fazenda santa clara ...Ouro, café e gado de João honorio de Paula motta

Apoio ao documentário Santa Clara...Clareai., lançado a 14 de Abril de 2018 em Santa Clara. Santa Rita de Jacutinga-MG

sábado, 14 de maio de 2022

 Salão da casa de Eleutheria.


 Casa de Manoel Pereira- PIRAPITINGA.  Pertence hoje à Família Meireles.

Acervo da família de  Gabriel Machado.


 Crime de Manoel da Silva Pereira Junior por José Marinho de Araujo. 1938



 


 Crime de Manoel da Silva Pereira Junior por José Marinho de Araujo. 1938



 

Crime de Manoel da Silva Pereira Junior por José Marinho de Araujo. 1938


 Crime de Manoel da Silva Pereira Junior por José Marinho de Araujo. 1938




 Crime de Manoel da Silva Pereira Junior por José Marinho de Araujo. 1938


 Crime  de Manoel da Silva Pereira Junior por José Marinho de Araujo. 1938


        


Bibliografia


   



1-Processo crime original em que foram autora Dona Ignácia Maria da Silva Pereira e réus. Dr. Gabriel Ploisquellec Fortes Bustamante e outros. 



2-Dicionário Geográfico- Dr. Moreira Pinto. Imprensa Oficial Rio de Janeiro 1889. 



3-"Eu Sei Tudo" - 15º ano- nº10 "Os Índios Boroenos e Coroados". 



4-"Anuário Estatísticos do Estado de Minas Gerais"1929. 



5-“O malho” de 8-3-1934-nºXXII, Artigo Tipo e Curiosi-dades do Rio, no tempo do Império. 



6-"Correio Mercantil” Diversos números. 









CRIME DA CAVA GRANDE... MANOEL DA SILVA PEREIRA JUNIOR. CRIME DE MANOEL PEREIRA.JOSÉ MARINHO DE ARAUJO 1938.







Fattinechi 1875 ( disponível na Internet).













Preâmbulo





  Os acontecimentos que vão desenrolar-se na leitura deste trabalho, a ficção de romance, constituem, sobremodo, uma história pungente, onde surgem vultos portadores de títulos fidalgais que prevalecem das posições para humilhar aqueles que porventura procuram contrariá-los. É uma historia escoimada de ficção, cor com que os autores tingem as suas obras mudando-as de aspecto. Ela é a expressão forte da verdade, bebida em documentos de valor.

A prepotência de uma família poderosa que domina rincões da terra brasileira é afinal destruída pela morte de um homem que sem força, a princípio, consegue cercar-se de uns cem números de elementos de escol para, depois de morto, conseguir o brilho de esplendores sonhados.

Esses acontecimentos desenvolvem-se numa ocasião em que dois partidos- Conservador e Liberal- em renhida luta, dividem a alma do povo da Vila de Rio Preto, ainda nos albores de sua vida autônoma, pois não fazem ainda três anos que a Vila foi restabelecida, com a ascensão dos Conservadores. Esses que são agora senhores da situação, com um prestígio forte diante dos Governos da província e do Império, desfrutam todas as posições de mando, enquanto noutras esferas, os Liberais digladiam suas armas disseminadas e enraizadas pelo Império, a fim de reconquistarem as posições perdidas há bem pouco.

Ao sabor das injunções políticas, Rio Preto tem atravessado fases diversas de sua vida administrativa. Os Conservadores conseguiriam a elevação da localidade à Paróquia pela Resolução de 14 de julho de 1832; a Vila pela Lei Provincial número 271, de 15 de abril de 1844.

Com sua derrota, foi a Vila suprimida pela Lei número 665, de 27 de abril  de 1854. 

Novamente restaurada pela Lei número 835, de 11 de Julho de 1857, com a reconquista das posições perdidas pelos Conservadores.

-Os Conservadores conseguiriam a elevação da localidade à Paróquia pela Resolução de 14 de julho de 1832;

- à Vila, pela Lei Provincial número 271, de 15 de Abril de 1844.

- Com sua derrota, foi a Vila suprimida pela Lei número 665, de 27 de abril  de 1854. Novamente restaurada pela Lei número 835, de 11 de julho de 1857, com a reconquista das posições perdidas pelos Conservadores.

Esses conhecendo que sua queda eminente se avizinhava procuravam suprimir a Vila. Os Liberais, sem forças, pois tinham um raio de ação muito restrito, não conseguiram a sua instalação, constituindo-se assim, uma primazia dos Conservadores, que, com sua ascensão, aos altos postos do Governo Imperial, procuravam a instalação da Vila.

Assim, na móvel Vila de Rio Preto, que conta com poucos anos de vida autônoma, em diversas fases, ecoam, agora, com mais vigor, as tropas liberais e conservadoras, empolgando a massa, dividindo-a, atirando-a em embates, constituindo assim, uma centelha do prélio admirável que entusiasma as esferas políticas do Império.

Os Conservadores que, nessa ocasião, desfrutavam as prerrogativas de um Ministério, são aqui representados pelos Fortes. E, os Liberais por Manoel da Silva Pereira Júnior , português de origem que, como muitos de seus patrícios, rompe com os Fortes, família numerosa, composta com portadores de títulos fidalgais, para fundarem em Rio Preto, dentro de outros moldes, o partido Liberal.

E, o partido de Pereira surge vigoroso, ameaçando destruir o prestígio formidável dos Fortes.














Local do assassinato de Manoel da Silva Pereira Junior , a Cava Grande, na divisa das terras de Eleutheria Claudina Fortes e Santa Clara. Santa Rita de - MG



Capítulo I

A estrada Presidente Pedreira- Bom Jardim.

Ao alvorecer do século passado, não havia caminho do vale do rio Preto que alcançasse a Zona do Campo.

Para se atingir as terras além Mantiqueira havia um só caminho: as antigas picadas feitas pelo índio Coroados que iam apanhar pinhão, naquela Zona. Da Corte para a Província de Minas há diversos caminhos, mas, o desejado, que encurtaria distâncias, deveria ser construído nesta Zona. 

A vila de São João Del Rei é o arauto da Província de Minas.

Dois caminhos ligam, com rotas diferentes, a Província à Corte. Um, o descoberto por Fernão Dias Paes Leme, o Governador das Esmeraldas, que a história pátria contorna-o com mágicos lauréis; o caminho que sobe a Mantiqueira, procurando Passa Quatro.

Outro, o descoberto pelos Otonis, o Caminho da Vila do Príncipe que desce o rio Paraíba do Sul até a foz do rio Paraibuna que é vadeado em seu caudal em grande distância.

O Governo da Província do Rio de Janeiro já estudara o caso e punha-o em execução, construindo para isso a Estrada Presidente Pedreira que alcançava a Freguesia de Conservatória, na mesma Província, vizinha Comarca da Vila de Valença.

No campo ia-se de Bom Jardim, por estrada de rodagem, a São João Del Rei, passando por Lavras do Funil.

Terreno acidentado parece impossível à sonhada empresa de ligar a estrada de Presidente Pedreira, que termina em Conservatória, à Freguesia de Bom Jardim, separadas pelo mássico formidável da Serra da Mantiqueira, uma barreira que o homem julga intransponível, embora tendo aí as picadas dos índios, feitas em mato fechado, a enfrentar feras, a galgar montanhas, sofrendo uma sorte de sobressaltos.

Para transitar em tais picadas há de fazer-se por etapas, com coragem inaudita, esforço sobre humano sujeito a perecerem num abismo.


A decisão Imperial n° 54, de 23 de fevereiro de 1824, já dava instruções para a cobrança do pedágio na estrada aberta do porto do Agoassú até a ponte do Presídio do Rio Preto.

Outra decisão imperial, a de 17 de dezembro de 1824, que recebeu n° 268 mandava abrir uma estrada desde o presídio de Rio Preto até entrar na Comarca de São João Del Rei.

Visão mais longa teve o Governo imperial, em seu decreto de 25 de junho de1831 que ordenava a ramificação e a construção das estradas de Mar de Espanha, 


    Estrela, Comércio, Polícia, Rezende e Picu.

     Toda a renda seria coletada no Registro do Paraíba.

Imitando esse gesto do Governo Imperial, a Assembleia provincial mineira, apresentou à sanção um projeto que foi feito lei, pela Resolução n° 407, de 12 de outubro de 1848, que autorizava ao governo da Província, a mandar continuar, sem demora, o alinhamento e construção da estrada geral do Presídio de Rio Preto, desde o lugar denominado Pisarão até a Vila de Formiga, passando pela Vila de Oliveira.

Animado pela mesma ideia, o governo da Província do Rio de Janeiro procurou estudar esse problema e resolveu colocá-lo em execução, também, construindo para isso, a estrada Presidente Pedreira, que logo alcançou a freguesia de Conservatória, na mesma Província.


Capítulo II


    Surge Pereira 


Manoel da Silva Pereira Júnior é de origem portuguesa. Fazendeiro abastado no vale do rio Preto, proprietário da Pirapitinga, fazenda cuja sede se debruça sobre o rio Preto, na confluência do ribeirão São Francisco (grifo de FHOAA, a fazenda, está as margens do rio Pirapitinga um pouco antes de desaguar no Preto, antes da Cachoeira dos Nogueira, “Barbosa Gonçalves “).

É uma casa muito ampla e espaçosa.  A terra promissora e fértil. O trabalho muito bem-organizado e produtivo, devido à administração de seu proprietário.

Fazenda de São Francisco, sempre pertenceu ao casal Eleutheria Claudina Fortes e Candido Xavier (terceiro guarda-mor da Vila de Rio Preto).






















Fazenda de Pirapitinga (grifo de fatima helena araujo e araujo- as  margens do rio Pirapitinga, esse rio deságua nas margens mineiras do rio Preto, no Estado do Rio de Minas Gerais, que pertenceu ao Manoel da Silva Pereira Júnior na época dos anos de 1800 ( engano de localização, A fazenda no RJ, São Francisco pertenceu a Candido Xavier de Andrade e Eleutheria Claudina, denominada São Francisco.

    A Fazenda Pirapitinga de Manoel Pereira, ficava ao lado opostos, em Minas Gerais, fronteiriças mas em Províncias –Estados- diferentes).

Pirapitinga do lado de Minas Gerais (atualmente pertence à família Meireles).

Foto: Acervo da Família Gabriel Machado. 

Foi vendida depois para Antônio Ignácio Ferraz (Pirapitinga em Minas Gerais).

Hoje a Fazenda São Francisco (grifo de Fatima Helena Araujo e Araujo, comprovadamente de Heleutheria Claudina Fortes ) .












Salão da Fazenda São Francisco de Eeleutheria (filha de Francisco Dionísio Fortes, irmã de Thereziano Fortes- de Santa Clara), casada com Candido Xavier.









É, José Pereira, casado com d. Inácia Maria da Silva Pereira, cujo consórcio há muitos filhos, maiores e menores.

Pereira é um homem empreendedor e de vontade de ferro.

Baixo, corpulento, de cinquenta e poucos anos, usa duas longas suíças que lhe caíam pelo rosto, já embranquecidas, dando-lhe um aspecto senhorial.

 É sempre visto no cavalo, pelas estradas, cobrindo-se ao sol com um guarda sol roxo.

Viaja só, por toda Província, não leva consigo nenhum pajem, como é de costume à gente abastada. É um homem do povo, grandemente benquisto.

Malgrado o espírito nacionalista inundara os corações brasileiros, desde 1822, estabelecendo uma linha divisória entre estes e os portugueses; Pereira era estimado pelos brasileiros deixando à parte o jacobinismo, cedendo amizade a Pereira pelos dotes de coração que este possuía.

Empolgado pela ideia de abrir estradas, medida que vinha trazer ao vale do rio Preto inestimáveis benefícios, acompanha, com vivo interesse, todas as iniciativas a respeito.

Já se foram aqueles tempos que os governadores de Minas procuravam estabelecer barreiras naturais para evitar o extravio do ouro, tendo como auxiliar, a bruteza dos matos e asperezas das serras, acautelando bem o fisco insaciável.

Pereira segue a Ouro Preto e oferece ao Governo da Província seus serviços para que se construa a estrada idealizada, ligando Conservatória a Bom Jardim de Minas, obrigando-se a fazer às suas custas uma ponte sobre o rio Preto, nas proximidades de sua fazenda - Pirapitinga.

Com tal proposta recebe a autorização de construir pelos cofres públicos da Província, uma estrada que partisse da fazenda de Pirapitinga fosse à Freguesia de Bom Jardim, com quatro léguas de extensão.

         


                                                                                         Ruínas da ponte sobre o rio Preto, construída por Pereira, local: Areal de Barbosa Gonçalves. Vista parte do estado de Minas Gerais. Foi destruída por ocasião da Revolução de 1930  para evitar a penetração de forças mineiras em território fluminense. Ponte terminadas as obras em 06 de agosto de 1856

“Para alcançar a Freguesia do Bom Jardim de Minas, tem a estrada que passar pelo Boqueirão da Mira que...” outrora existia um enorme poço de uns cem metros de circunferência e cinquenta de profundidade, formado pelas águas do ribeirão Pirapitinga, cujas bordas eram todas de imensas massas de granito que perpendicularmente formavam as paredes que continham as águas como encadeadas. Por um cataclismo ou revolução da natureza, abriu-se a rocha do alto a baixo, de uma altura não inferior a cinquenta metros, para dar passagem às águas represadas e assim formar uma bela e grandiosa obra da natureza que se chama Boqueirão, a qual por uma estrutura natural com suas paredes de rochedos alcantilados e de uma altura superior a cinquenta metros, parece destinado a ser um dia uma das mais seguras prisões do Estado”. 






Boqueirão da Mira.


De conformidade com o prometido Pereira constrói a ponte de Pirapitinga, mais adiante da sede de sua fazenda, sobre o rio Preto, terminando as obras da construção em 06 de agosto de 1856.  ( foto de FHOAA).

Vestígios da Ponte sobre o rio Preto construída por Manoel da Silva Pereira Júnior. Terminada em 06 de agosto de 1856.

Local: Areal em Barbosa Gonçalves. 



Estrada Manoel da Silva Pereira Júnior.

Vestígios da ponte sobre o rio Preto construída por Manoel da Silva Pereira Júnior, terminada a 06 de agosto de 1856.


















Ponte sobre o rio Preto. Local Areal de Barbosa Gonçalves 

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Iniciando o serviço da construção da estrada, da barranca do rio Preto a Bom Jardim, Pereira só encontrou nas montanhas da Mantiqueira, um único caminho para cavar sua estrada: o Boqueirão da Mira.

E, a estrada passa por aí, porém, a entrada e saída é por cima do rio, por uma ponte cujas vigas são embutidas na pedra, por um e outro lado. A não ser por essa passagem estreita e decorativa, própria para celebrizar artistas dos pincéis, nenhum mortal seria capaz de entrar ou sair dele, sem ser com auxílio de asas, qual novo Ícaro no labirinto de Creta.

Com todo esforço, próprio da vontade de um Pereira, a ponte é lançada.

Outras pontes pequenas são construídas em pedra, em madeira, não pondo em conta as dezenas de bueiros, no decurso da estrada que penetra mata adentro, levando ao Campo, onde as auras brandas sopram, onde o Sol, a bruma do degelo sazonando os frutos que enriquecem a Zona, um intercâmbio animador tende ao crescimento, não só do vale do Rio Preto, como de outras plagas, realizando assim, as velhas aspirações dos governos das Províncias de Minas e do Rio de Janeiro, enraizadas no cérebro de Manoel da Silva Pereira Júnior, que o cognominaremos de “o Bandeirante da terra Ribeirinha”.

Por circunstância que Pereira ignora o governo da Província de Minas não cumpre o prometido, e, o abastado fazendeiro de Pirapitinga, dispõe-se com arroubo a fazer a estrada às suas expensas pondo em xeque a sua fortuna adquirida depois longos anos de trabalhos e com uma persistência cristã.

Quando estavam em meios os trabalhos iniciados, o Presidente da Província do Rio de Janeiro sabendo do intuito patriótico de Pereira abre um crédito autorizando, a Pereira, a construção da estrada desejada.

Em portaria do Governo da Província do Rio de Janeiro de 07 de abril de 1857 Pereira obtém autorização para construir a estrada da Freguesia de Conservatória até a ponte de Pirapitinga . Pirapitinga, no Boqueirão, fazendo sua estrada penetrar mato a dento, galgando montanhas. Põe a sua fortuna em cheque.

Com a construção do trecho da barranca do rio Preto à Freguesia de Bom Jardim o seu numerário esgota-se, as dívidas tomam mais vulto, sendo obrigado a alienar alguns de seus bens, chegando até a hipotecar a pirapitinga, para terminar a construção do caminho Presidente Pedreira a Bom Jardim.

Caprichoso no feitio da sua estrada, nem por isso atende à vontade de todos os proprietários dos terrenos em que ela se estende. Muitos desejam que a estrada passe por suas portas; outros se aborrecem porque não se conformam que suas culturas, seus domínios sejam devassados pela passagem da estrada.

Outros, ao contrário, oferecem ao construtor o local da lavoura do café, julgando assim, que Pereira não cava sua estrada ali, poupando assim o sacrifício da planta.

Não obstante esses revezes que não amortecem o ânimo do bandeirante da terra ribeirinha, já se pode transitar a cavalo da barranca do rio Preto a Bom Jardim.

A fim de se livrar de vultosos compromissos, o malogrado bandeirante vende a sua fazenda Pirapitinga, mas, absorvido nas ideias de compensações, não se aborrece, procurando agora fazer que a estrada entre em território fluminense, em busca da Freguesia de Conservatória partindo da barranca do rio Preto. 

Para esse serviço de grande monta, conta com o auxílio do Governo da Província do Rio de Janeiro.

