jardim havia despertar no coração de homens tão excêntricos
o fogo de um entusiasmo tão patriótico a favor de melhoramentos de que tanto
carecemos?! O que, porém, se não conforma com isso tudo é acharem-se duas
pontes fechadas sobre o Rio Preto, sem que o público possa gozar dos excelentes
caminhos, de que nos fala o menino em seu artigo, que atravessam as fazendas
dos Srs. Fortes, que, segundo ele diz, sempre estiveram francos a todos! E os
ferrolhos? Ah! É para que o público não vá dar uma volta sem conhecimento de
causa! Está explicado! Muito bem! Continuemos. Além das cartas de empenho,
repetição de ofertas gratuitas etc., o menino teve ordem expressa do tio para
que dissesse a todas as pessoas com quem falasse o seguinte: - Manoel Pereira
não possui um só vintém, vendeu tudo quanto possuía para pagamento de dívidas,
está desgraçado! - Esta linguagem, como meio muito honesto e honroso do nosso
herói para atravancar a estrada que o incomoda, não é nova, ela é irmã gêmea da
mesma estrada, ou mais antiga por outros motivos mais sérios e graves.
Com
efeito, o nosso menino como sempre, nunca se esqueceu da fórmula recomendada, a
qual já tanto se acostumou, que repetia a um mesmo indivíduo três a quatro
vezes para o tornar bem ciente dessa circunstância importante para a causa de
seu tio. E nós que desejamos auxiliá-lo nessa tarefa nobre, assim como em todas
dessa ordem, autorizados pelo Sr. Manoel Pereira, declaramos que talvez seja
essa a única verdade de que ele se serve para o triunfo de sua causa; mas asseguramos-lhes
também que ainda essa circunstância não atravancará a estrada do Bom Jardim,
ela continuará a melhorar-se todos os dias, a conservar-se constantemente,
muito embora produzam as cartas de empenho e a nova oferta o efeito desejado.
Desse
modo fica dispensado o menino Gabriel de continuar com a sua árdua tarefa,
porque, nós o repetimos: - Manoel Pereira não possui um só vintém, vendeu tudo
quanto possuía para pagamento de credores; está desgraçado! Mas a estrada do
Bom Jardim continua e continuará!
Duas
palavras mais para descrever o menino Gabriel.
Este
herói, para ser conhecido o caráter, basta vê-lo, ouvi-lo e cheirá-lo. Visto, é
um alfaiate de Paris! Ouvido, é o símbolo do pedantismo! Cheirado, é um vidro
de almíscar ou patchuli! Mas como nem todos o vêm, nem todos o ouvem e nem
todos o cheiram, vamos cantá-lo em verso, porque em prosa está cantado.
I
Quando vires,
leitor,
Menino magro
e comprido
Trajando mui
presumido,
Terás um
certo doutor,
Formado para
o amor.
Nunca para
questões sérias,
Porque as
suas misérias
Tornariam-se patentes
Desenganando
as gentes
De seu saber
em matérias.
II
Foi bonito, é
bem-feito,
Corpinho
bastante esguio,
Não se parece
com o tio;
Espicha a
perna, anda direito,
Em namorar é
perfeito;
Promove suas
conquistas,
Mostrando
aparentes vistas
De no futuro casar-se
Com aquelas
que enganar
Com promessas
já previstas!
III
Com luvas
pretas calçando
Vê-lo-ás a
toda a hora,
Calça estas
as tira fora,
Sempre de cor
variando,
E os gaiatos
zombando
Do boneco
perfumado:
Ande eu bem
enfeitado
À custa de
meus parentes,
Diz ele
mostrando os dentes,
Embora seja
zombado.
IV
Meu solar é
em Lisboa,
Diz ele sério
falando,
Embora esteja
eu andando
Por essa
terra à toa
Eu tenho nome
na história,
Desses feitos
de glória
De minhas
antepassadas,
De lauréolas
coroadas
Por mais de
uma vitória.
V
Circula em
minhas veias
Régio sangue
puro e nobre,
Muito embora
eu seja pobre,
Tenho solar
com ameias;
Estou livre
das cadeias,
Castigo dos
plebeus,
Muito embora
sejam meus,
Desprezo essa
canalha,
Oriundos de
gentalha,
Vil raça de
pigmeus.
