fazenda santa clara ...Ouro, café e gado de João honorio de Paula motta

Apoio ao documentário Santa Clara...Clareai., lançado a 14 de Abril de 2018 em Santa Clara. Santa Rita de Jacutinga-MG

segunda-feira, 29 de maio de 2023

 

Capítulo VI

Algozes.

 

Aparecem nesta zona, alarmando a Vila do Rio Preto, as freguesias de Santa Rita de Jacutinga, Santa Isabel do Rio Preto e São Joaquim da Barra Mansa, cujas populações são pacatas e ordeiras dois indivíduos que se intitulam valentões.

O primeiro deles, o mais perigoso, chamava-se Quintino de Lima Sampaio, nasceu em 1827, na localidade fluminense de Angra dos Reis, e diz-se natural de Campinas, na Província de São Paulo . Cchegou aqui como feitor da fazenda de Pirapitinga, por recomendação do dr. Gabriel, e agora este o tem sempre a seu lado.

Seus antecedentes são péssimos.

Achando-se preso por crime de resistência  no Quartel do 1º Regimento da Cavalaria Ligeira da Corte, onde era ferrador, evadiu-se a 09 de Abril de 1859.

A fim de lograr a polícia, assina Manoel Joaquim da Silva.

Devido à sua arrogância de valentão, é conhecido nesses meios por “Tira-Prosa”.

É uma dessas almas criadas para o crime

Homem de maneiras rudes, grosseiros e descabidas, desagrada a toda gente, tratando os demais com aspereza.

Foi contratado, antes de aparecerem nas fazendas do vale do rio Preto, pelo tenente Vicente Lopes, fazendeiro na Freguesia de Santa Isabel do Rio Preto, para vingar de inimigos de sua pessoa.

Está no número de seus inimigos, o seu próprio irmão Antônio Lopes e João Baptista dos Santos, o sapateiro da freguesia, que quase foi morto no terreiro da fazenda de Vicente Lopes, por “Tira-Prosa” e quarenta escravos, fato este que é ainda muito comentado em Santa Isabel.

Fernando Ferraz e seu irmão Antônio Ferraz moravam na fazenda “Dois Irmãos” (fazenda de São Mathias), uma légua mais ou menos de distância da fazenda Pirapitinga.

         Fernando Ferraz e Antônio Ferraz, dois portugueses que deixaram as suas vinhas na quinta província do Minho, vieram tentar fortuna no Brasil, fundando num dos ângulos do vale do rio Preto, a família Ferraz, hoje portadora de tantos títulos, pelos homens que descenderam desses troncos.

“...Antônio Ferraz veio para o Brasil ainda criança, filho de Vitorino Antônio Ferraz de Araujo e Mathildes Inácia Francisca do Espírito Santo de Araújo. Naturais da vila de Valença do Minho, em Portugal. Fernando, irmão de Antônio, acompanhou-o ao Brasil, com o mesmo intuito: o de ganhar a vida em plagas brasileiras, tão irmãs daquelas que se estendem além do Atlântico...”

Esses dois irmãos, depois de longos anos de trabalho honesto e produtivo conseguiram um mealheiro e adquiriu a fazenda denominada São Mathias, sendo, então, conhecida por fazenda “Dois Irmãos”. Como dito anteriormente, sita a uma légua mais ou menos, de distância da fazenda Pirapitinga.

Inimizaram-se, devido às artimanhas de “Tira-Prosa”, que usufruía proveitos pecuniários de ambos. Um dia, chegou e matou todos os cachorros, quase todos de estimação de Fernando, dizendo que foi a mando de Antônio.

Em consequência desse fato que veio a separar os dois irmãos, por uma inimizade criada por Quintino, Antônio Ferraz separou a velha sociedade que tinha com seu irmão. Antônio Ferraz era casado com uma filha de Dona Eleuthéria Claudina Fortes, a filha do segundo guarda-mor do Registro de Rio Preto, Francisco Dionísio Fortes de Bustamante.

            Inimizaram-se por ter “Tira-Prosa” matado os cachorros de Fernando Ferraz, tendo como consequência a transferência de Antônio para a fazenda de Pirapitinga.

 

Vestígios da fazenda São Matheus. Hoje, fazenda Santa Rita. FHOAA 2010.

Já em Santa Rita de Jacutinga “Tira-Prosa” é um homem que só em referir seu nome provoca pânico, pois esperou, na estrada do Passa Vinte, em um morro perto da casa de José Theodoro, seu desafeto José Vilela de Souza Meirelles que não caiu morto sob as punhaladas de seu terrível adversário, por ter galopado o animal.

Matou um homem em São João Marcos, na província do Rio de Janeiro, a mando de outros, cujo crime ficou impune.

Outro indivíduo que com “Tira-Prosa”, faz a dupla macabra é Calixto Marques da Silva, natural da vila de Tamanduá (Itapecerica), desta Província.

Reside na Freguesia de Conservatória, há oito para nove anos. O seu serviço é no trabalho de machado e serras. Doma, também, burros bravios.

Portador de um sangue frio que põe os criminosos na classificação dos desnaturados que pedem o socorro duma intervenção psicopata.

 Apenso nº 03 da província- Regimento de Cavalaria Ligeira- Nº01- Nota dos anais do ferrador abaixo declarado, que se evadiu deste Quartel, a 09 de abril de 1859, achando-se preso para sentenciar. Nº 53= Ferrador=Quintino de Lima Sampaio, filho de Manoel Caetano de Lima, natural de Angra dos Reis, nasceu em 1827= altura 62 e 1 /2polegadas, cabelos pretos, olhos pardos, ofício =ferrador, estando solteiro. Quartel em 03 de Maio de 1862. Francisco Joaquim Pinto Pereira = Major Graduado Comandante interino. Conforme o Secretário de Polícia- Leopoldo Henriques Coutinho.

 

           Tanto “Tira- Prosa” como Calixto vivem nas fazendas dos Fortes, sem emprego. Acompanha-os em suas viagens à Corte e à São João Del Rei.                                                        

 

 

 

O vigário da Freguesia de Santa Isabel do Rio Preto é ardoroso Pereirista. Até no púlpito pede pela felicidade de Pereira. Pela sua fala fluente, põe seus paroquianos a par de todos os acontecimentos que envolvem a causa de Pereira. É ele, o padre Custódio Gomes Carneiro.

E, por isso, os fazendeiros João Batista Rathman, Vicente Lopes, seus filhos e sobrinhos, Manoel Martins de Almeida e José de Castro Lima, fazem uma caixa de oito contos de réis para sustentar capangas a fim de retirá-lo da Freguesia, e, com ele outras pessoas que não eram do agrado dos Fortes, que, até ali, estendem-se seus domínios.

Entre os capangas estavam Manoel Joaquim ou Quintino Sampaio, vulgo “Tira-Prosa” e Calixto.

 

 

Já em Barbacena é público e notório que os Fortes querem matar Pereira.

Os que acompanham sua ação pertinaz e martirizante exclamam:

_É o único recurso dos Fortes vencerem Pereira, pois por meio de Leis do Império, nada conseguirão.

 

                                          Capítulo VII

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