É incansável. Não conhece ainda o desânimo. É visto sempre no trabalho de sua estrada, com um pedaço de espada, cortando o mato leve, marcando o roteiro de seu caminho.

Não é um Jeremias, mas o seu Thabor não está longe.

Capítulo III

O Vale do rio Preto.


Antes que entremos na configuração do admirável vale do rio Preto, onde é o teatro romance que estamos delineando, é bom que conheçamos o rio Preto e seu caudal.

Nasce na Serra da Mantiqueira - sistema Itatiaia –Separa as Províncias de Minas e Rio der Janeiro.

 


                            








Separa os Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro desde a sua nascente, até a sua foz.

Deságua depois de um percurso de cento e noventa e oito quilômetros, na margem direita do rio Paraibuna, que, logo em seguida, depois de um pequeno rolar, lança-se no Paraíba do Sul.(,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,)

Banha o Município de Rio Preto, desde a foz do ribeiro Passa Vinte, confinante dos municípios de Aiuruoca e Rio Preto, até o rio Monta Cavalo, que divide os municípios de Rio Preto e Santo Antônio do Paraibuna (Juiz de Fora).

Banha o município que tem o seu nome numa extensão de oitenta e um quilômetros .

Em seu curso, banha os municípios fluminenses de Resende, Barra Mansa, Valença- onde dá o nome ao distrito de Santa Isabel.

Em território da província de minas banha os municípios de Aiuruoca, Rio Preto, a que dá o nome, e Santo Antônio do Paraibuna.

A sua Bacia, só em território mineiro, é de 1.074 km² .

Ao sair da bacia, onde nasce o rio, forma três cascatas :- a primeira mede cerca de três metros, a segunda, 20 metros; e, a terceira perto de 30 metros.

A bacia onde nasce  o rio Preto tem um aspecto de meio elipsoide, com seu eixo.

Rio Preto

Comprimento

222 km

Nascente Pico das Agulhas Negras


Foz Rio Paraíba*****José Marinho de Araujo.

Área da bacia

3 326 km2


Tem, nos limites do município de Rio Preto, algumas pontes:- uma, no posto Zacarias, lugar histórico, construída por ocasião em que o Duque de Caxias aniquilou a revolução de 1842  .



A- Pontes sobre o rio Preto (Zacarias), após construção da Estrada de Ferro Sapucay e mais tarde RMV.

 
















1-Ponte dos Pintos.

















                    





  Arquivo de José Marinho de Araújo editadas por FHOAA


Uma, na fazenda Pirapitinga, pouco abaixo à foz do rio deste nome, construída por Pereira, de que já tratamos, e outra na fazenda Santa Clara.

      Vestígios da Ponte construída por Manoel da Pereira, sobre o rio Preto, a Pirapitinga.

     




                     

        




Na ponte da fazenda de Santa Clara tinha escrito bem legível, inscrito em caiação, o seguinte:

       Junho-24-1844.




































Outra, na Vila de Rio Preto, construída por ordem do então governador de Minas, d. Pedro Maria Xavier de Athayde e Mello, continuando a obra sonhada pelo governador e capitão geral, d. Rodrigo José de Menezes, que mandou abrir este sertão à mineração e permitiu seu povoamento criando o Registro de Rio Preto, sendo o 2º guarda mor, o capitão Francisco Dionísio Fortes, fundador da Vila de Rio Preto. Fonte: Arquivo Público Mineiro folhas 06 de 25/10/1861 . FHOAA 2009.













Acervo da Família Honório.













Pelo vale do rio Preto, nas confrontações Aiuruoca, Rio Preto e Valença, espalham-se as ricas fazendas dos Fortes, adquiridas por herança de seu maior que foi Francisco Dionísio Fortes.

A maior e mais importante é a fazenda de Santa Clara, de propriedade do Comendador Francisco Thereziano Fortes. 

Comendador Thereziano possui grande fortuna. 

É casado com d. Maria Thereza de Souza Fortes (baronesa de Monte Verde, ainda não possui essa titulação). 

Não tem filhos 


Os seus domínios  estendem-se pelas margens do rio Preto desde a Vila até além da foz ribeirão Pirapitinga, galgando  as montanhas ramificante da Mantiqueira.

A sede da fazenda, é,  nestas centenas de léguas, o edifício mais importante. A sua construção sólida e demorada, foi feita pelos seus escravos que elevam a mais de três mil.

A maior cultura da fazenda é a do café. Para a condução da rubiácea produzida em suas terras, ao mercado consumidor, Francisco Thereziano Fortes( o barão de Monte Verde(*), tem tropas a propósito, possuindo, para esse mister,-pedaços de terras- sítios- ao longo do caminho da Corte, para nesses pontos de descanso, ser tratada a tropa e se refazer das fadigas da viagem. Muitas das vezes,  por essas espécies de estações, são substituídos os animais da tropa.

É Francisco Dionísio Fortes ( pai de Thereziano) um grande benfeitor da vila de Rio Preto, ou em verdade ,o seu construtor. 

Não há construção de valor que não tenha o seu nome ligado.

 

Foi o garimpeiro do vale, desde o município de Paraibuna, subindo o cursode vários afluentes do rio Preto, até às margens do rio Grande, na zona do campo.

Arrancou  muito ouro no seio virgem da  terra.

Tinha, para isso, grande número de escravos, que com suas bateias  e almocrafes, tiraram fortunas dentre os cascalhos dos diversos cursos d’ água deste município e imediações.


Dentro dos domínios de Santa Clara, afastada do rio Preto ,cerca de quatro quilômetros, fica a fazenda de São Bento, pedaço de terra doado por Francisco Thereziano Fortes ao capitão Tomé Dias dos Santos Brandão, que muito o auxiliou em suas aspirações.

É uma São Marino encravada na Itália de Leonardi; assim nos parece São Bento dentro de Santa Clara. 

Foto disponível na Internet.



Acervo de FHOAA.  José Marinho de Araujo.

Doutro  lado, à margem direita do rio Preto, pouco acima da fazenda Santa Clara, estendendo-se pelo território da freguesia de Santa Isabel do Rio Preto, município de Valença, sita a fazenda de São Mathias, de Fernando Ferraz ,(irmão de Antônio Ignácio Ferraz), nasceu em 23/06/1829, casado com Marcolina Cândida Fortes .Era filho legítimo de Victorino  Antônio Ferraz d’ Araujo e Mathildes Ignacia Francisca do Espírito Santo, com 36 anos, casado, fazendeiro, natural da Villa de Valença de Minho, Portugal.  





Abaixo da fazenda de São Mathias, ergue-se a sede da fazenda de Pirapitinga, vendida por Manoel Pereira a Antônio Ignácio Ferraz(no Estado de Minas).





















 Acervo da Família Machado.

Antônio Ignácio Ferraz é de origem portuguesa casado com Carolina Xavier Fortes uma das filhas de Dona Eleutheria Claudina Forte (irmã do Barão de Monte Verde).Comprou a fazenda de Pereira, por intermédio do patrício de ambos, Joaquim da Fonseca Moura, negociante na Barra Mansa.    

Para essa compra, Ferraz arranjou dinheiro  com o Comendador Thereziano, dando-lhe em garantia hipotecaria a mesma fazenda.

Abaixo da Pirapitinga, fronteiriça à fazenda de Santa Clara, sita a fazenda de Santa Tereza de dona Eleutheria Claudina de Souza Fortes irmã de Thereziano, como foi afirmado.










Menos de uma légua abaixo, ergue-se a casa da Fazenda de São Fernando , do Comendador Carlos Teodoro de Souza Fortes, Barão de Santa Clara , casado com Isabel Henriqueta Fortes, irmã.  ( Barão de Monte Verde ). 

Carlos Teodoro de Souza Fortes possuía o título de Comendador da Ordem da Rosa. A Ordem Imperial da Rosa foi criada no Brasil por D. Pedro I a 17 de outubro de 1826, para perpetuar a memória de seu faustíssimo consórcio com a princesa dona Amália de Leochtenberg. Esta ordem compunha-se de seis categorias: Gran Cruz, Grande Dignitário, Dignatário, Comendador, Oficial e Cavaleiro.












Fonte: disponível na Internet.

Editada por FHOAA. 2008










Editada por FHOAA 2009/ julho 

Foto de FHOAA em julho de 2009- Portão de São Fernando. Parece não ser a entrada original da fazenda, analisando a posição da escada.








Fora do vale do rio Preto, entre as fazendas de São Fernando e a Freguesia de Conservatória, sita a fazenda de São Paulo de propriedade do Desembargador Antônio Joaquim Fortes de Bustamante, irmão do (Barão de Monte Verde).









































Fonte: material disponível na Internet.

Antônio Joaquim Fortes de Bustamante é bacharel, formado em leis pela Universidade de Coimbra, Comendador da Ordem de Cristo e Fidalgo Cavalheiro da Casa Imperial. Foi Ouvidor e Provedor Geral da Comarca de São João Del Rei, desta Província. Foi desembargador do Tribunal de Relação da Corte. 

As fazendas de São Mathias, Pirapitinga, Santa Tereza, São Fernando e São Paulo, ficam no território da província do Rio de Janeiro.

 













Fazenda São Luiz. Fotos de FHOAA em 2009.





A fazenda de São Luiz  fica abaixo da fazenda de São Fernando. É propriedade da Marquesa de Valença.

Todas essas propriedades são importantíssimas.




Servem do rio Preto para o seu intercâmbio, por meio de navegação em bar-cos.

Numerosos barcos cortam as águas mansas do rio Preto que é navegável desde a cachoeira abaixo da barra do Pirapitinga até légua e pouco abaixo da vila.

O movimento de canoas no rio Preto é intensíssimo.

Diariamente descem o rio numerosos barcos, quase que se soçobrando, com pilhas de sacas de cereais produzidos nas terras férteis, desta zona, que não só dão o ouro em seus rios, como a prodigalidade de suas sementeiras fazendo encher as arcas dos seus felizes possuidores.

A bordo dessas embarcações, escravos empregados nesse serviço, quebram com seus cantares a monotonia do vale.

E, que cantares! São o grito de saudade de rincões distantes, donde foram roubados para serem mercadejados como simples objeto. Mas, têm alma.

Os seus cantares regionais, que são pedaços do coração transformados em notas, ecoam pelo vale.



Capítulo IV


Nuvens de tormenta.





A estrada de Pereira tem que passar por terras do (Barão do Monte Verde ) ,não existe tal titulação.

                                                

As árvores são cortadas. A foice e a enxada, em mãos de escravos, fazem aparecer a estrada em terreno dos Fortes.

Dona Eleuthéria ajuda a Pereira, entusiasma-o.

Mas, seu irmão (o Barão), não quer que a estrada passe por ali. Quer noutro lugar.

E, Thereziano trava com o bandeirante da terra ribeirinha rancorosa luta na imprensa da Corte.

Os artigos de Pereira vêm assinados. São feitos pelo Padre João de Oliveira, vigário duma das freguesias da Corte, porque sua instrução não alcançava a tanto.



(...)A Estrada do Bom Jardim e o Menino Gabriel.(  não há no original.  Acervo de Rodrigo Fortes).



[...] Quando todos cuidaram que esta grande via de comunicação, a mais importante para os municípios de maior produção do sul de Minas, estaria livre e desassombrada da guerra que há seis anos lhe move o capricho de uma célebre; quando ninguém supunha que essa guerra reaparecesse em vista do fato incontestável de fazer-se por esta todo o trânsito que de outrora pelas estradas do Chora e Santa Rita de Jacutinga se fazia; quando finalmente, essa estrada e sua direção, ultimamente examinada por dois engenheiros distintos, foi por eles julgadas as de melhores condições não só para rodagem de primeira classe, como para uma via férrea de declividade nunca excedente a 1 ½ %; eis que aparece nas colunas do Correio Mercantil de 28 de março último, oculto como sempre, o menino que compõe a epígrafe deste artigo, dirigindo chalaças e delusões indiscretas, ou melhor, estúpidas, aos Srs. Engenheiros Aroeira e Manoel Pereira, pelo fato de haverem percorrido juntos as duas estradas que se disputam a preferência. Não refutaremos essas parvas alusões, porque elas se acham refutadas pelo contraste de caráter que há entre o agressor e os agredidos.

Escrevendo este artigo, só temos em vista informar o público da pertinácia com que se pretende ainda demorar a solução da mais célebre questão que nesse gênero tem aparecido, e que o mesmo público aguarda com interesse. Certo o mesmo Gabriel de que o engenheiro Aroeira não fora fascinado pelo melodiano canto das sereias bípedes, a quem fora por ele apresentado, com a mesma facilidade com que o Sr. Domonte se fascinara pelas sereias quadrúpedes, e nem tão pouco a riqueza e magnificência do palácio em que fora hospedado lhe haviam ofuscado a vista e transviado a razão para não distinguir o superior do péssimo, partiu imediatamente para o Rio de Janeiro para informar ao tio doutor desse raro e espantoso fenômeno!

Dias depois seguia ele a caminho de Ouro Preto munido de cartas de empenho para que o presidente de Minas não desse crédito às informações do engenheiro Aroeira, visto como, tinha ele feito os exames das estradas em questão em companhia de Manoel Pereira! Esquecia-se o menino que tinha ido debaixo de chuva, por caminho quase intransitável por causa da enchente do Rio Preto, encontrar o mesmo engenheiro, obsequiá-lo acompanhando-o no dia seguinte até a fazenda Santa Clara, onde pernoitaram sem que esse fato inspirasse o menor receio a ninguém, tanto a respeito do caráter do hospedante, como da honradez do hospedado.

Esquecia-se ainda que dias antes o Sr. Albergaria, encarregado pelo governo de examinar de passagem a questão, viajara com seu tio, que também o fora encontrar na vila do Rio Preto e recebera dele uma besta de sela; fora acompanhado de José Theodoro Rodrigues e Joaquim Pereira, percorrer parte da estrada do Boqueirão, sem que ninguém suspeitasse ou suspeite da honradez e caráter sério do Sr. Albergaria por ter recebido um mimo do Sr. Carlos Theodoro, fazer o exame acompanhado por dois homens capazes de prestar-se a ações e atos indignos. Continuemos. Além das cartas de empenho, o menino fora autorizado para oferecer gratuitamente ao governo a estrada que seu tio já havia oferecido na administração do Sr. Conselheiro Carneiro de Campos, e fora por ele aceita essa oferta mentirosa! Agora, porém, redobravam as condições vantajosas da oferta, cresciam os sacrifícios patrióticos e aumentaram rasgos de generosidade em favor do público e dos cofres provinciais! Que raro exemplo de patriotismo (digno de ser imitado) praticado repetidas vezes pelo homem que antes de aparecer a ideia desta estrada nunca os praticara para tornar o seu nome conhecido! Quem diria que a estrada do Bom Jardim havia despertar no coração de homens tão excêntricos o fogo de um entusiasmo tão patriótico a favor de melhoramentos de que tanto carecemos?! O que, porém, se não conforma com isso tudo é acharem-se duas pontes fechadas sobre o Rio Preto, sem que o público possa gozar dos excelentes caminhos, de que nos fala o menino em seu artigo, que atravessam as fazendas dos Srs. Fortes, que, segundo ele diz, sempre estiveram francos a todos! E os ferrolhos? Ah! É para que o público não vá dar uma volta sem conhecimento de causa! Está explicado! Muito bem! Continuemos. Além das cartas de empenho, repetição de ofertas gratuitas etc., o menino teve ordem expressa do tio para que dissesse a todas as pessoas com quem falasse o seguinte: - Manoel Pereira não possui um só vintém, vendeu tudo quanto possuía para pagamento de dívidas, está desgraçado! - Esta linguagem, como meio muito honesto e honroso do nosso herói para atravancar a estrada que o incomoda, não é nova, ela é irmã gêmea da mesma estrada, ou mais antiga por outros motivos mais sérios e graves.

Com efeito, o nosso menino como sempre, nunca se esqueceu da fórmula recomendada, a qual já tanto se acostumou, que repetia a um mesmo indivíduo três a quatro vezes para o tornar bem ciente dessa circunstância importante para a causa de seu tio. E nós que desejamos auxiliá-lo nessa tarefa nobre, assim como em todas dessa ordem, autorizados pelo Sr. Manoel Pereira, declaramos que talvez seja essa a única verdade de que ele se serve para o triunfo de sua causa; mas asseguramos-lhes também que ainda essa circunstância não atravancará a estrada do Bom Jardim, ela continuará a melhorar-se todos os dias, a conservar-se constantemente, muito embora produzam as cartas de empenho e a nova oferta o efeito desejado.

Desse modo fica dispensado o menino Gabriel de continuar com a sua árdua tarefa, porque, nós o repetimos: - Manoel Pereira não possui um só vintém, vendeu tudo quanto possuía para pagamento de credores; está desgraçado! Mas a estrada do Bom Jardim continua e continuará!

Duas palavras mais para descrever o menino Gabriel.

Este herói, para ser conhecido o caráter, basta vê-lo, ouvi-lo e cheirá-lo. Visto, é um alfaiate de Paris! Ouvido, é o símbolo do pedantismo! Cheirado, é um vidro de almíscar ou patchuli! Mas como nem todos o vêm, nem todos o ouvem e nem todos o cheiram, vamos cantá-lo em verso, porque em prosa está cantado.

I

Quando vires, leitor,

Menino magro e comprido

Trajando mui presumido,

Terás um certo doutor,

Formado para o amor.

Nunca para questões sérias,

Porque as suas misérias

Tornariam-se patentes

Desenganando as gentes

De seu saber em matérias.

II

Foi bonito, é bem-feito,

Corpinho bastante esguio,

Não se parece com o tio;

Espicha a perna, anda direito,

Em namorar é perfeito;

Promove suas conquistas,

Mostrando aparentes vistas

De no futuro casar-se

Com aquelas que enganar

Com promessas já previstas!