VI
Gasto
dinheiro a granel,
Disse mal, eu
não sou pobre,
Por ordem do
tio nobre
Que guerreia
o Manoel,
Propago certo
aranzel
Para chegar
ao meu fim;
Todos
acreditam sim
Não continuar
a guerra,
Pois gastou
tudo na terra
Da estrada do
Bom Jardim.
VII
Petit maître
singular
Serei da
história moderna,
Enteso bem
minha perna,
Contradanço,
sei bailar,
Farto a todos
de cheirar
As minhas
perfumarias,
Que enjoam
por muitos dias
Quem tiver de
as aturar,
Dou-me em
tudo a revelar,
Até nas minhas
manias.
VIII
Aqui tens,
caro leitor,
O retrato
lindo e fiel
Do menino
Gabriel
Apelidado
doutor;
Sinto, porém,
certa dor
Que, sendo
ele togado,
Seja só
advogado
No distrito
da relação,
Que lhe negou
permissão
De ser nunca
magistrado!
IX
É mentira,
ele dirá
Quando ler
este jornal,
Sou juiz
municipal
Por um régio
alvará;
Bem caro me
pagará
O poeta
desprezível
Que,
reduzindo-me ao nível
Da mais
simples expressão,
Feriu o meu
coração
Na fibra a
mais sensível.
(ass.) Pois
não! Que esperança!
Correio
Mercantil – 28 de abril de 1862
Gabrieladas.
Continuemos a cantar em verso o menino
Gabriel; antes de tudo, porém, transcreveremos uma notícia que o correspondente
de Portugal transmitiu ao Diário do Rio e que foi publicada no dia 23 de maio,
que diz respeito a esse nosso inocente herói. Começa assim: “Os jornais do
Porto dão conta de um desastre de que foi vítima, no convento das Ursulinas,
uma menina de nove anos. A infeliz menina chamava-se Eliza Gabriel Ploesckelech
Fortes de Bustamante, filha de um rico brasileiro chamado Gabriel Ploesckelech
Fortes de Bustamante, que ainda há pouco concluíra na Universidade de Coimbra a
sua formatura em Direito: essa infeliz menina morreu vítima do fogo, etc”. Que
pena e que dor temos de não conhecer essa menina! Se a conhecêssemos, talvez
tivéssemos prevenido essa lamentável desgraça, advertindo-lhe que se
acautelasse do fogo, porque seu pai era um formidável e forte busca-pé, que por
onde passava queimava, quando não chamuscava.
Cantemos
o desditoso e infeliz pai da infeliz Eliza.
I
Passo uma
vida feliz
Devido a duas
questões
Gasto
dinheiro aos milhões,
Sem olhar
para o que se diz.
Minha tia
nunca quis
Em tais
questões figurar,
E muito menos
gastar
O dinheiro
que seu esposo,
Levando vida
sem gozo,
Custara tanto
a ganhar.
II
Eu, porém,
que sei falar
Linguagem mui
sedutora,
Engano a
pobre senhora
Para dinheiro
me dar;
Rio-me do seu
chorar
Quando ela
diz, meu sobrinho
Poupa esse
dinheirinho
Que tanto
custou juntar,
À força de
mal passar,
A teu tio,
coitadinho.
III
Acredite,
minha tia,
Seu conselho
seguirei;
Jamais nunca
gastaria
Com bazofia
ou bizarria.
Nunca mais
esqueceria
Essa
lembrança da história
Que faz a
nossa glória
O nome de
Thereziano,
E o de José
Floriano,
De mui
saudosa memória.
IV
Sei da história
desgraçada
Deste último,
tio meu,
Que na
indigência morreu,
Não herdando
de nós nada;
A família
malfadada
Sofre demais
a opressão
Que contrista
o coração
Do ente o
menos sensível,
Mas é vontade
invencível
Do tio Dr.
Zangão.
V
Portanto não
gastarei
Sem motivo
justo e nobre
O dinheiro
que ao pobre
Ele e não eu
roubei
Brevemente
voltarei
Desta viagem
ligeira,
Darei conta
verdadeira
À minha boa
madrinha,
Que verá da
conta minha
Não ter gasto
em bandalheira.
VI
Sigo então
para Minas
Com ricos pajens
fardados,
Quase como eu
perfumados,
A conquistar
as meninas
A quem repito
mofinas
Até fazê-las
ceder;
E depois
venho dizer:
Minha tia,
mais dinheiro,
Que o
remendão carpinteiro
Pretende a
questão vencer.
VII
Que vergonha
minha tia,
Se tal coisa
acontecer!