III

Com luvas pretas calçando

Vê-lo-ás a toda a hora,

Calça estas as tira fora,

Sempre de cor variando,

E os gaiatos zombando

Do boneco perfumado:

Ande eu bem enfeitado

À custa de meus parentes,

Diz ele mostrando os dentes,

Embora seja zombado.

IV

Meu solar é em Lisboa,

Diz ele sério falando,

Embora esteja eu andando

Por essa terra à toa

Eu tenho nome na história,

Desses feitos de glória

De minhas antepassadas,

De lauréolas coroadas

Por mais de uma vitória.

V

Circula em minhas veias

Régio sangue puro e nobre,

Muito embora eu seja pobre,

Tenho solar com ameias;

Estou livre das cadeias,

Castigo dos plebeus,

Muito embora sejam meus,

Desprezo essa canalha,

Oriundos de gentalha,

Vil raça de pigmeus.

VI

Gasto dinheiro a granel,

Disse mal, eu não sou pobre,

Por ordem do tio nobre

Que guerreia o Manoel,

Propago certo aranzel

Para chegar ao meu fim;

Todos acreditam sim

Não continuar a guerra,

Pois gastou tudo na terra

Da estrada do Bom Jardim.

VII

Petit maître singular

Serei da história moderna,

Enteso bem minha perna,

Contradanço, sei bailar,

Farto a todos de cheirar

As minhas perfumarias,

Que enjoam por muitos dias

Quem tiver de as aturar,

Dou-me em tudo a revelar,

Até nas minhas manias.

VIII

Aqui tens, caro leitor,

O retrato lindo e fiel

Do menino Gabriel

Apelidado doutor;

Sinto, porém, certa dor

Que, sendo ele togado,

Seja só advogado

No distrito da relação,

Que lhe negou permissão

De ser nunca magistrado!

IX

É mentira, ele dirá

Quando ler este jornal,

Sou juiz municipal

Por um régio alvará;

Bem caro me pagará

O poeta desprezível

Que, reduzindo-me ao nível

Da mais simples expressão,

Feriu o meu coração

Na fibra a mais sensível.

(ass.) Pois não! Que esperança!

Correio Mercantil – 28 de abril de 1862


Gabrieladas.


Continuemos a cantar em verso o menino Gabriel; antes de tudo, porém, transcreveremos uma notícia que o correspondente de Portugal transmitiu ao Diário do Rio e que foi publicada no dia 23 de maio, que diz respeito a esse nosso inocente herói. Começa assim: “Os jornais do Porto dão conta de um desastre de que foi vítima, no convento das Ursulinas, uma menina de nove anos. A infeliz menina chamava-se Eliza Gabriel Ploesckee                                                                lcc Fortes de Bustamante, filha de um rico brasileiro chamado Gabriel Ploesckelecc Fortes de Bustamante, que ainda há pouco concluíra na Universidade de Coimbra a sua formatura em Direito: essa infeliz menina morreu vítima do fogo, etc”. Que pena e que dor temos de não conhecer essa menina! Se a conhecêssemos, talvez tivéssemos prevenido essa lamentável desgraça, advertindo-lhe que se acautelasse do fogo, porque seu pai era um formidável e forte busca-pé, que por onde passava queimava, quando não chamuscava.

Cantemos o desditoso e infeliz pai da infeliz Eliza.

I

Passo uma vida feliz

Devido a duas questões

Gasto dinheiro aos milhões,

Sem olhar para o que se diz.

Minha tia nunca quis

Em tais questões figurar,

E muito menos gastar

O dinheiro que seu esposo,

Levando vida sem gozo,

Custara tanto a ganhar.

II

Eu, porém, que sei falar

Linguagem mui sedutora,

Engano a pobre senhora

Para dinheiro me dar;

Rio-me do seu chorar

Quando ela diz, meu sobrinho

Poupa esse dinheirinho

Que tanto custou juntar,

À força de mal passar,

A teu tio, coitadinho.

III

Acredite, minha tia,

Seu conselho seguirei;

Jamais nunca gastaria

Com bazofia ou bizarria.

Nunca mais esqueceria

Essa lembrança da história

Que faz a nossa glória

O nome de Thereziano,

E o de José Floriano,

De mui saudosa memória.

IV

Sei da história desgraçada

Deste último, tio meu,

Que na indigência morreu,

Não herdando de nós nada;

A família malfadada

Sofre demais a opressão

Que contrista o coração

Do ente o menos sensível,

Mas é vontade invencível

Do tio Dr. Zangão.

V

Portanto não gastarei

Sem motivo justo e nobre

O dinheiro que ao pobre

Ele e não eu roubei

Brevemente voltarei

Desta viagem ligeira,

Darei conta verdadeira

À minha boa madrinha,

Que verá da conta minha

Não ter gasto em bandalheira.

VI

Sigo então para Minas

Com ricos pajens fardados,

Quase como eu perfumados,

A conquistar as meninas

A quem repito mofinas

Até fazê-las ceder;

E depois venho dizer:

Minha tia, mais dinheiro,

Que o remendão carpinteiro

Pretende a questão vencer.

VII

Que vergonha minha tia,

Se tal coisa acontecer!

Tio doutor há de morrer

De paixão no outro dia:

Quem tal coisa pensaria

Depois de trabalhos tantos

De festas feitas aos santos,

Presentes à Albergaria,

Eu sempre de romaria

Sofrendo trabalhos quantos!

VIII

Eis que a pobre velhinha,

Por tais razões convencida,

Restando-lhe pouca vida,

Preenche a vontade minha,

Lastimando coitadinha

Por acreditar em mim;

Digo não há coisa assim

Como as duas questões:

Os Fortes fracos ladrões,

E a estrada do Bom Jardim.

IX

Que trabalhos, minha tia,

Sofri eu, passando mal

No Supremo Tribunal

E Relação da Bahia!

De noite nunca dormia

Pensando nestas questões,

Procurava distrações

Com medo de enlouquecer,

Promovendo assim vencer

Os Fortes fracos ladrões.

X

Sinto, porém, um pesar

Que me oprime o coração,

É que, finda esta questão,

Nesta cena singular,

Onde hei representado

Com caráter de honrado

O mais brilhante papel,

Passando por bacharel

Na velha Coimbra formado.

XI

Sinto mais ser divulgado

Por um moderno jornal

Segredo que em Portugal

Eu deixei recomendado;

Quis a morte, quer o fado

Que eu seja muito infeliz,

Suportando o que se diz

De minhas vadiações

Lá na terra de Camões,

Onde estudar nunca quis.

XII

Morreu a pobre Elizinha

De uma desgraça fatal,

Podendo de Portugal

Vir um dia a ser rainha;

Bastava se filha minha,

Que tenho sangue real,

Fosse embora bem ou mal

Essa menina arranjada

Com fidalga ou criada,

Ninguém sabia de tal.

(ass.) – O Rodim Rio-Pretano

Correio Mercantil – 6 de junho de 1862

I

Desculpa leitor amigo

Esta minha versalhada,

Sem medida e mal rimada

Que é esta a regra que sigo,

Desde tempo mui antigo

Conheço certas questões

Que só em versos ratões

Devem hoje ser cantadas,

Hoje queremos estradas

E não fechados portões.

II

Derrubem-se os mandões

Ridicularizem-se os tais,

Que sem menos nem mais

Vedam públicas servidões;

Complicam as questões,

Tudo oferecem sem cumprir;

Não se fartam de mentir,

E o público a sofrer

Dando voltas de morrer

E há de calar e ouvir?! Não.

(do autor)

Gabrieladas

I

A Câmara Municipal

Desta nossa pobre vila

Embirrou, tomou quizila,

De nossa estrada fatal;

Procura-lhe fazer mal

Votando indicações

Pra que se abram portões

Que nunca deram caminho,

A um célebre homenzinho

Que insulta nossos brasões.

II

Esse mal eu já previa

Na passada eleição

Por isso de coração

Pedi muito a minha tia,

A ver se ela gostaria

Para eu sair presidente

Da Câmara com a minha gente;

Mas ela não quis assim

E o ingrato Bom Jardim

Fez-me ficar suplente.

III

Dos honrados suplentes

Presidente fiquei sendo,

E tão duro osso roendo

Com meus prateados dentes;

Combinei com meus parentes

Anular tal eleição,

Incumbindo-se o Zangão

De trapacear e mentir,

Até o poder conseguir

Dos poderes da nação.

IV

Depois de muito esperar,

De dois anos ter passado,

Vai o conselho de estado

Dá-me um cheque de matar!

Apeou-me do lugar

Na ordem da votação,

Sustentando a eleição

Do ingrato Bom Jardim

Que não quis votar em mim

Por causa do Boqueirão.

V

Passar por tal decepção

Depois de tantos trabalhos,

Antes bater com dois malhos

Na cabeça do Zangão;

Cortar-lhe mesmo o ferrão

E por-lhe o corpo a tinir,

Já que não soube zumbir

Para produzir efeito;

Zumbir a torto e a direito,

Não presta para mentir.

VI

Triste foi a decisão,

Cruel o meu padecer;

Antes queria morrer

Na pessoa do Zangão.

Dar gostos ao remendão

E a roda municipal

Foi desgraça sem igual

Para mim e meus parentes,

Que passados e presentes

Lastimamos este mal.

VII

Que me resta? Paciência.

A custo mostrar os dentes,

Já que até dos suplentes

Tiraram-me a presidência!

Alegre na aparência,

Vingança no coração,

Esperar a eleição,

Vencer a ferro e a fogo,

Mostrando assim ao povo

Que fortes os Fortes são!

VIII

Que nos resta? Suportar

Ainda por mais dois anos

O capricho dos tiranos,

Dessa câmara popular

Que não cessa de embirrar

Contra a nossa pretensão

De acabar com o Boqueirão,

Cortando pontas e serras

Para defender as terras

Do tio Doutor Zangão.

IX

Continue, não importa

A Câmara a representar

Ao Governo sem parar,

Que tal estrada está morta;

Ou seja, direita ou torta

Essa por nós oferecida,

Ela será preferida

Pois temos muito dinheiro,

Não haverá engenheiro

Que contra nós se decida.

X

Mas se acaso algum turrão

Embirrar com a nossa estrada

Por não ter sido traçada

Com declive muito bom,

Responderemos então

Pela seguinte maneira

- A serra da Mantiqueira

Que nos opõe embaraços

Vai ceder a Fortes braços

Ainda que Deus não queira.

XI

Que! Atravessar uma estrada

Por meio de nossas terras

Perfurem-se montes e serras

Reduza-se tudo a nada;

Nossa justa pretensão

Entupir o Boqueirão.

Arrasando a Mantiqueira

É esperança lisonjeira

Do tio Dr. Zangão.

XII

Não olhemos a despesa

No custo de nossa estrada

Fique, pois, bem-acabada

Essa magna empresa;

Imite-se a natureza

Com um outro boqueirão,

Mas feito em tal direção

No atravessar a serra

Que não vá cortar a terra

Do tio Dr. Zangão.

XIII

Arrasar a Mantiqueira

Para passar nossa estrada,

Custará pouco ou nada,

Será mesmo outra ligeira;

Ainda sendo a primeira

Em gênero e construção,

Elegância e perfeição,

Que perpetue na história

Um tal feito de glória

Do tio Dr. Zangão.

XIV

Perfure-se essa montanha,

Conste da história dos fatos

Célebres como o do Athos,

Hum, de glória tamanha!

Não foi maior a façanha

Desse antigo guerreiro

Por ter sido o primeiro

Que citou a natureza (1)

Para ceder com presteza

A seu poder e dinheiro.

XV

Imitemos o guerreiro

Que intimou o monte Athos

Não impedisse os atos

Dos monarcas o primeiro,

Do contrário iria inteiro

Entupir o oceano

Por ordem do soberano,

Que não poderia sofrer

Resistisse a seu querer

O soberbo monte ufano.

XVI

Perfurar a Mantiqueira

Aos Fortes será possível,

Reduzi-la mesmo a nível

Ainda que Deus não queira!

Desmentir ao Aroeira

E sua informação

Acerca do Boqueirão,

É dos Fortes um dever,

Para o mundo conhecer

A sua forte razão.


XVII

Entupir o boqueirão

Arrasando a Mantiqueira

A picão e cavadeira

A cavadeira e picão

Foi lembrança do Zangão

Foi lembrança lisonjeira

Ainda que Deus não queira

Disse ele estando a tossir

Por força hei de conseguir

Arrasar a Mantiqueira.

(ass.) O Menino



(1) Xerxes tendo perdido grande parte do seu exército na passagem difícil do monte Athos, deu ordem para que fosse perfu-rado, escrevendo-lhe ao mesmo tempo uma carta que lhe dizia que não se opusesse a sua resolução, do contrário o mandaria lan-çar no oceano.

A resposta do monte a tal intimação não é conhecida; tal-vez agora se encontra nas entranhas da serra, que vai ser per-furada com o mesmo fundamento. Se assim acontecer, que achado para a história!

Correio Mercantil – 12 de outubro de 1862.


N.B. – Existe uma quantidade grande de artigos, choradas em versos e mofinas, referentes a esta questão desde 1856.

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

Antônio José de Freitas



GABRIEL PLOESQUELLEC FORTES DE BUSTAMANTE 

Registro de Batismo (Gabriel Proisquilecc. Acervo de Rodrigo Fortes...(adendo de FHOAA).


"Aos 20 de maio de mil oitocentos e trinta anos nesta Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar da Vila de São João del Rei, o Reverendo Coadjutor Joaquim José de Souza Lira batizou solenemente e pôs os santos óleos a Gabriel inocente, filho legítimo do Doutor Gabriel André Maria de Ploesquellec e Dona Maria Benedita de Souza Fortes. Foram padri...



[...] Um destaque também à direita do cemitério fica para um pilar, feito em Lisboa, na Rua do Limoeiro. Foi encomendado por Gabriel de Ploesquellec Fortes de Bustamante, como escrito está, em testemunho de sua amizade pelo finado José Soares Cabral D’albergaria, que nascido em fevereiro de 1792, completou neste último sábado de outubro 137 anos de falecimento. Já o Gabriel – generoso e sentimental – Ploesquellec Fortes de Bustamente expressou ainda dor, creio eu maior, no pilar que mandou trazer de Portugal, da mesma Rua do Limoeiro, com as seguintes palavras: “À memória eterna de minha saudosa e chorada mãe, Illma. E Exma. Snra. D. Maria Benedita de Souza Fortes. Seu Filho”. Antes da assinatura, descubro que a Ilustríssima e Excelentíssima Senhora Dona Maria nascera no ano de 1799, no dia em que a vila de Nossa Senhora do Pilar completava 83 anos de existência, 8 de dezembro. E que deixara partido o coração de seu filho em 30 de junho de 1889, menos de cinco meses antes da proclamação da República. 


Veja as fotos, sobrenomes familiares, datas, epitáfios e dedicações nos cemitérios são-joanenses, sem descuidar da arquitetura simples ou artística. Eu vou fazendo minhas visitas, e quando for pro Kiko, espero apenas que um outro curioso, que por lá esteja, tenha dificuldade em fazer as contas de com que idade morri. 

 

Luciano Geraldo do Nascimento, 33, são-joanense, é radialista e estudante na Escola Agrotécnica Federal de Barbacena  (adendo de FHOAA).













Os do (Barão de Monte Verde) vêm como da redação, escritos por ele ou por alguém, membro da numerosa família, todos letrados e gozando no Império de destacados postos, quer na magistratura, onde alguns membros da família Bustamante prestam relevantes serviços ao país, quer na política, ou de possuírem um vasto raio de ação.

“O Correio Mercantil” e o “Imparcial”, são os jornais da Corte que se prestam a esse serviço que ora atinge a uma campanha de difamações recíprocas.

A campanha toma vulto, a opinião pública divide-se, parte para os Fortes, parte para Pereira.

Os artigos são verrinosos, chegando até a se preocupar com a vida privada.

Elementos pereiristas organizam oposição política aos Fortes, fazendo drapejar a bandeira do Partido Liberal na Vila de Rio Preto.

Morre Thereziano, mas a luta continua acesa, quer na imprensa, quer noutros círculos.

Ardorosamente Pereira se defende, mas, com que armas?

Já sem o dinheiro com que antes podia se sombrear com os Fortes e sem a supremacia que têm este nas esferas políticas e administrativas do Império, tolhendo destarte todos os seus passos.

Aparece em meio da luta um membro da família Fortes- o Dr. Gabriel de Ploisquelecc Fortes de Bustamante.

Com seus parentes continua, sob os beneplácitos da viúva de Thereziano, a escrever, nas folhas da Corte, artigos a fim de desmoralizar as obras de Pereira.

O doutor Gabriel, conhecido na intimidade por doutor Gabrielzinho é sobrinho e afilhado da Baronesa de Monte Verde, que agora é agraciada, pelo governo do Im-pério com o título de Viscondessa do Monte Verde. 

Doutor Gabrielzinho reside em São João Del Rei. Está passando algum tempo em Santa Clara. Mobiliou uma das casas da Viscondessa na Vila, para passar dias de folguedos ou mesmo tratar dos múltiplos negócios da fazenda.


Quando permanece na cidade é cercado de muita gente. A sua bolsa inextinguível, durante os dias que passa na Vila. Atende a todos, socorre os necessitados.

Os membros da família Fortes, com intuito de neutralizar a estrada que margeia o Pirapitinga, mandam construir uma estrada que ligasse a de Presidente Pedreira à Bom Jardim.    E, com grande número de operários inicia a construção da rodovia.que parte da Freguesia de Conservatória, passa pela Freguesia de Santa Isabel do Rio Preto, indo até ao barrando do rio Preto, no porto do Zacarias. Daí até a Freguesia do Bom Jardim, doutro lado da Serra da Mantiqueira, passando pela Freguesia de Santa Rita do Jacutinga, galga as serras do Lagarto, Bom Jardim, atingindo a localidade do mesmo nome.

    Existe na Secretaria do Governo da Província de Minas Gerais um termo pelo qual o Dr. Antônio Joaquim Fortes de Bustamante, Carlos José da Silva, Comendador Carlos Theodoro de Souza Fortes, baronesa de Monte Verde e Dr. Gabriel Ploisquelec Fortes de Bustamante, comprometem-se a dar gratuitamente esta estrada pronta com todas as obras de arte.

Já está quase que terminada, prontas duas terças partes.

Por não entregarem os proponentes a estrada pronta dentro do prazo contratual são obrigados a para uma multa.

A imprensa da Corte borda longos comentários.


*Ano de1863, páginas 18. Pesquisa realizada em 2009, comprovando a exatidão dos escritos do autor em 1938. Fonte: http://books.google.com.br/books.

Pensa o desembargador Dr. Antônio Joaquim Fortes de Bustamante, que, com o oferecimento dessa estrada, vinha arruinar Pereira de vez e esse abandonaria a empresa de construir estradas em seus terrenos, e, talvez, suicidaria, pois já está arruinado e, de rico que era já vê sua família na miséria.

A perseguição toma vulto. Pereira não encontra justificativa porque os Fortes votam tanta ojeriza contra sua pessoa e sua estrada, pois o que está fazendo é para o bem público.


Dona Eleuthéria, pertencente à família que domina o vale do rio Preto, recebeu a ideia com alegria, enquanto seus parentes cercavam Pereira de tantos ódios e perseguições incessantes a fim de desacoroçoá-lo em passar sua estrada pelas terras de Santa Tereza, São Fernando e Santa Clara.


Mas, Pereira está estribado numa Portaria assinada pelo Governador da Província do Rio de Janeiro, autorizando a derrubar o mato e cavar a estrada ligando Conservatória à Bom Jardim .


Capítulo V

Via Crucis.


Elisiario Mariano de Moraes é o administrador da fazenda de Santa Clara.

Vai à casa do feitor Antônio Cleto, pedindo-lhe emprestada uma espingarda para “correr porcos”  , chamando o escravo Porfírio para esse serviço. Porfírio diz que não pode porque tem que sair de madrugada para outro serviço.

De fato, na manhã seguinte, ainda de madrugadinha, Porfírio sai com seus companheiros para o apanha do café, trabalho que é feito com presteza, empregando neste mister todos os escravos da fazenda.

Ao amanhecer, o escravo Inácio, a mando de Moraes deixa o serviço do apanha do café, e faz uma estrada que começa da lavoura de café, indo até as divisas da Fazenda de Santa Clara com a fazenda Santa Tereza, em território da Província do Rio de Janeiro.

Ordenou ainda Moraes que parasse com a picada, onde ouvisse o barulho de foiçadas em baixo, o que foi cumprido pelo preto escravo.

Pronta a picada, Moraes que traz a tiracolo a espingarda adquirida de preven-ção na véspera, chama o português Antônio Cleto e penetram pela picada feita pelo escravo Inácio, e, ouvem, mais abaixo, o barulho produzido pelo pedaço de espada de Pereira, que corta o mato.

Pereira está só. Os escravos empregados no serviço do caminho acham-se muito longe, no preparo da estrada.

Moraes, inadvertidamente avança para Pereira e lhe dá com o coice da espingarda no rosto, toma-lhe o pedaço de espada e atira-a fora; entrega a espingarda a Antônio Cleto. Puxa de uma garrucha, aponta para Pereira; a arma nega tiro.

Volta para o feitor, e, Moraes ordena:

-Atire com essa espingarda e já!

Antônio Cleto aponta a espingarda contra Moraes, alça a mira, grita:

-Nada faças com meu patrício, porque é um chefe de família. Inda mais, os portugueses são uns para os outros; se mexeres morres!...

Pereira que está ferido no nariz e olhos, limpando o sangue que escorre pelas faces, diz:

-Se estou aqui é por ordem do Presidente da Província.

-O presidente aqui, diz Moraes, é o Dr. Fortes. Tenho dele, ordens enérgicas para não deixar que tu prossigas com tua estrada, nem mesmo entrar nestas terras.

Por esta insólita agressão Pereira promove contra Moraes um processo.

Pronunciado pelo Juízo de Valença é absolvido pelo Juiz dessa Vila. É seu defensor o doutor Joaquim Saldanha Marinho. 


Viscondessa de Monte Verde, (ainda Baronesa), interessa-se pela sorte de Moraes, pagando todas as despesas da causa.

O malogrado bandeirante da terra ribeirinha sendo vítima de tão estúpida agressão, pelo administrador Moraes, vem pelas colunas do “Correio Mercantil”, da Corte, de 22 de maio de 1857, na forma seguinte:

“Vias de Comunicação.

Para o Exm. Sr. Ministro da Justiça e Presidente da Província do Rio de Janeiro verem e meditarem.

Em 24 de dezembro, próximo passado concordou o Sr Conselheiro Antão, Inspetor Geral das Obras Públicas da Província de Minas Gerais, que eu do Bom Jardim tirasse uma picada em direção a minha ponte sobre o rio Preto, no lugar denominado Pirapitinga seguindo as águas do ribeirão do mesmo nome para servir de exame ao engenheiro que devia aprová-la, medindo alterações que julgasse consistentes.

No dia 07 de janeiro dei princípio ao trabalho, fazendo explorações em três léguas de matos virgens, capoeiras e cultivados, que me habilitaram em reconhecer praticamente o que de há muito tempo estava convencido por cálculos e raciocínios feitos em vinte e seis anos de residência nestes lugares.

Convencido e senhor do terreno reconheci prestar-se otimamente a um nivelamento cuja máxima inclinação jamais pode exceder a cinco por cento isto mesmo em poucos e curtos espaços e para isso obter percorri o terreno por vezes em toda sua extensão sem que na execução destes trabalhos aparecesse um só proprietário que se opusesse  aos meus trabalhos tendo mesmo atravessado culturas de algum que é fácil acreditar –se os houvesse em semelhantes distância, muito principalmente sabendo-se que a exploração teve  de atravessar as fazendas retalhadas  por herdeiros, porém, venho, como já disse,  se me opôs e antes, pelo  contrário, me prestaram todo o auxílio  de que podiam dispor, indicando-me até suas culturas para atravessar julgando ser  por elas o mais cômodo e apropriado  caminho  que todos reconheceram de utilidade pública.

Até parecia que os próprios irracionais se congratularam com a esperança da abertura da um caminho que tinha de melhorar sua sorte..

Por motivos talvez particulares que até hoje ignoro deixou de vir o engenheiro por todo o mês de janeiro fazer os  competentes exames motivo esse que me obrigou a oficiar no dia 20 do mês passado ao Exmo. Presidente da Província de Minas Gerais, retirando a oferta gratuita de minha ponte que fiz  em 06 de agosto próximo passado sob a condição de mandar o mesmo governo abrir quatro léguas  de caminho  desde o Bom Jardim até à mesma e visto não ter tido  resposta alguma a tal respeito estava resolvido a ir abrir o caminho maior ou menor conforme minhas forças o permitissem e Deus me ajudasse, acontece porém que o Exmo. Presidente da Província do Rio de Janeiro por informações que talvez teve a meu respeito autorizou-me por uma Portaria datada de 07 de Abril próximo passado para que mandasse abrir uma picada desde Conservatória até a minha ponte para servir de exame aos engenheiros no prolongamento da Estrada do Presidente Pedreira já até aquela povoação se acha definitivamente traçada.

Ora a necessidade dessa estrada que a opinião pública reclama e que pelos jornais se tem mostrado encurtamento e vantagem sem que de leve ao menos fosse por alguém contestado, reunindo ainda autorização da primeira autoridade da Província que devia calar mesquinho e particular capricho, muito principalmente quando se sabe que de uma picada a uma estrada há ainda muitos recursos; acrescendo ainda que não tendo de atravessar indeclinavelmente terreiros da fazenda além do meu e de D.Eleu-theria Claudina Fortes que com muito gosto e boa vontade consente a passagem da estrada por todo e qualquer lugar de sua Fazenda inclusive o seu próprio terreiro!

Parece que nenhuma oposição deveria encontrar na execução de semelhante picada, enganei-me.

Munido da referida portaria fui no dia 27 do próximo passado fazer as devidas explorações acompanhado unicamente de dois homens livres. 

No dia seguinte voltamos à continuação do mesmo trabalho; eis que de repente apareceu um malvado com duas pistolas e uma espingarda opondo-se a continuação da picada e por que eu insistisse apresentando a Portaria de S. Ex. Escapei milagrosamente de ser assassinado; com força armada e acompanhado de um inspetor ministrado pelo subdelegado de Santa Isabel por ordem que teve do Delegado de Polícia da Vila de Valença perante quem apresentei minha queixa contra o assassino, consegui a conclusão da picada nos lugares que d’ela precisava fazer seus estudos.

Acontece, porém que depois de todos retirados do trabalho fui intimado por um oficial do Juízo Municipal por ordem do Subdelegado de Polícia de Santo Antônio do Rio Bonito para levantar os trabalhos da picada até segunda ordem.


O Sr. Dr. Fortes foi quem requereu a interrupção do trabalho; conta-me, porém que não fora seu requerimento deferido e igualmente ignoro o que nesse requerimento alegara, mas que não pode ser mais do que pretextos infundados visto queixar-se  para algumas pessoas que eu queria passar com a picada por cima   de seu sagrado cemitério;

Quando todos viram e podem ver que a picada passou quase meia légua distante dele e da fazenda!! Quem mandaria o assassino perpetrar um crime tão atroz?

Quem mandaria tentar contra a vida de um pai de família que só tem por defeito querer que se abra um caminho de utilidade pública e economia dos cofres províncias?

Deus o sabe!

Todavia a minha consciência obriga-me a declarar que ne-nhum dos proprietários por cujas terras a picada atravessou era capaz de semelhante procedimento, nenhum desses alguém por longa série de anos prestam meu serviço com a maior dedicação, desinteresse e amizade era capaz de pagar-me por semelhante maneira.

Não, mil vezes, não! 

Muito embora alguns deles não gostem que o caminho se passe por seus terreiros é de meu dever acreditar unicamente que a malvadez está concentrada nas entranhas de um facínora que já tenha vindo de São Paulo por criminoso de morte.

É contra esse malvado que chamo a atenção dos juízes que o devem julgar.

Outro fato poria ainda em dúvida o que minha consciência obriga a acreditar foi o seguinte: Apareceu na picada um homem que assim falou a vista de testemunhas:

-Desejava que o senhor Manoel Pereira me dissesse onde se compram vidas. O senhor Manoel Pereira procura fazer um caminho quando ele tem três que vem a ser, um para o outro mundo, outro para o inferno e outro para o céu.

O senhor Manoel Pereira se continuar a querer mais caminho por aqui há de morrer como um passarinho, mesmo cercado de forças armadas e não há de saber quem o matou!

Ainda assim eu acredito que isso não passa de uma estupidez personificada, de uma ignorância completa, de uma brutalidade sem limites, por isso segundo os ditames de minha consciência não quero aproveitar o que a razão manda que o despreze.

Estarei enganado, mas só disso convencerei quando vir que mão potente, incógnita proteja a causa do meu assassino, então reconhecerei estar decretado o meu suplício!

Mas assim prosseguirei no meu intento sacrificando mesmo a própria vida para que o público desfrute uma estrada tão reclamada pela opinião pública.

(a)- Manoel Pereira da Silva Junior.

Piratininga, 10 de maio de 1857.



O serviço da estrada prossegue a contragosto da família Fortes, embora vendo Pereira nessa campanha contra o seu trabalho, o estigma de seu sacrifício se aproximava.

Passa um ano mais ou menos sem que haja nenhum incidente com Pereira e sua estrada entra matos adentro dobrando serras indo levar noutros rincões a facilidade de intercâmbio.

Corre o ano de 1858.  Numa tarde de sol, Pereira traz da Cachoeira do rio Preto, abaixo da barra do Pirapitinga, uma barca.

O seu espírito de patriotismo faz hastear as bandeiras brasileira e portuguesa num mastro improvisado erguido na barca.

Flamejavam ao vento vivificador do vale do rio Preto, perecendo entoar hinos às pátrias irmãs a natureza maravilhosa desdobrante.

Colocou a barca na testada das terras da fazenda de São Fernando, do comendador Carlos Teodoro de Sousa Fortes para passar os seus serviçais empregados no trabalho da estrada que está sendo feita em terras regadas pelo serpenteante rio São Fernando. À sua desembocadura fica a sede da importante fazenda.

Do barco que se apresenta com cambiantes de imponência, salta Pereira, deixando a bordo um escravo a fim de guardar a embarcação.

Entra mata adentro a procura de operários escravos que deverão passar para a outra banda do rio.

Existe defronte à fazenda uma ponte, mas o seu proprietário proibiu que Pereira com sua gente nela fizesse trânsito.

O administrador Morais que está em vigília permanente a fim de perseguir o malogrado construtor de estradas, chama os escravos da Fazenda de Santa Clara, os de nome Chico Gomes, Desiderio, Pio Serrador e o livre Domiciano, que é cunhado de José Pereira. 




                                                                                                                                              Foto de Fátima Helena Oliveira de Araujo e Araujo Ano: 2009.Casa de José Pereira. Localização: defronte à Fazenda de São Mathias, na margem mineira do rio Preto. 

Com presteza retiram a barca para a terra firme, obrigando sob ameaça de morte, ao escravo vigia, a auxiliar nesse serviço.

Posta para fora d’água pegam em um trado, previamente preparado, fazem algumas perfurações no fundo da barca, colocam dentro grande quantidade de pedras a lançam-na no rio.

Como é de se esperar, a barca afunda incontinentemente.

Cá fora, Morais com sua gente, dão gargalhas estrepitosas.

Procede-se desta forma é porque o comendador Souza Fortes o ordenara, pois estava indignado por ver Pereira entrar em suas terras, a fim de cavar a estrada que alcançasse Conservatória.

Antônio Ignácio Ferraz, o dono da Fazenda Pirapitinga, esquecido da antiga amizade de Pereira, que se achava na fazenda do comendador, quando notou a indignação de seu visitado, deu a ideia de que se enchessem a barca de café da fazenda, prendessem e amarrassem o escravo que a vigiava, levassem-no preso para a vila do Rio Preto e denunciassem Pereira como ladrão de café, usando para isso sua barca.

O comendador Souza Fortes não deu consentimento para assim procedessem.


Duas lágrimas de pesar caíram pelas faces de Pereira quando testemunhou a cruel vingança feita pelos Fortes, pondo ao fundo das águas plácidas do rio Preto o seu aparatoso barco nem mesmo respeitando os pavilhões pátrios que nela drapejavam.

Resignadamente, subiu com sua gente, margem direita do rio Preto, mesmo em terras da fazenda São Fernando, indo atravessar o rio pela sua ponte defronte à sua antiga propriedade- Pirapitinga- (São Francisco).

Ir contra gente que só desrespeitava as leis do Império para humilhar a seus concidadãos é para Pereira uma tarefa ingrata, mas animado pelo grande círculo de seus amigos e com os beneplácitos dos governos provinciais de Minas Gerais e Rio de Janeiro, não esmorece.

Que fazer! Via que no término de suas obras, seriam compensados pelos cofres públicos os seus esforços sobre-humanos, reabilitando assim, o seu estado precário de finanças.

Tinha algum crédito ainda, mas este estava em cheque, pois o Dr. Antônio Joaquim Fortes de Bustamante, o mais ilustre da família, indo a Vassouras, dirigiu-se à “Casa de Furquírios X Irmãos”, onde Pereira tinha contracorrente, pediu que não lhe adiantassem mais dinheiro porque Pereira não pagaria, visto não colher o café que dizia possuir; procedimento este reprovado pelas pessoas presentes. Francisco de Paula Dias Moreira é empregado na fazenda São Luiz, da Marquesa de Valença como administrador. Indo à Bom Jardim, na volta passou pelo Solar da viscondessa de Monte Verde. Ai encontra o dr. Gabrielzinho que esperando descobrir em Dias Moreira opinião contra a estradado Boqueirão da Mira, pergunta-lhe:

_Como achaste a estrada do Boqueirão, Moreira?

_Esplêndida! Faz encurtar a viagem, pois gastei do Bom Jardim até aqui apenas seis horas respondeu Dias Moreira. Contrariado diz o dr.Gabrielzinho.

_ A mesma coisa não julga o Vigário de Bom Jardim que é pereirista.

_Digo-o com sinceridade, pois não sou pereirista nem fortista, respondeu Moreira, 

_ O amigo ousa me contrariar? Diz dr Gabrielzinho todo indignado, fazendo o administrador da fazenda de São Luiz se retirar às pressas de Santa Clara.


A boca pequena diz que tal de Mourão ficou de tocaia a beira da estrada a mando do dr. Gabrielzinho a fim de matar Pereira, como também, quando esteve pela última vez em Ouro Preto, havia ali um capanga com intuito de assassiná-lo, não o conseguindo por se desencontrarem.

Pela volta da capital da Província, Pereira encontra frente a frente com dr. Ga-brielzinho mesmo na ponte do Boqueirão e, este nega cumprimento, coisa que não é de seu costume.


Numa tarde recebe uma intimação para ir à Fazenda de Santa Clara. Não aten-deu.

No mesmo dia, à noite, quarenta escravos penetram em sua casa para levá-lo amarrado, o que não conseguiram, pois Pereira se escondera.

No dia seguinte escreveu ao dr. Gabriel uma longa carta pedindo acomodação sobre a estrada, desculpando-se pelo que lhe tinha feito.