Tio doutor há
de morrer
De paixão no
outro dia:
Quem tal
coisa pensaria
Depois de
trabalhos tantos
De festas
feitas aos santos,
Presentes à
Albergaria,
Eu sempre de
romaria
Sofrendo
trabalhos quantos!
VIII
Eis que a
pobre velhinha,
Por tais
razões convencida,
Restando-lhe
pouca vida,
Preenche a
vontade minha,
Lastimando
coitadinha
Por acreditar
em mim;
Digo não há
coisa assim
Como as duas
questões:
Os Fortes
fracos ladrões,
E a estrada
do Bom Jardim.
IX
Que
trabalhos, minha tia,
Sofri eu, passando
mal
No Supremo
Tribunal
E Relação da
Bahia!
De noite
nunca dormia
Pensando
nestas questões,
Procurava
distrações
Com medo de
enlouquecer,
Promovendo
assim vencer
Os Fortes
fracos ladrões.
X
Sinto, porém,
um pesar
Que me oprime
o coração,
É que, finda
esta questão,
Nesta cena
singular,
Onde hei
representado
Com caráter
de honrado
O mais
brilhante papel,
Passando por
bacharel
Na velha
Coimbra formado.
XI
Sinto mais
ser divulgado
Por um
moderno jornal
Segredo que
em Portugal
Eu deixei recomendado;
Quis a morte,
quer o fado
Que eu seja
muito infeliz,
Suportando o
que se diz
De minhas
vadiações
Lá na terra
de Camões,
Onde estudar
nunca quis.
XII
Morreu a
pobre Elizinha
De uma
desgraça fatal,
Podendo de
Portugal
Vir um dia a
ser rainha;
Bastava se
filha minha,
Que tenho
sangue real,
Fosse embora
bem ou mal
Essa menina
arranjada
Com fidalga
ou criada,
Ninguém sabia
de tal.
(ass.) – O
Rodim Rio-Pretano
Correio
Mercantil – 6 de junho de 1862
I
Desculpa
leitor amigo
Esta minha
versalhada,
Sem medida e
mal rimada
Que é esta a
regra que sigo,
Desde tempo
mui antigo
Conheço
certas questões
Que só em
versos ratões
Devem hoje
ser cantadas,
Hoje queremos
estradas
E não
fechados portões.
II
Derrubem-se
os mandões
Ridicularizem-se
os tais,
Que sem menos
nem mais
Vedam
públicas servidões;
Complicam as
questões,
Tudo oferecem
sem cumprir;
Não se fartam
de mentir,
E o público a
sofrer
Dando voltas
de morrer
E há de calar
e ouvir?! Não.
(do autor)
Gabrieladas
I
A Câmara
Municipal
Desta nossa
pobre vila
Embirrou,
tomou quizila,
De nossa
estrada fatal;
Procura-lhe
fazer mal
Votando
indicações
Pra que se
abram portões
Que nunca
deram caminho,
A um célebre
homenzinho
Que insulta
nossos brasões.
II
Esse mal eu
já previa
Na passada
eleição
Por isso de coração
Pedi muito a
minha tia,
A ver se ela
gostaria
Para eu sair
presidente
Da Câmara com
a minha gente;
Mas ela não
quis assim
E o ingrato
Bom Jardim
Fez-me ficar
suplente.
III
Dos honrados
suplentes
Presidente
fiquei sendo,
E tão duro
osso roendo
Com meus
prateados dentes;
Combinei com
meus parentes
Anular tal
eleição,
Incumbindo-se
o Zangão
De trapacear
e mentir,
Até o poder
conseguir
Dos poderes
da nação.
IV
Depois de
muito esperar,
De dois anos
ter passado,
Vai o
conselho de estado
Dá-me um cheque
de matar!
Apeou-me do
lugar
Na ordem da
votação,
Sustentando a
eleição
Do ingrato
Bom Jardim
Que não quis
votar em mim
Por causa do
Boqueirão.
V
Passar por
tal decepção
Depois de
tantos trabalhos,
Antes bater
com dois malhos
Na cabeça do
Zangão;
Cortar-lhe
mesmo o ferrão
E por-lhe o
corpo a tinir,
Já que não
soube zumbir
Para produzir
efeito;
Zumbir a
torto e a direito,
Não presta
para mentir.
VI
Triste foi a
decisão,
Cruel o meu
padecer;
Antes queria
morrer
Na pessoa do
Zangão.