Este ao receber a missiva chega até a ridicularizá-lo, dizendo ao portador que já estava terminando sua estrada para oferecê-la ao Governo da Província de Minas, não como a “Estrada Pereira”, que está errada, ficando assim o seu construtor perdido para sempre, pois o Governo não lhe pagaria os serviços prestados.

E, que sua estrada será melhor do que a que passa pelo Boqueirão, depois de acabada.

E, finaliza:

_Nossa família muito tem sofrido com essa luta que se chama Pereira.



Há um incêndio no engenho da fazenda de Santa Clara e os seus proprietários acusam Pereira do fato, abrindo um inquérito na delegacia de polícia da Vila, de que nada se apurou. 

Capítulo VI

Algozes.


Aparecem nesta zona, alarmando a Vila do Rio Preto, as freguesias de Santa Ri-ta de Jacutinga, Santa Isabel do Rio Preto e São Joaquim da Barra Mansa, cujas popu-lações são pacatas e ordeiras dois indivíduos que se intitulam valentões.

O primeiro deles, o mais perigoso, chamava-se Quintino de Lima Sampaio, nas-ceu em 1827, na localidade fluminense de Angra dos Reis, e diz-se natural de Campi-nas, na Província de São Paulo. Chegou aqui como feitor da fazenda de Pirapitinga, por recomendação do dr. Gabriel, e agora este o tem sempre a seu lado.

Seus antecedentes são péssimos. 

Achando-se preso por crime de resistência no Quartel do 1º Regimento da Ca-valaria Ligeira da Corte, onde era ferrador, evadiu-se a 09 de abril de 1859.

A fim de lograr a polícia, assina Manoel Joaquim da Silva.

Devido à sua arrogância de valentão, é conhecido nesses meios por “Tira-Prosa”.

É uma dessas almas criadas para o crime.

Homem de maneiras rudes, grosseiros e descabidas, desagrada a toda gente, tratando os demais com aspereza.

Foi contratado, antes de aparecerem nas fazendas do vale do rio Preto, pelo tenente Vicente Lopes, fazendeiro na Freguesia de Santa Isabel do Rio Preto, para vingar de inimigos de sua pessoa.

Está no número de seus inimigos, o seu próprio irmão Antônio Lopes e João Baptista dos Santos, o sapateiro da freguesia, que quase foi morto no terreiro da fazenda de Vicente Lopes, por “Tira-Prosa” e quarenta escravos, fato este que é ainda muito comentado em Santa Isabel.

Fernando Ferraz e seu irmão Antônio Ferraz moravam na fazenda “Dois Irmãos” (fazenda de São Mathias), uma légua mais ou menos de distância da fazenda Pirapitinga.

         Fernando Ferraz e Antônio Ferraz, dois portugueses que deixaram as suas vinhas na quinta província do Minho, vieram tentar fortuna no Brasil, fundando num dos ângulos do vale do rio Preto, a família Ferraz, hoje portadora de tantos títulos, pelos homens que descenderam desses troncos.

“...Antônio Ferraz veio para o Brasil ainda criança, filho de Vitorino Antônio Ferraz de Araujo e Mathildes Inácia Francisca do Espírito Santo de Araújo. Naturais da vila de Valença do Minho, em Portugal. Fernando, irmão de Antônio, acompanhou-o ao Brasil, com o mesmo intuito: o de ganhar a vida em plagas brasileiras, tão irmãs daquelas que se estendem além do Atlântico...”

Esses dois irmãos, depois de longos anos de trabalho honesto e produtivo con-seguiram um mealheiro e adquiriu a fazenda denominada São Mathias, sendo, então, conhecida por fazenda “Dois Irmãos”. Como dito anteriormente, sita a uma légua mais ou menos, de distância da fazenda Pirapitinga.

Inimizaram-se, devido às artimanhas de “Tira-Prosa”, que usufruía proveitos pecuniários de ambos. Um dia, chegou e matou todos os cachorros, quase todos de estimação de Fernando, dizendo que foi a mando de Antônio.

Em consequência desse fato que veio a separar os dois irmãos, por uma inimi-zade criada por Quintino, Antônio Ferraz separou a velha sociedade que tinha com seu irmão. Antônio Ferraz era casado com uma filha de Dona Eleuthéria Claudina Fortes, a filha do segundo guarda-mor do Registro de Rio Preto, Francisco Dionísio Fortes de Bustamante.

Inimizaram-se por ter “Tira-Prosa” matado os cachorros de Fernando Ferraz, tendo como consequência a transferência de Antônio para a fazenda de Pirapitinga.


 

Vestígios da fazenda São Matheus. Hoje, fazenda Santa Rita. FHOAA 2010.

Já em Santa Rita de Jacutinga “Tira-Prosa” é um homem que só em referir seu nome provoca pânico, pois esperou, na estrada do Passa Vinte, em um morro perto da casa de José Theodoro, seu desafeto José Vilela de Souza Meirelles que não caiu morto sob as punhaladas de seu terrível adversário, por ter galopado o animal.

Matou um homem em São João Marcos, na província do Rio de Janeiro, a mando de outros, cujo crime ficou impune.

Outro indivíduo que com “Tira-Prosa”, faz a dupla macabra é Calixto Marques da Silva, natural da vila de Tamanduá (Itapecerica), desta Província.

Reside na Freguesia de Conservatória, há oito para nove anos. O seu serviço é no trabalho de machado e serras. Doma, também, burros bravios.

Portador de um sangue frio que põe os criminosos na classificação dos desnatu-rados que pedem o socorro duma intervenção psicopata.

 Apenso nº 03 da província- Regimento de Cavalaria Ligeira- Nº01- Nota dos anais do ferrador abaixo declarado, que se evadiu deste Quartel, a 09 de abril de 1859, achando-se preso para sentenciar. Nº 53= Ferrador=Quintino de Lima Sampaio, filho de Manoel Caetano de Lima, natural de Angra dos Reis, nasceu em 1827= altura 62 e 1 /2polegadas, cabelos pretos, olhos pardos, ofício =ferrador, estando solteiro. Quartel em 03 de maio de 1862. Francisco Joaquim Pinto Pereira = Major Graduado Comandante interino. Conforme o Secretário de Polícia- Leopoldo Henriques Coutinho. 


Tanto “Tira- Prosa” como Calixto vivem nas fazendas dos Fortes, sem emprego. Acompanha-os em suas viagens à Corte e à São João Del Rei.




O vigário da Freguesia de Santa Isabel do Rio Preto é ardoroso Pereirista. Até no púlpito pede pela felicidade de Pereira. Pela sua fala fluente, põe seus paroquianos a par de todos os acontecimentos que envolvem a causa de Pereira. É ele, o padre Custódio Gomes Carneiro.

E, por isso, os fazendeiros João Batista Rathman, Vicente Lopes, seus filhos e sobrinhos, Manoel Martins de Almeida e José de Castro Lima, fazem uma caixa de oito contos de réis para sustentar capangas a fim de retirá-lo da Freguesia, e, com ele outras pessoas que não eram do agrado dos Fortes, que, até ali, estendem-se seus domínios.

Entre os capangas estavam Manoel Joaquim ou Quintino Sampaio, vulgo “Tira-Prosa” e Calixto.



Já em Barbacena é público e notório que os Fortes querem matar Pereira.

Os que acompanham sua ação pertinaz e martirizante exclamam:

_É o único recurso dos Fortes vencerem Pereira, pois por meio de Leis do Impé-rio, nada conseguirão.


                                          Capítulo VII

A derrubada da Ponte do Boqueirão.


A ponte que passa entre o Boqueirão da Mira, construída por Pereira, é uma obra de arte que está causando no círculo dos engenheiros sérios estudos devido à sua construção . É ali que seu construtor vê o motivo para que sua estrada seja reconhe-cida.

Muito sólida, dá passagem diariamente às boiadas que descem pelas serras do Bom Jardim, aas tropas e aos cavaleiros.

Se conseguisse jogar a ponte ao fundo do ribeirão Pirapitinga que por ali passa apertadinha vinha não só desmoralizar Pereira, como arruiná-lo. Dessa forma não poderia esperar , como era seu desejo, serem indenizados pelo Governo da Província os seus vultosos gastos na construção de estradas e pontes.

Seria uma estúpida agressão ao infortunado bandeirante da terra ribeirinha.

E, numa noite, em dia e mês do ano de 1856, Belizário Mariano de Morais, o administrador de Santa Clara, acompanhado de Calixto, “Tira-Prosa” e muitos escravos da Fazenda, vão ao Boqueirão trazendo sua gente munida de serrotes, mandando cortar as travessas da ponte, deixando-as de forma que na passagem de qualquer peso, cairia no ribeirão.

No dia seguinte- o milagre- passa uma boiada e nada acontece. Pouco depois o madeirame descia pelas águas agitadas do ribeirão Pirapitinga.

A este respeito o “Correio Mercantil”, da Corte, na sua edição de 16 de maio de 1863, publica o seguinte:

“A estrada do Boqueirão e a atrocidade inaudita”

O “Jornal do Comércio” e “Correio Mercantil”, de 11 do corrente publicaram ambos nesse mesmo dia uma notícia de grande alcance a que deve se prestar a toda atenção. Diz a “Gaze-tilha”

-Escreve-nos de Minas – A 20 de Abril de noite, homens perversos dirigiram-se à ponte colocada na estrada do Boqueirão, ultimamente feita pelo Sr Manoel Pereira da Silva Júnior, e ali ar-maram uma terrível cilada aos pobres viandantes, boiadas e tro-pas; arrancados os corrimões e muitas taboas do assoalho lateral, cortaram à serra as travessas sobre as quais descansam  as linhas do  mesmo assoalho( o lateral), e as deixaram presas pela grossura uma polegada e tanto; o menos peso seria o bastante para levar ao abismo, passageiros e bagagens, mas a Providência Divina, pas-sou logo uma boiada de sessenta rezes sem o menor perigo !

Fez-se o auto do corpo de delito, mas, talvez, nisso ficará!”.

O “Correio Mercantil"  coincidindo em dar a mesma notícia e um pequeno artigo, já deixava entrever melhor o fim a que se dirige a inocente publicação, acrescentando que os  moradores da vizinhança, correndo imediatamente a escorar a ponte, perguntaram entre si,  quem seria esse perverso, essa alma de tigre, esse assassino mesmo, que  cometeu semelhante fato?

E, a essas perguntas o boiadeiro que assinou o artigo respondeu:

Segundo certo escritor quando se quiser conhecer o autor de um crime, procure — se antes de tudo saber a quem ele pode interessar.

Com  efeito, se  essa notícia, não for da meia noite, o atentado merece exemplar  castigo ,e as mais mais rigorosas investigações para o descobrimento  de seu autor, muito mais havendo já o corpo de delito ; porém se começar aparecer descontos á notícia, dá se o publico a custar a crer que os serradores pudessem de noite, as escuras, regular a polegada de grossura que deixaram madeiras ou enfim se o negócio for algumas das costumadas invenções para serem decantadas pela imprensa como fingida oposição à sua estrada: então, meus senhores, botem, por hora, de quarentena a sua notícia porque o cansado romance e fingimento de perseguições ou oposições já está tão gasto e tão calvo, que nem mesmo a tal polegada de grossura que a serra deixou as taboas, poderá tapar - lhe a calva; nesse caso, aplicando a doutrina do  escritor do nosso boiadeiro, cada um de nós interrogará a si próprio:- Quem  será o miserável que tem o interesse em inventar tão ridículos embuste “.

"O Imparcial".


Manoel Pereira Júnior da Silva dirige ao Presidente da Província, o seguinte requeri-mento:


«Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Presidente da Província de Minas   Gerais.

Manoel Pereira d a  Silva Júnior empresário expontâneo da estrada de Bom Jardim decre¬tada por lei Provincial nº. 839, de 14 de Julho de 1857, vem res¬peitosamente requerer a V. Ex. que se digne no dar execução á Lei nº 1.167 de 8 de outubro de 1862, relativa á mes¬ma estrada, visto como aproxima a reunião da Assembleia a que deve ser submetido o resul¬tado do que dispõe a mesma lei afim de re¬solver como julgar de interesse publico. E por¬que os interesses do Suplicante se ligam a tal julgamento por isso,

P. a V. Ex. se dig¬ne deferir com Justiça.

E. R. M. (a.) Manoel Pereira da Silva Júnior.Estava   colado   um selo   de $100 reis.

Teve esta   petição   o despacho seguinte :-

«Logo que hajam En¬genheiros   disponíveis será atendido o, pedido do Suplicante. —Palácio do Governo da  Província de Minas Gerais, 30 de abril de 1863. Fernandes Torres.

Recebeu ainda Perei¬ra a seguinte comuni¬cação : «Palácio da Presidência da Província de Mi¬nas Gerais,  1 de  abril de 1864 — 5ª. Secção. Declaro a Vmcê. em respostas aos  seus ofícios de 17 e 19 do mes  findo, que   n'esta   data oficiei   ao    Engenheiro Modesto  de Faria  Bello  para proceder ao necessário exame e   orçamento ,contrato  de conservação da estrada denominada de Bom Jardim,com quem melhores condições oferecer, contanto que que tal contrato vigore depois de aprovado  por esta Província a quem deve ser submetido.

Deus guarde a Vmcê. 

(a) Joaquim Fernandes Torres.



Capítulo VIII

Porfírio Escravo.


Vamos aqui abrir um parêntese para trazer em conhecimento dos que nos lêm, uma passagem já citamos o nome, mas não o biografamos_ Porfírio, escravo.

É natural de São João Del Rei e vive na fazenda de Santa Clara, onde é pedrei-ro. Veio para ali com anos e agora conta com 52 anos. É escravo da Viscondessa de Monte Verde.

Por ser o mais valente, é escolhido para executar as ordens de seus senhores.

Constam nos autos, em depoimento que ele com outros escravos consumiram Elias de tal, na fazenda, não aparecendo sequer, vestígio do assassinato.

Contra o finado Thereziano, José Floriano, seu coerdeiros manteve na justiça, uma questão de terras, que foi ganha por José Floriano. Este, munido do necessário documento, intima a Thereziano, judicialmente, do ganho de causa.

Quando o meirinho se aproximava da fazenda de Santa Clara, Porfírio escravo foi esperá-lo à chegada da fazenda, com quatro escravos, deixando-o em “lençóis de vinho”, expressão muito usual na fazenda.

Foi então José Floriano  à fazenda entender-se pessoalmente com Thereziano. Quando se aproxima da fazenda, Porfírio instou para que se retirasse, mas, José Flori-ano ousadamente entra no pátio da fazenda e aí recebe das mãos de Thereziano, uma bengalada.

Porfírio, com um cacete deixou José Floriano ensanguentado. Foi metido no cárcere da fazenda por Porfírio auxiliado por outros escravos.

Pelos dias que se seguiram aparecia uma bandeja com vários alimentos ao que José Floriano recusava sempre.

À porta do cárcere, escravos que se rendiam, faziam guarda permanente.

A quem recorrer Floriano? Tinha que ali ficar.

Ao fim de cinco dias, aparecem na fazenda, as autoridades da Vila de Rio Preto, obrigando a José Floriano a assinar um “termo de bom viver”.



Capítulo IX

O Thabor de Pereira.


Manoel Pereira da Silva Júnior já não é o abastado fazendeiro da Pirapitinga, já não tem aquele entusiasmo de outrora. É já um homem sumido pelos revezes da vida. Está completamente arruinado e sua família jogada na miséria.

Do fausto à pobreza. Assim mesmo a perseguições dos Fortes continua.

Só uma coisa o salva: o reconhecimento a utilidade e adaptação de sua estrada pelo Governo de Minas.

E a oposição dos Fortes, senhores de posições quer na política da Província de Minas Gerais, quer na magistratura provincial quer na imperial.

Tinha que se entregar ao sacrifício da miséria e deixar seus filhos na orfanda-de, desdita que já sonhara Pereira.

A trama para seu extermínio está se urdindo.










A casa sede da fazenda, São Francisco, que se debruça sobre a margem direita do rio Preto é teatro da trama.

Das janelas do lado do rio, avista-se a estrada que vem do Bom Jardim à vila do Rio Preto.





Numa dessas salas a que servem essas janelas, estão o proprietário da fazenda Antônio Francisco Ferraz, o Dr. Gabrielzinho e “Tira-prosa”, quando pela estrada, des-ce o infortunado construtor de estradas.

Ferraz diz ao desumano “Tira-prosa”:

_ Lá vai ele!

O doutor Gabriel acrescenta:

_Repare bem, para conhecê-lo bem.

Manoel Joaquim, o “Tira-prosa”, responde, num gesticular de ombros:

_Aquilo não é nada pra mim. Deixe-o passar para baixo que na volta eu acabo com ele. 

De fato, Pereira vinha a Vila tratar de seus negócios mal amparados.

02 de maio de 1863.

O dia amanhece cheio de sol.

É o dia consagrado ao martírio do construtor da estrada do Boqueirão da Mira, que de volta da Vila, passa em casa de seu Patrício Joaquim da Fonseca Moura, nego-ciante na Barra Mansa, sob a firma Cardoso Nogueira+ Moura, casa que fica distante da fazenda de Santa Clara, duas léguas mais ou menos.

Pereira está de regresso da Vila e com muita urgência, pois tem de seguir para Santa Rita, a fim de atender um chamado por carta de seu amigo Cassiano Ferreira de Mendonça, dando-lhe a boa nova de ter chegado a Santa Rita do Jacutinga, um enge-nheiro do Estado, o doutor Modesto de Faria Bello, que desejava encontrar-se com o construtor da estrada Presidente Pedreira- Bom Jardim.

A carta de seu amigo de Santa Rita está vazada nestes termos:

“ Senhor Manoel Pereira da Silva Júnior

Compadre e Amigo.

Comunicou-me hoje o engenheiro que já tinha recebido ofício do Presidente autorizando-lhe a contratar a conservação da estrada do Boqueirão e que hoje ia pousar em casa de Ferraz amanhã cedo principiava a examiná-la e que logo no outro dia que vmecê lá passou recebeu o dito ofício por um preto de Santa Clara; será bom que você mecê venha assistir e contratar. Ele fa-lou para esse ficar e eu lhe disse que lhe preferia, e assim me pe-diu para lhe fazer ciente do ocorrido. Muito estimarei que fique logo bom do incômodo; eu e sua comadre, muito recomendamos a comadre e as meninas, e aqui estamos para o que lhe for pres-tante como quem é seu compadre. Amigo. Cassiano Ferreira de Mendonça. Santa Rita, 17 de maio de 1863”.


Essa carta foi para a alma martirizada de Pereira, uma centelha de felicidade.

Não obstante a apresentação dessa carta a seu amigo Moura, este insiste com Pereira, que permaneça em sua casa até o dia seguinte, pois era mais de meio dia e não chegaria ainda com sol em Santa Rita, arriscando-se a viajar sozinho pelas terras dos Fortes, advertindo-lhe que a gente da Baronesa é capaz de fazer-lhe algum mal.

Expôs-lhe que no dia seguinte seria acompanhado de Francisco de Paula Dias Moreira, que agora é administrador da Fazenda de São Luiz, da viscondessa de Valen-ça, que seguia para Santa Rita.

 Se o faz porque sabe que os Fortes estão desespera-dos por ter Pereira ganho a questão da estrada e já espera um desfecho menos agra-dável; dá-lhe a notícia de que é Juiz de Direito de Rio Preto, desde o dia 10 de maio corrente, o Doutor Gabriel Ploisquellec Fortes de Bustamante. 

Pereira não aceita o convite alegando que tem que pernoitar em casa de seu irmão José Pereira, que mora em uma casa sita defronte a casa de Fernando Ferraz, a fazenda de São Mathias, do lado de Minas, para chegar mais cedo à Santa Rita.

Às duas horas, mais ou menos, Pereira despede-se de seu amigo Joaquim da Fonseca Moura e precisamente às três e meia entra nos domínios da fazenda de Santa Clara.

Veste neste mesmo dia, calça de casimira clara, colete do mesmo pano, sobre-casaca e chapéu preto e com seu chapéu de sol roxo, cobrindo ao sol. Cavalga u’a mu-la preta tordilha.

Aproxima-se da sede da fazenda Santa Clara.

Ao passar pela frente da casa da fazenda, a um sinal convencionado, Calixto, que já está de espera, sai e o acompanha armado de uma espingarda e, um estoque dentro de um velho e amontado em uma besta preta, pertencente à “Tira-Prosa”, pu-xando um cavalo baio de cauda preta.

“Tira-prosa”, aos saltos, enche seu revolver de balas, e pega numa faca com-prida, de ponta, com cabo, bocal e ponteiro de prata, e salta em cima do lombo de u’a mula pelo rabo, pertencente ao doutor Gabrielzinho.

Eles já tinham prevenido estes animais para se servirem no momento oportu-no.

Enquanto isso, Pereira, ao marchar de seu animal, afasta-se da casa da fazen-da.

A Cava Grande, lugar onde tem uma porteira, era, até pouco tempo, a divisa da fazenda de Santa Clara e Santa Thereza. É um corte onde passa a estrada que margeia rio acima, até a barra do Pirapitinga, e daí, em busca da freguesia de Bom Jardim, traçado que já conhecemos.

Pereira força a porteira com o cabo do guarda-chuva. Não cede. Está amarrada com um cipó ao batente.

Tira Pereira, o pé do estribo a fim de apear para desembaraçar a porteira.





Casa de seu irmão José Pereira. Casa onde pretendia pernoitar.Foto: FHOAA 2009

Quando levanta a perna direita e move o corpo para descer do animal, recebe, pelas costas, um tiro de espingarda, cujo estampido ecoa pelo vale.

Ferido não tem forças para manter o equilíbrio do corpo e cai ao chão, estiran-do-se. Chegam, em torno de si, seus algozes, “Tira-Prosa” e Calixto, Porfírio escravo, João Ilheo, administrador da fazenda, e outros. Quando levanta a perna direita e move o corpo para descer do animal, recebe, pelas costas, um tiro de espingarda, pelas cos-tas, um tiro de espingarda, cujo estampido ecoa pelo vale.

 Aí começa o suplício do malogrado construtor de estradas, que dura meia ho-ra. Vão lhe furando os olhos, cortando as orelhas, os lábios e o nariz.


Para tornarem-se despercebidos os gritos de Pereira, um escravo da fazenda, canta em voz alta. Antônio Joaquim de Oliveira, vulgo Antônio Raimundo, que mora em São Pedro do Taguá, à margem do rio Preto, dirigia-se a uma casa da colônia da fazenda Santa Tereza, de dona Eleutheria, surpreende-se com aquele quadro. 

Horrorizado escondeu-se na mata, a cavaleiro da Cava Grande. Entre os assas-sinos reconhece o escravo Porfírio.

Pereira, entre extorsões de dores, já agonizante, liga, quase que impercepti-velmente, estas palavras:

_Matem-me, mas não judiem de mim.

Uma faca entra nervosamente em cena. A sua língua é cortada, os seus dentes são quebrados.

“Tira-prosa” sangra com o punhal o inditoso Manoel Pereira que dá o último suspiro.

O seu cadáver está completamente nu e com aspecto horrível.

Uma só ferida !

As suas mãos são amarradas aos pés, com um cabresto que o Dr. Gabriel servia em sua mula, comprado em São João Del Rei. Um escravo traz uma corrente que é usada na fazenda para tiradeira de carro, que é amarrada no cabresto e na extremi-dade desta corrente é amarrada uma pedra de arroba e meia. Posto numa canoa foi o corpo atirado no rio Preto, a dez braças da margem.

A mula preta tordilha cavalgada por Pereira é também sacrificada. 

O cadáver da mula, o seu encilhamento, vestuário de Pereira, são enterrados ao pé da mata, acima da Cava Grande, onde, até a véspera, escravos da fazenda ma-tavam um formigueiro.



O crime perpetrado pela gente da fazenda de Santa Clara é consumado em plena luz do sol, fria e barbaramente. 

As águas mansas do rio Preto fecharam-se; ali seria o túmulo de Manoel Perei-ra da Silva Júnior.

Qual visão, numa mesma noite, aparecem a Baltazar José dos Santos, fazendei-ro ao longo da estrada do Boqueirão, dois boiadeiros desconhecidos que testemunha-ram com horror o hediondo crime, relatando, assustados ainda, o drama da Cava Grande.

 

Fonte :Foto disponível na Internet. Editada por FHOAA2010

Capítulo X

 Na Vila.


O antigo “Arraial de Nosso Senhor dos Passos do Rio Preto”, hoje se apresen-tando com outros aspectos devido aos melhoramentos introduzidos na Vila do Presídio pela fidalga família dos Fortes, sentindo-se assim, os reflexos do progresso.

Estamos a 20 de maio de 1863. É, na Vila um dia movimentado, quebrando o ritmo costumeiro da localidade ribeirinha. É porque Candiani , a grande cantora lírica, que já é uma estrela fulgurante no costelário da arte, fulgor conquistado numa peregrinação pelos palcos europeus e sul-americanos. Na sua passagem pela Corte, os Fortes convidaram-na para cantar na Vila.

A sua estreia está marcada para a noite.

E, todos já preveem que o prédio, não pequeno que serve para o teatro, à rua Direita, no beco do Porto, será diminuto para caber tanta gente, tal o interesse despertado lá fora com a notícia da vinda de da grande artista.

A Companhia Dramática Cabral, a quem pertence a cantora, aboletou-se no hotel de Antônio José Rodrigues Viana (primeiro beco, quem vai do lado do rio Preto, partindo da praça central), que está com seus cômodos todos tomados.

Os galãs da Companhia Dramática Cabral, com os seus cabelos longos, empoados, roupas pelo figurino da Corte de D. João VI, espalhavam-se na espaçosa praça central da Vila, à sombra da capela de Nosso Senhor dos Passos, padroeiro da Vila, do centro do cemitério, encravado nas encostas do morro dos Beatos a cavaleiro da praça central e Rua Direita.

As moças, com suas saias balão, trocam sorrisos com os galãs.

Da alfaiataria de Anselmo da Cunha Pinto Magalhães, os rapazes da Vila saem com embrulhos, contendo fatiota nova que será exibida no grande dia de hoje.

No rio Preto o movimento de barcos é importante.

A ponte do caminho da Corte, no largo do Porto, está cheia de curiosos, assis-tindo o movimento da chegada dos barcos que descem das fazendas margeantes do rio.

Dr. Gabriel Ploisquellecc Fortes de Bustamante, Juiz de Direito da Comarca, es-palhou convites a todas as pessoas de destaque da redondeza.

Vários esperam quem chega a Vila

Da janela do hotel, de quase todas as casas, pessoas ansiosas, aguardavam a chegada dos convidados.

Uma liteira desce a rua que margeia a rio em direção a fazenda Santa Clara.

É a Viscondessa que chega. Escravos carregam a liteira. Mucamas, a cavalo guardam o veículo conduz dona Maria Teresa de Souza Fortes, viscondessa de Monte Verde, viúva do Comendador Thereziano, barão de Monte Verde, senhora da fazenda Santa Clara.

Pela ponte, entra na Vila, o desembargador aposentado do então tribunal do Distrito na Corte, doutor Antônio Joaquim Fortes de Bustamante, Comendador da ordem de Cristo e Cavaleiro da Casa Imperial. É senhor da Fazenda de São Paulo, entre pajens.

Chega Carlos Teodoro de Souza Fortes, comendador da Ordem da Rosa, senhor da fazenda São Fernando.

A marquesa de Valença vem de sua fazenda- São Luiz- em aparatoso barco que atraca no largo do Porto.

O largo do Porto é o local mais movimentado da Vila.

Aí tem a guardamoria e a maior parte das casas comerciais.

Até pouco tempo era chamado o largo do Cruzeiro, por ter aí um Cruzeiro fin-cado por ocasião que o Visconde Athayde, governador das Minas, mandou abrir esse sertão à mineração.

Rio Preto está entregue às festanças pomposas, pois a estadia da cantora em seu meio é grande acontecimento.

As ruas cheia de povo; misturam-se fidalgos, a plebe e os escravos; a indumen-tária é a mais variada possível.

Ao crepúsculo a praça central da Vila, contra os seus costumes, está movimen-tada.

Na parte comercial há aglomeração. Não gente que vai ao teatro ouvir Candia-ni. É o grande número de curiosos na vontade de conhecer a pompa com que os Fortes revestem a permanência da artista na terra onde se fizeram.

Anoitece.

Os lampiões da extensa Rua Direita. Do largo do Porto e da Praça Central, com seus focos quase que pálidos quebram a escuridão ponto a ponto, lançando na continuidade de seu curso uma cambiante desoladora.

Todos movem em direção ao prédio da Rua Direita, Beco do Porto, para assim ouvir Candiani.

É um prédio assobradado, com o rez–do-chão calçado com lajes enormes de pedra, com uma escada granítica que dá acesso ao sobrado.

À fraqueza da luz ambiente, cá fora, quase não se pode reconhecer quem chega. Mas, quem sobe uma pequena escada, de poucos degraus, ali existente, e olha para o interior do prédio, aprecia outro aspecto. Está iluminada com a luz a gás. Distingue-se à porta principal do prédio, o Doutor Gabrielzinho, muito gentil, convidando a seus amigos a subir.

Não falta pessoa alguma de importância dessas paragens neste anunciado espetáculo.

Havia, ali, portadores de títulos nobiliárquicos, cujos nomes já citamos em tópicos anteriores, os elementos representativos da Vila, o Juiz de Direito - Dr. Gabrielzinho- o Promotor de Justiça, Dr. José Joaquim Fernandes Torres Junior, o Delegado de Polícia, Manoel José Espínola, o Vigário da Freguesia, Padre Martiniano Teixeira Guedes.

Um observador político se ali estivesse, pondo as suas qualidades em ação, consignar-se-ia logo, em sua crônica, a ausência completa do elemento liberal da Vila.

Havia ali somente partidários do Conservador.

À luz da gambiarra, Candiani canta, levando o seu auditório seleto e exigente às paragens da Arte, do sonho...

Alguns dos espectadores chegam a se levantar, tal o efeito causado pela voz de Candiani.

Os aplausos chovem. Outros artistas apresentam os seus trabalhos

Ao término do espetáculo, Candiani aparece para agradecer aos aplausos, quando o Dr. Gabrielzinho e Comendador Carlos Teodoro de Souza Fortes dirigem-se ao palco e jogam flores sobre a cabeça da consagrada artista.

Uma salva de palmas acompanhada de contentamentos, confessando que a Vi-la jamais tivera momento como esse.

Saem todos.

Dois vultos na semiescuridão da rua abordam Dr. Gabrielzinho. São “Tira-prosa” e Calisto, que de volta da Cava Grande, vêm dar conta do serviço feito- a morte de Pereira.

Capítulo XI

Na Fazenda Santa Clara


Logo após o martírio de Pereira, Calisto é visto na Fazenda, com uma camisa e de pano azul, molhado da cintura para baixo, chegando com uma espingarda na mão.

Um velho escravo, o Tiago da Nação Cabinda, perguntou-lhe o que estava fa-zendo e Calisto responde:

_Atirei numa capivara na volta do rio, na lavra do João Brumado.

Dessa hora em diante, cria-se uma vigilância permanente pelos arredores da Fazenda, feita por sua gente.

Todos que passam pela estrada são reconhecidos, por seus habitantes, que se acham escondidos.

O dr. Gabrielzinho logo que o espetáculo da Companhia Dramática Cabral terminara, ordenou a Calixto e Tira-prosa que, incontinente, regressassem à Fazenda Santa Clara, prometendo para o mesmo no dia imediato, o que cumpriu, chegando à Fazenda antes do amanhecer.

Pintar aqui o que é a luta que se travou no íntimo do dr. Gabrielzinho, será coisa impossível, considerando sua fraqueza das tintas com que o autor dispõe, em sua palheta, é a ineficácia de seu pincel.

É uma dessas lutas terríveis que assaltam o cérebro. É a consciência com voz mais forte, mais autoritária que transforma num báratro.  E o dr. Gabrielzinho tinha momentos de revolta, mas... acusar quem?

Ele próprio contribuíra para lançar Pereira, no túmulo das águas do rio Preto. Não...Os seus cúmplices exorbitaram as suas funções. Mas que fazer, a sua condição de mandante desse crime, monstruoso, não se alterava. Denunciar? Quem?  A quem? E, sua condição de Juiz de Direito?

 Confiava, na discrição das águas mansas do rio Preto.

Na tarde desse dia foi, com Tira- prosa, dar sal ao gado, na Fazenda dos Batistas..

No terceiro dia, depois do almoço, saiu com o mesmo e João Ilhéu, administrador da Fazenda, em direção à Santa Rita, passando pela casa de Antônio Ferraz, a fazenda Pirapitinga, mas voltou antes de chegar à Santa Rita.

Francisco Dinieli e dois outros, seus companheiros, de nomes Francisco e Lud-go.... (não entendível , FHOAA), que faziam parte da Companhia Dramática  Cabral, tornaram-se, ante do crime, amigos inseparáveis de Calisto e Tira-prosa ,e,  logo após o crime vem a Fazenda conversar com o dr. Gabrielzinho e daí desaparecem, nem  mesmo voltam `Vila, deixando de acertar contas com Candiani, com quem se contra-taram.

Estes, como Tira-prosa andavam.........................e logo após ao assassinato, exibiram suas carteiras cheias, com notas de cem mil réis.

Cumplices ou autores da morte de Pereira que fugiram à responsabilidade, com certeza. Nos autos do processo nada consta a respeito. Tira-prosa retirou-se da Fazenda antes do crime, com pretexto de ir à Corte, mas tomou rumo de Santa Rita e voltou com Calisto.

Ambos durante os oito dias que antecederam ao crime, não dormiam durante a noite, indo e voltando à Fazenda, como pretexto de correrem os boiadeiros, que, de vez em quando, dormiam com suas reses nos pastos da Fazenda.

Calisto insiste para se retirar-se de Santa Clara, mas o dr. Gabrielzinho não consente: quer ver primeiro o local do crime. E, para lá se dirigem.

Até o dia 18, antevéspera do crime, trabalhavam próximo à Cava Grande, alguns escravos, no serviço de matar formigas. Por precaução foram retiradas pelo administrador João Francisco de Azevedo, o João Ilheo.

Há ali um capoeirão que não é abatido a machado ou à foice, há vinte anos, mais ou menos. O dr. Gabrielzinho ordena ao administrador que faça ali uma limpeza, o que cumpriu João Ilheo, chamando Jacob, feitor das derrubadas e Estevam, capataz de tropa, determinando-lhes que no dia seguinte, domingo de manhã, fossem com oito derrubadores e seis tropeiros roçar o  mato, do lugar do crime e entupir o tijuco do pé da porteira, encobrindo assim os vestígios do crime. Esse serviço é feito na manhã de domino, contra os costumes da Fazenda, que não permite trabalhos nos domingos, serviço que é terminado as nove horas da manhã.

Viam-se ainda pela porteira, alguns salpicos de sangue, coisa que é notada por Antônio José de Novais, que vem de Santa Rita para a Vila, julgando ter-se ali sangrado algum animal.

Uma preocupação que assalta a cabeça de Joao Ilheo, é a presença das corren-tes na Fazenda, correntes iguais a que está amarrada em Pereira, no fundo do rio. É um indício seguro para a investigações policiais e por isso mandou que se escondes-sem todas, retirando também as que estavam em serviço e ordenou o fabrico de novas tiradeiras de madeira, como também cangas novas e meio de couro cru.

Capítulo XII

Na Fazenda de Pirapitinga.