Dar gostos ao
remendão
E a roda
municipal
Foi desgraça
sem igual
Para mim e
meus parentes,
Que passados
e presentes
Lastimamos
este mal.
VII
Que me resta?
Paciência.
A custo
mostrar os dentes,
Já que até
dos suplentes
Tiraram-me a
presidência!
Alegre na
aparência,
Vingança no
coração,
Esperar a
eleição,
Vencer a
ferro e a fogo,
Mostrando
assim ao povo
Que fortes os
Fortes são!
VIII
Que nos
resta? Suportar
Ainda por
mais dois anos
O capricho
dos tiranos,
Dessa câmara
popular
Que não cessa
de embirrar
Contra a
nossa pretensão
De acabar com
o Boqueirão,
Cortando
pontas e serras
Para defender
as terras
Do tio Doutor
Zangão.
IX
Continue, não
importa
A Câmara a
representar
Ao Governo
sem parar,
Que tal
estrada está morta;
Ou seja,
direita ou torta
Essa por nós oferecida,
Ela será
preferida
Pois temos
muito dinheiro,
Não haverá
engenheiro
Que contra
nós se decida.
X
Mas se acaso
algum turrão
Embirrar com
a nossa estrada
Por não ter
sido traçada
Com declive
muito bom,
Responderemos
então
Pela seguinte
maneira
- A serra da
Mantiqueira
Que nos opõe
embaraços
Vai ceder a
Fortes braços
Ainda que
Deus não queira.
XI
Que!
Atravessar uma estrada
Por meio de
nossas terras
Perfurem-se
montes e serras
Reduza-se
tudo a nada;
Nossa justa
pretensão
Entupir o Boqueirão.
Arrasando a
Mantiqueira
É esperança
lisonjeira
Do tio Dr.
Zangão.
XII
Não olhemos a
despesa
No custo de
nossa estrada
Fique, pois, bem-acabada
Essa magna
empresa;
Imite-se a
natureza
Com um outro
boqueirão,
Mas feito em
tal direção
No atravessar
a serra
Que não vá
cortar a terra
Do tio Dr.
Zangão.
XIII
Arrasar a
Mantiqueira
Para passar
nossa estrada,
Custará pouco
ou nada,
Será mesmo
outra ligeira;
Ainda sendo a
primeira
Em gênero e
construção,
Elegância e
perfeição,
Que perpetue
na história
Um tal feito
de glória
Do tio Dr.
Zangão.
XIV
Perfure-se
essa montanha,
Conste da
história dos fatos
Célebres como
o do Athos,
Hum, de
glória tamanha!
Não foi maior
a façanha
Desse antigo
guerreiro
Por ter sido
o primeiro
Que citou a
natureza (1)
Para ceder
com presteza
A seu poder e
dinheiro.
XV
Imitemos o
guerreiro
Que intimou o
monte Athos
Não impedisse
os atos
Dos monarcas
o primeiro,
Do contrário
iria inteiro
Entupir o
oceano
Por ordem do
soberano,
Que não
poderia sofrer
Resistisse a
seu querer
O soberbo
monte ufano.
XVI
Perfurar a
Mantiqueira
Aos Fortes
será possível,
Reduzi-la
mesmo a nível
Ainda que
Deus não queira!
Desmentir ao
Aroeira
E sua
informação
Acerca do
Boqueirão,
É dos Fortes
um dever,
Para o mundo
conhecer
A sua forte razão.
XVII
Entupir o
boqueirão
Arrasando a
Mantiqueira
A picão e
cavadeira
A cavadeira e
picão
Foi lembrança
do Zangão
Foi lembrança
lisonjeira
Ainda que
Deus não queira
Disse ele
estando a tossir
Por força hei
de conseguir
Arrasar a
Mantiqueira.
(ass.) O
Menino
(1) Xerxes tendo perdido grande parte do seu exército na passagem
difícil do monte Athos, deu ordem para que fosse perfurado, escrevendo-lhe ao
mesmo tempo uma carta que lhe dizia que não se opusesse a sua resolução, do
contrário o mandaria lançar no oceano.
A resposta do monte a tal intimação não é conhecida; talvez agora se
encontra nas entranhas da serra, que vai ser perfurada com o mesmo fundamento.
Se assim acontecer, que achado para a história!
Correio Mercantil – 12 de outubro de 1862.
N.B. – Existe
uma quantidade grande de artigos, choradas em versos e mofinas, referentes a esta
questão desde 1856.
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
Antônio José de Freitas