Pirapitinga, o antigo solar de Pereira, se ergue altaneira na barranca do rio Preto.

Foi ali que o malogrado bandeirante, da terra ribeirinha fez a sua fortuna e foi ali que se concebeu a trama para o seu martírio e desdita de sua família.

A docilidade de um lar que ali se formou, soprado pela fortuna adquirida por um trabalho honesto e duradouro, foi destruída. Será que, existe entre aquelas pare-des, o mesmo sossego de outros tempos? Não! Os seus habitantes são outros e ali fez domínio, a inquietação. A fazenda é cercada de uma vigilância enorme.

Vamos ver o que ali se passa.

Os bastidores têm os seus mistérios, têm os seus horrores. Às vezes cambiantes poéticas, às vezes páginas manchadas de sangue.

Faz-se na fazenda, a batida de feijão nos dias que agora decorrem. Há aglomeração de escravos em volta da grande quantidade de feijão em vagem, estendida pelo chão, munidos de compridas varas, surrando o feijão para o desgarramento do invólucro.

Entre os escravos, estão Manoel Carapina ex-escravo de Pereira, quando proprietário da fazenda Pirapitinga, e sua mulher, a escrava Josefa.

Entre os dois houve uma discussão, e Carapina espanca Josefa, com a vara, com tanta infelicidade que esta fica prostrada no chão, vindo a falecer pouco depois, devido às pancadas recebidas.

O preto escravo é por isso preso num tronco de campanha, na mesma fazenda.

A justiça nas fazendas é geralmente, distribuída pelos seus proprietários ou pelos seus auxiliares.

Nessa emergência, João Francisco de Azevedo, administrador de Santa Clara, que aí se achava, começa a maltratar o preto escravo, pelo crime de uxoricídio. E, este entre maltrato a ele infringidos, clama:

_Porque eu sou tão maltratado assim por um criminoso também! Si matar Pereira, meu senhor, não é crime, matar Josefa, também não o é. Se continuarem, fujo daqui e vou denunciar à Justiça, os matadores do meu senhor Pereira. Sei bem quem o matou, onde, como e quando.


Capítulo XIII


Descoberto



Joaquim da Fonseca Moura, negociante na Barra Mansa, à margem do rio Pre-to, está inquieto, pois espera Pereira desde o dia 21e já estamos no 23 e este ainda não regressara.

Volta de Santa Rita, Francisco de Paula Dias Moreira, administrador da fazenda da Marquesa de Valença, trazendo a notícia de que Pereira não chegara a Santa Rita, procurando-o em casa de um parente, Francisco Carneiro, onde sempre se hospedava e, na volta, soube por seu irmão que ele não estivera em sua casa e nem subira para o Boqueirão.

Dias Moreira traz consigo uma outra carta do engenheiro Belo para Manoel Pereira.

Quem sabe se a vindita dos Fortes se realiza conjectura Fonseca Moura, em sua casa comercial, comentando o desaparecimento de Pereira, ao grande número de fregueses que se acotovela ao balcão.

Todos apoiam o que disse Fonseca Moura fazendo em torno do desaparecimento de Pereira os mais horrorosos comentários, desenhando quadros terríveis dados aos preparativos e ameaças feitas pela gente da fazenda Santa Clara, senhora do vale do rio Preto.

Com razão, pois Dias Moreira notou, pela sua passagem na passagem da Cava Grande, o roçado e aterrado recentes e no mato abaixo alguns salpicos de sangue.

Combinou-se, antes, procurar Pereira e avisar a seu irmão, saindo muitas pessoas suas amigas, para diversos lados, também Manoel Teixeira Machado, caixeiro de Moura. Isso agora em 24 de maio.

Ninguém, pela estrada, sabia do paradeiro de Pereira. Afinal Manoel Teixeira encontra pelas proximidades de Santa Clara, com Antônio Raimundo e incontinente pergunta-lhe pelo malogrado bandeirante da terra ribeirinha.

Antônio Raimundo que é a única testemunha de vista, diz que não sabe, com receio, talvez, de cair sobre si o furor “fortista”, ainda mais que sua família, deve favores aos Fortes, vivendo até em suas terras.

Desconfiado, fugindo das testemunhas, olhando para os lados, põe a mão em forma de leque no rosto, e diz ao ouvido de Teixeira:

_Procure no rio Preto, na Cava Grande, que ele está lá.

Teixeira volta à Barra Mansa, cheio de terror, trazendo a notícia a seu patrão. A casa do Moura, tornou-se um quartel; tramava-se ali a forma de descobrir o assassinato, mas como? Se fossem à Santa Clara, seriam mortos, com certeza.

Uma noite foi passada em claro por toda aquela gente, sem que resolvesse ou descobrisse uma medida a tomar.

No dia seguinte, 25, Joaquim Francisco de Oliveira, um português comerciante em Santa Rita do Jacutinga, que vem à Vila tratar de seus negócios, avista ao passar pela Cava Grande o cadáver de Pereira, em pé, no meio do rio, com as mãos levantadas para o ar, desafiando os criminosos e os denunciando à Justiça Divina. Foi assim verificado o crime dos Fortes que até o momento se encerrava num véu de suspeitas e conjeturas.

Como Joaquim Francisco de Oliveira vem à Vila, Fonseca Moura dá-lhe uma carta para pessoa da Vila, pedindo que levasse o fato ao conhecimento do Juiz de Direito, Promotor de Justiça e Delegado de Polícia para enviarem providências que o caso exige.

José Pereira, irmão da vítima, chega à casa de Fonseca Moura, entre soluços, querendo vingar-se da morte do irmão, mas como?

Uma multidão se acotovela na Cava Grande. A notícia correu veloz, e todos da circunvizinhança para lá se dirigem.

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Prevenido como é Fonseca Moura, pede a todos que não tivessem armas de fogo e não resistissem a qualquer subtração do cadáver no rio, porque os Fortes são capazes para isso. As janelas da fazenda de Santa Clara estão fechadas. Não se vê, pelas imediações, nem um escravo da fazenda, como de costume. Todos se acham às escondidas.

É um ermo a fazenda: uma fazenda abandonada, esta que até poucos dias apresentava-se como um fervilhar de formigueiro!...

Da Vila vão a Cava Grande, Dr. Gabriel Bustamante, Juiz de Direito, Dr. Joaquim Fernandes Torres Júnior, promotor de Justiça e Francisco Antônio Duarte da Silveira, 1º Suplente do subdelegado de polícia, em exercício, acompanhado de muita gente.

Iam todos para a Cava Grande, quando causando estranheza aos circunstantes, o Promotor de Justiça aconselha ao Dr. Gabrielzinho que se escondesse na fazenda, pois, podia ser alvo de alguma agressão pela parte daquela massa de povo que ali se acha.

Daí a pouco, chegam a Cava Grande “Tira- prosa” e os escravos Desiderio e Chico Gomes, aparentando surpresa, a fim de desorientar o que já se firmou em relação aos verdadeiros matadores de Pereira.

Estes puseram a canoa no rio e retiraram o corpo do assassinado, na presença do primeiro suplente do subdelegado, em exercício, Francisco Antônio Duarte da Silveira, escrivão de polícia, Francisco Prudêncio Pinto, e dos peritos intimados, farmacêutico Mariano Pereira da Silva Gomes e o advogado José Eleutério dos Santos, que fizeram o auto do corpo de delito, assistido pelo Promotor de Justiça.

O relatório dado pelos peritos é o seguinte:

“Que chegando ao lugar designado na porteira e sendo aí na porteira denominada Cava Grande nos pastos da fazenda de Santa Clara, encontraram aquém, junto a mesma porteira alguns salpicos de sangue em um caco de telha, e em algumas folhas e ramos que parecia ter havido nesse lugar algum conflito.

E, nada mais puderam pesquisar por se achar esse lugar aterrado recentemen-te e o mato de um e outro lado também roçado de pouco.

Continuando os peritos o exame além da porteira, encontraram a distância de dez praças mais ou menos, no barranco que da mesma estrada desce para o rio Preto, sinais de ter sido por ali arrastado algum corpo pesado, e seguindo estes rastros foram encontrando sangue pelas relvas, e alguns poços de sangue coagulado em diversos lugares pelo barranco abaixo até a beira do rio Preto, chegando ali, avistaram um ca-dáver dentro do rio, a distância de dez palmos, mais ou menos, que lhes parecia estar de pé e de cor branca. Declararam mais que, o lugar em que se achava esse cadáver dentro do rio, tinha sete e meio palmos, mais ou menos, de profundidade, pelo exame que procederam; declararam ainda que tirado esse cadáver para dentro de uma ca-noa, reconheceram estar nu e ser de cor branca, achava-se atado pela cintura com uma corrente de ferro grossa, tendo a mesma corrente nas pontas amarrada uma pedra que calculavam pesar arroba e meia, mais ou menos.

Declararam mais que os pés do mesmo cadáver se achavam atados por um cabresto, tendo este cabeçada de sola e láctico de couro cru que igualmente estavam uma pedra de dezesseis a vinte libras mais ou menos.

Declararam mais que observaram os punhos de ambos os braços uma grande depressão que mostrava também terem sido amarrados junto a corrente atada à cintura; declararam mais que tirado o cadáver da canoa, para a margem do rio, reconheceram ser homem de estatura ordinária, grosso, e que trazia os cabelos da cabeça aparados e neles se observavam alguns cabelos brancos e pelo resto das suíças, onde havia maior quantidade de cabelos brancos, e pelo que já ficou dito lhes pareceu ser o cadáver de Manoel da Silva Pereira Júnior.

Tendo posto o mesmo cadáver de bruços, encontraram na região dorsal abaixo do omoplata, ao lado esquerdo, quinze ferimentos destacados de pequeno diâmetro, circulados com manchas azuladas em uma circunferência de meio palmo, que mostra-ram terem sido feitas por bagos de chumbo grosso, encontraram no centro desta mesma circunferência, um ferimento de diâmetro maior com manchas azuladas que mostrava ter sido feito por um quarto de bala; declararam mais que examinando o cadáver pela frente declararam estar o ventre deprimido, sem líquido algum, e que se achava sem olhos, sem nariz, sem os lábios superior e inferior, sem ambas as orelhas que lhes parecem terem sido decepadas por instrumento cortante; declararam mais que encontraram no crânio do lado direito um ferimento transversal tendo nove polegadas de comprimento com separação do osso parietal e parte do temporal interessante a dura-máter, e que esse ferimento mostrava ter sido feito por instrumento cortante; declararam mais que examinando a boca do cadáver o acharam sem língua e que lhes parecia ser esta cortada por baixo da mandíbula junto a laringe, declararam mais, encontrar um ferimento na região precordial entre a terceira e quarta costela, tendo duas polegadas de comprimento, três linhas de largura, e um palmo de profundidade, e em direção ainda para abaixo, e que observando com atenta, ter ofendido o coração, partes adjacentes até ao estômago. Observaram também em circunferência, manchas azuladas. Declararam mais que encontraram um ferimento na região axilar do lado direito, tendo duas polegadas de comprimento e duas linhas de largura e três polegadas de profundidade e que este ferimento não mostrava em circunferência mancha alguma circulada e que estes dois ferimentos mostravam terem sido feitos por instrumento cortante e perfurante, declararam mais terem encontrado escoriações em todo o cadáver, cujas lhes parecem terem sido feitas pelos peixes, declararam mais que atendendo a pouca decomposição do cadáver julgam ter estado dentro do rio, quatro ou cinco dias.

Assinaram como testemunha no auto do corpo de delito, Antônio José Gomes e Francisco José Teixeira de Andrade.

Em seguida o subdelegado em exercício, ordenou que se lavrasse o auto de reconhecimento do cadáver, que está assinado pelo subdelegado, Promotor da Justiça, os peritos do exame cadavérico com as testemunhas presenciais: Francisco Gambier de Souza Pacheco, Antônio José Gomes, José Gomes da Costa Lima, Joaquim Fonseca Moura, Francisco de Paula Dias Moreira, Francisco José Teixeira de Andrade, Manoel Teixeira, Gabriel José Teixeira de Andrade, Lourenço Alves Moreira Vicente José Alves José Cardozo Gonçalves, Peris  Carmi, Manoel Ignácio da Silva, João José Gomes de Oliveira, Theodoro Leite de Abreu, Antônio Rodrigues e Manoel Joaquim do Nascimento.

Ao cair da tarde desse dia- 25 de maio de 1863- um grande préstito fúnebre entra na vila do Rio preto, conduzindo o corpo do malogrado Pereira, que foi sepultado no cemitério da irmandade de “Nosso Senhor dos Passos”.

Nunca se viu tanta gente na Vila, como nesse dia gente que veio de longe render a última homenagem ao bandeirante da terra ribeirinha roubado da vida tão tragicamente.

Caiu por fim envolvido na sua bandeira de idealismo, com a queda de Manoel Pereira da Silva Júnior, o chefe do Partido Liberal que toma vulto, quase que abatendo o Partido Conservador, este que foi pelo Ministro Bernardes de Vasconcelos, então Ministro do Império, na Regência de Feijó, partido que tem em suas mãos as prerrogativas de mando.

Partido que é apoiado pelo jovem Imperador do Brasil D. Pedro II, e que tem como representantes em Rio Preto, os membros da família Fortes, familiares da Corte Imperial.

[...] Horrível assassinato. Assim descreve Padre Martiniano Teixeira Guedes, ao referir-se à situação em que o corpo foi encontrado. Óbitos de Rio Preto, 1844- 1849. Folhas 165 verso. 

( Pesquisa nos arquivos da Arquidiocese de Juiz de Fora. FHOAA em2009) .

 

Adicionar legenda








 

Sepultura de Manoel Pereira















Capítulo XIV

Outras Medidas.

José da Silva Pereira, irmão da vítima, requer do subdelegado em exercício, Francisco Duarte da Silveira, que se proceda no rio Preto e imediações da Cava Gran-de uma busca, a fim de encontrar o animal que montava Pereira sela ou selim, e seus pertences, assim também as botas, botinas, esporas, colete, paletó, ou sobrecasaca, camisa, lenço de algibeira e de pescoço, coisas que se acham desaparecidas.

Deferindo o requerimento, a autoridade ordena que se intime a Francisco An-tônio de Oliveira e José Joaquim Felisberto para procederem ao requerido.

Depois doa necessários preparatórios e dos muitos esforços, os peritos forneceram à autoridade, o seguinte relatório:

[...] “Neste acto pelo requerendo José da Silva Pereira, foi fornecido à Justiça, uma canoa, vara com doze palmos, pouco mais ou menos, tendo na ponta de uma delas, um fer-ro com três voltas tortas e pontudas que se chama fisga as-sim mais canoeiros vários pretos cativos, com foices, ma-chadões e assim mais cidadãos que se prestaram ao reque-rente ajudá-los na busca dos referidos objetos.

E passando os peritos e testemunhas  que abaixo vão seus nomes mencionados, embarcaram em uma canoa, já di-ta, passaram os exames do rio  Preto, desde a ponta de um  campestre que faz volta ao rio, seguiram rio acima por sua beirada apalpando com a dita fisga no rio e em sua beira e abaixo do lugar denominado de Cava Grande, onde existe uma beira de mato por roçar nesse lugar que não puderam examinar bem, em razão do comprimento da vara e fisga se-rem pequenas visto a fundura do rio nesse lugar e da beira do campo, logo passado a porteira foram beirando o rio, eles na referida canoa e foram numa vargem fronteiriça ao mesmo rio e dali tornaram a atravessar o rio até o barranco e desceram com a canoa até a mencionada ponta do morro sempre com a mesma fisga, fincando no fundo do rio e dali tornaram a atravessar a canoa e seguiram rio acima apal-pando, como já ficou dito, com a mencionada fisga até que, não achando os objetos mencionados passaram a atracar passando os peritos e testemunha, com minha presença e do subdelegado a abater o capoeirão abaixo e o lugar onde  se diz dera o delito, cortando a madeira do roçado, desman-chando as moitas existentes, com os paus da mesma roçada e nada encontraram.

Passaram a fazer algumas escavações no leito da es-trada e nada encontraram, passaram a entupir os buracos que se fizeram na estrada, passaram eles, dito Juiz e peritos e testemunhas e cidadãos que se ofereceram a cumprir essa missão a andar no mato, do lado de cima, para obter o dese-jado. Passaram os mesmos a percorrerem os pastos por cima da porteira da estrada e a beira do rio até uns formigueiros de novo tirados e dali em circunferência até o mato próximo do pasto.

Passaram eles Juiz, Peritos e mais pessoas a darem busca nos pastos por baixo tanto, tanto na beirada do rio até a estrada da Fazenda. Passando a não encontrarem o desejado, passaram eles, Juiz e peritos e mais pessoas já de-claradas a darem busca no campo que fica por cima da es-trada da já referida e por baixo do mato também já referido lugar denominado Cava Grande, foram até o sítio denomi-nado João Brumado, nada encontraram dos objetos acima mencionados”, assinaram como testemunhas desta busca: Leonel Homem Garcia e José Thomaz Ramalho, com o oficial de justiça Antônio de Brites Ferreira.


O finado Thereziano foi quem fez a cadeia da Vila de Rio Preto.

 Trouxe da Corte uma corrente comprida destinada ao cárcere e como es-sa ficou na Fazenda de Santa Clara, por seu falecimento, o administrador Morais, mandou cortá-las em pedaços do tamanho das tiradeiras que na Fazenda se usa-va para o serviço do carro 

E como não dessem elas, as atiradeiras, precisas para todos os carros, mandou Morais fazer correntes iguais para completar o número de tiradeiras necessárias ao serviço de carros da Fazenda.

Dessas foram apreendidas mais de uma dezena na Fazenda, que trazidas da Vila de Rio Preto foram submetidas a exame e conferência.

A que estava amarrada em Pereira, pesava 14 libras e tem 40 argo-las em forma de S S, de grossura regular, de uma e meia polegada de diâ-metro e dois guinchos em sua extremidade e com comprimento de dois e meio palmos.

Foram Peritos do Exame das Correntes Antônio Anselmo Coelho e capitão Luiz Gonçalves Carneiro.

Os Jornais da Corte fazem grande alarde sobre o assassinato, incluindo pá-ginas, durante dias seguidos, publicando as diligências das autoridades e minúcias do processo, apaixonando a colônia portuguesa.


 


O subdelegado de polícia, em exercício na Vila, Antônio Duarte da Silveira, muito se esforça para a descoberta dos crimino-sos, inquirindo muitas testemunhas: administrador, capatazes, feitores, pajens e escravos da Fazenda de Santa Clara, inclusive os matadores de Pereira – Tira- prosa, Porfírio escravo, Calisto, que fingem nada saber do assassinato.


Dr Gabriel ,que se acha na Fazenda, ainda investido no cargo de Juiz de Di-reto da Comarca de Rio Preto, dirige-se ao subdelegado de polícia a seguinte car-ta:



Ilmo. Sr

Em virtude do oficio, que Va.Sa, me dirigiu  hontem, faço seguir hoje, as pessoas que Va.Sa requisita para as indagações po-liciais. Cumprindo-me dizer-lhe que não puderam hir hontem mesmo por já ser muito tarde, e alguns dos pretos achavam-se em uma derrubada longe de casa, como melhor informarão a Va. Sa. O inspetor e guardas que acompanharam as pessoas as pessoas que Va. Sa. Requisitava. Tenho igualmente a comunicar a Va. As. Que nos achamos aqui em verdadeiro estado de sítio, porque a estrada é constantemente cruzada por pessoas armadas, que já têm praticado atos de violência, contra pessoas desta Fazenda.

Meu pajem, de volta da Villa para aqui foi duas vezes deti-do no caminho por homens armados que exigiram apresentasse as cartas e meus papéis que trazia.

Va.Sa. compreende que tal procedimento é vexatório e pode  trazer reação de nossa parte,portanto peço a Va.Sa., provi-dências.

Deus Ge. A Va.Sa., Sta Clara, 27 de Maio de 1863.

Illmo. Antônio Duarte da Silveira  

DD. Sub delegado da Villa do Rio Preto.

Gabriel Proisquillec de Bustamante.








Capítulo XV

O Chefe de Polícia na Villa.

D .Inácia Maria da Silva Pereira, viúva do assassinado, pelos indícios colhidos, contando com a impunidade dos criminosos se deixassem as investigações por conta das autoridades da Villa- constitui advogado o dr. Augusto Mota de Andrade, que apre-sentou ao Chefe de Polícia da Província, a seguinte denúncia:

“Ilmo e Exmo.Sr. Dr Chefe de Polícia.

D. Inácia Maria da Silva Pereira, moradora nessa Villa vem perante V.Exa se queixar do dr  Gabriel Proisquillec Fortes de Bustamante, Antônio Inácio Ferraz ,João Francisco de Azevedo, conhecido co-mo João Ilheo ,Quintino de Lima Sampaio , conhecido como Ma-noel Joaquim da Silva, Calisto Marques da Silva e Porfirio Escravo da Exma.  Sra. Baronesa do Monte Verde e outros.

Consiste o motivo de sua queixa no que passa a expor a V. Exma:

No dia 20 do mês de maio do corrente ano, partindo meu ma-rido Manoel Pereira da Silva Junior desta Vila para Santa Rita de Jacutinga, a contratar com o engenheiro Bello a conservação do Bom Jardim de que era ele empresário, no passar pelo lugar de-nominado CAVA GRANDE, nos pastos da Fazenda Santa Clara, propriedade da Exma. Sra. Baronesa do Monte Verde foi barbara e atrozmente assassinado junto a uma porteira ali existente, com um tiro ,duas facadas e uma pancada  sobre o crâneo e depois de o terem feito sofrer cruéis e horríveis martírios arrancando-lhe o nariz, lábios e orelhas, ataram à cintura uma grossa corrente  de carro e amarraram com uma formidável pedra, amarraram-lhe os  pulsos  ( punhos) ,com uma correia, amarraram-lhe os pés com um cabresto de sola leiteiro ,de couro cru e o lançaram no rio Preto., como verá V. Exa. Pelo exame de corpo de delito.

 Esse fato de inaudito canibalismo, de hedionda perversidade e que incontestavelmente terá de ocupar uma página negra na his-tória dos crimes horrorosos, foi perpetuado por Joao Francisco de Azevedo, administrador da Fazenda de Santa Clara, Quintino Lima Sampaio, Calixto Marques da Silva, Porfirio, escravo  da Ema. Sra. Baronesa de Monte Verde e outros, por mando e ordem do dr. Gabriel Proisquilec Fortes de Bustamante e Antônio Inácio Ferraz.

As razões que atuaram no bom espírito dá queixosa ,é a fazer convencer, de que foram os acusados autores desse crime são os que passam a exibir com toda a concisão e laconismo.

A primeira é a imunidade capital e rancorosa que os mandan-tes botavam ao assassinado em consequência da estrada de Bom Jardim que este fez abrir no Pirapitinga, que devia sim encontrar com,

Presidente Pedreira, atravessando em linha reta pelas terras do doutor Antônio Joaquim Fortes Bustamante que por nenhum modo queria prestar seu apoio, opondo-se até com força, para que elas se conservassem intactas.

A segunda perseguição incessante e acirrada, nas ameaças que os acusados fariam ao assassinado, tendentes a desencorajá-lo da empresa.

A terceira é Soçobro da barca do assassinado, no Rio Pre-to, o corte ou o cerramento da ponte do Boqueirão da Mina que não podia interessar senão aos acusados únicos que se eu ponho a estrada de Bom Jardim.

A quarta é o lugar aonde foi efetuado o crime, as circuns-tâncias que o procederam e acompanharam tais como a luta im-pune e repassada de rancor alimentado nos jornais da corte desde 1856 contra o assassinado, aos processos crimes que os acusados quiseram instaurar contra o mesmo.

A imputação que um dos membros da família Fortes ( Dr. An-tônio ) quis pesar sobre o assassinado ,de um incêndio que se deu em um engenho de café na fazenda,

 os meios empregados pelos acusados para desacreditar o as-sassinado presente nas correspondentes e amigos, ausência das pessoas da Fazenda no lugar do crime e ainda indiferença seria um caso de polícia tanta gravidade- as mutilações dos membros mais importantes do assassinado foi significa o que significou ódio e rancor inveterados.

Os utensílios encontrados no cadáver como corrente e ca-bresto reconhecidas pelos próprios escravos da casa, sendo que aquelas usam são homogenias e pertencentes a mesma fazenda.

A substituição das Correntes e arreios por outras de couro fei-tas na ocasião, do aparecimento do cadáver e o escondimento dos primeiros.

 a raspadura da Serra feita no dia imediato ao que o crime se deu, feitos dois dias depois do fato em um dia ante ficado e presi-dido pelo administrador, contra os hábitos do trabalho em tais dias.

 os capangas suspeitos, c0m os quais que os acusados de vivi-am a proteção: ostensiva que se escandalosamente lhes era pres-tado por eles e seus aderentes; 

a dispersão dos mesmos, logo após o crime, tudo isso conven-cia queixosa e dos da opinião pública em cujo domínios estão to-dos esses acontecimentos e peripécias ocres é     que foram os acusados mandantes e mandatários desse tão abominável crime .

Indubitavelmente é o desanimo que sofre a queixosa com a perda de um marido, único arrimo que possuía e já empobrecido pelas peregrinações referidas que o haviam forçado a vender seus bens e consumo de sua fortuna.

 incomensurável o vácuo que deixou para seus filhos, forçados tão precocemente na orfandade pobres em geralmente pobres.

  Porém a queixosa para satisfazer um preceito legal avalia-o 200 contos de réis.

 a vista do exposto é incontestável que os acusados incorre-rão nas penas do artigo 192 do código criminal grau mínimo do artigo 16 parágrafo 4º,6º e 8º, 11º e 17º do artigo 17 parágrafo 2º, 4º e 5º do mesmo Código.

E para que sejam punidos os suplicantes dá apresente queixa e jurando a verdade do que alega, oferece para testemunhas os senhores Antônio Raimundo ou Antônio Joaquim de Oliveira Joa-quim da Fonseca Moreira Antônio José de Novaes Baltazar José dos Santos moradores nesse município Hipólito da Silva Francisco de Souza dias Moreira de galho Custódio Gomes Carneiro mora-dores no município de Valença

 Francisco de Dinelli morador em Juiz de Fora e 

para informantes os escravos Zé Antônio, Thomé Francisco Gomes Manuel Crioulo, Manuel Joaquim, Desiderio ou Felisberto, escra-vos Exma. Senhora Baronesa de Monte Verde.

E roga a Va.Sa. que encontrada esta junto ao auto de corpo de delito em original que se haja nos autos de averiguação a que se proceda no juízo da subdelegacia desta Vila as mesmas averi-guações a que se procederam na delegacia da cidade de Valença e no ofício inquirindo as testemunhas passando os mandantes e precatórias á esse juízo e perseguir-se nos ulteriores termos da formação da  culpa com a nomeação e de desistência de seu cau-sador o escravo Porfirio.

 a queixosa oferece também hoje números do correio mercan-til de 22/05/1857 a 16 de maio de 1862 

ERM como procurador Ângelo Motta de Andrade.


 Quando ia se remeter a queixa ao chefe de Polícia da Polícia da província, este chega à Vila do Rio Preto, causando surpresa a todos acompanhado de um inferior com acompanhado com 10 praças do Corpo Policial da Província.

 Nesse mesmo dia despacha a queixa tomando providências isto a 6 de julho de 1863.

Exibiu  o Chefe de Polícia, da Vila, o seguinte e expressivo do-cumento  recebido das mãos do Presidente da Província parênte-ses Palácio da presidência da província de Minas Gerais 23 de ju-lho de 1803 segunda sessão acha vossa excelência de seguir para a Vila de Rio Preto a fim de tomar a providência a respeito do as-sassinato de Manuel Pereira da Silva Júnior devendo dar me conta de todas as medidas que empregar e dar esclarecimento que obti-ver sobre o autor e autores desse crime para que de tudo deu co-nhecimento do governo imperial Deus guarde vossa excelência João jogos piano Soares   senhor doutor chefe de polícia de Zé Mário Borges

Foi como uma estouro de uma bomba nos meios conservado-res e o britânico o comparecimento do chefe de polícia da provín-cia da Vila de Rio Preto depois de ter feito uma longa caminhada a cavalo desde o Ouro Preto até a VILLA.

  e com os seus esforços não são deixando a teia, da impuni-dade as aranhas robustas que exterminaram Pereira.

 O doutor Antônio e de Souza Martins consegue reunir o con-junto de criminosos Tira-Prosa, Calixto e Porfírio escravo.

Interrogados, usando até mesmo medidas enérgicas, não por que se esgotados as suas suasórias, para se conseguir a confissão .

todos os criminosos juraram inocência.

 Mas os indivíduos, a coordenação dos fatos, as coincidências atentam cabalmente a conivência da quadrupla do bando de fas-cinas que se formaram padre extermínio de Pereira.

É escrivão do Chefe de Polícia Cândido Álvaro Pereira da Cos-ta tabelião da Villa de Rio Preto.





Capítulo 16 parágrafo

o doutor Chefe de Polícia manda intimar pessoas para serem in queridas a fim de se elucidar o mistério que até então perdura sobre o acontecimento criminoso que a influência política e mo-netária dos Fortes faz envolver num véu de impunidade.

Depõem no processo as seguintes pessoas:

1- Antônio Joaquim de Oliveira, vulgo Antônio Raimundo, 

 única testemunha de vista.

2-Antônio José de Novaes, lavrador em Santa Rita de Jacutinga

3-Baltazar José dos Santos, fazendeiro no distrito da vida Villa

4-Manuel Hipólito da Silva, negociante na Villa de Valença.

5-Padre Custódio Gomes Carneiro, vigário da freguesia de Santa Isabel do Rio Preto

6-Joaquim dá Fonseca Moreira, negociante e lavrador residente em Barra Mansa distrito da Vila de Rio Preto.

7-Felisberto, escravo da Baronesa de Monte Verde.

8-Francisco Gomes, escravo da Baronesa de Monte Verde.

9-Manoel Criolo, escravo da Baronesa de Monte Verde.

10-Desiderio, escravo da Baronesa de Monte Verde.

11-José Antônio, escravo da Baronesa de Monte Verde.

12-Thomé, escravo da Baronesa de Monte Verde

13-Manuel Joaquim, escravo da Baronesa de Monte Verde.

14 Feliciano, escravo da Baronesa de Monte Verde.

15-Francisco de Paula Dias Moreira ex-administrador da fazenda de Santa Clara e administrador da fazenda de São Luís da Mar-quesa de Valença.

16-padre João Gomes Carneiro, vigário da freguesia de São Joa-quim da Barra Mansa.

17-Dr Argemiro Correia do Rego, médico da corte que está de pas-seio na Vila de Valença e ofereceu ao Chefe de Polícia da Corte, Concelhano Eusébio, seus serviços, dizendo que ele próprio pren-deria os assassinos e os mandatários mandantes se assim o orde-nasse; oferta feita por intermédio conselheiro Genoval Antônio Nunes de Aguiar.

18- Joaquim Gonçalves Leite, lavrador do distrito de Santa Isabel do Rio Preto.

19-Manuel Teixeira Machado Carneiro, caixeiro da casa comercial Cardoso Nogueira e Moura na Barra Mansa distrito da Vila.

20-José Manuel Rodrigues Gomes, lavrador em Santa Rita de Jacu-tinga.

21-Manuel, escravo da Marquesa de Valença.

22-Marcelino, escravo da baronesa de Monte Verde.

23-João Francisco de Azevedo, vulgo João Ilhéo, administrador da fazenda de Santa Clara, um dos matadores de Pereira                              ignorância do crime.

24- José de Souza Machado, feitor da fazenda de Santa clara.

25-Manoel Joaquim da Silva, Vulgo Tira- Prosa, que finge surpresa as perguntas do chefe de polícia.

26-Cosme escravo da Baronesa de Monte Verde.

27-Adoco, escravo da Baronesa de Monte Verde.

28- Joaquim Ângelo, escravo da Baronesa de Monte Verde.

29-Diogo da nação Mina, escravo da Baronesa de Monte Verde.

30-Sabino da nação Cabinda, escravo da Baronesa de Monte Ver-de.

31-José Joaquim, da nação Bengala, escravo da Baronesa de Mon-te Verde.

32-Jacó da nação Mina, escravo da baronesa de Monte Verde.

33-Pio da Nação Cabinda, escravo da Baronesa de Monte Verde.

34-IsidoroNação Mina, escravo da Baronesa de Monte Verde

35-José Antônio, escravo da Baronesa de Monte Verde.

36-Bráz da Nação Bengala, escravo da Baronesa de Monte Verde.

37-Tito, da Nação Mina.

38-Pedro Criolo, escravo da Baronesa de Monte Verde.

39-Francisco Gambia de Souza Pacheco, lavrador na Vila.

40-coronel José Gomes de Oliveira sobrinho lavrador na vida.

41-Elisiário Mariano de Novaes administrador da fazenda Santa Clara.

42-Joaquim Fernandes Gouveia, comerciante ambulante.

43 –Domiciano Teixeira Ribeiro, lavrador

44-José Augusto Gomes Carneiro

45-Antônio Gomes Carneiro

46-Antonio Jose Rodrigues Viana, hoteleiro na Vila

47-João Bonifácio Pereira, cacheiro do hotel da Vila

48-Joaquim dá Fonseca Teixeira Penaforte.

49-Anselmo da Cunha Pinto Magalhães, alfaiate na fila

50-Joaquim Maurício dos Santos, residente da Vila

51-Ludovina Maria de Jesus, costureira e lavadeira na Vila

52-Francisco DINELLI empregado na companhia dramática capital que dava espetáculos na Vila

53-Francisco Luís Tropeiro

54-Antônio Rodrigues Valente Filho, lavrador

55-Manuel Teixeira Machado empregado no comércio

56-Antônio Joaquim de Oliveira, carregador

57- Porfírio, escravo da Baronesa de Monte Verde

58-Isidóro, escravo da baronesa de Monte Verde

59-Jose de Souza Machado, feitor na fazenda de Santa clara

60-José Domingos do Espírito Santo olheiro

61-Silvestre Mendes Ferreira Magalhães, enfermeiro na fazenda de Santa clara

62-Antonio parto, escravo da Baronesa de Monte Verde

63-Antônio Lopes, escravo na fazenda da Baronesa de Monte Ver-de

64-Vicente José Ferreira, lavrador.

65-Tomás, escravo da Baronesa de Monte Verde

66-Antônio José Inácio

67- Antônio Tristão da Cunha-

68-doutor Domingo José da Cunha advogado

69-Manoel José da Aparecida cooperador

70-doutor Modesto faria Belo engenheiro da província

71-Luiz Moreira de Campos labrador

72-Américo Rodrigues Viana, estudantes

73-José Vilela de Souza Meireles, lavrador.

74-Manuel, cozinheiro, escravo de Antônio Ferraz

75-Caetano, escravo de Antônio Ferraz

76-Cipriano, escravo da Baronesa de Monte Verde

77-Ricardo, escravo da Baronesa de Monte Verde

78-João Batista dos Santos lavrador Manoel homem Garcia

79-Manoel Homem Garcia, marceneiro.

80-Manoel Antônio da Silva, valeiro.

81-Antônio Carneiro Gomes, comerciante

82-Justino José Coelho, bilheteiro

83-Manuel Hipólito da Silva, negociantes

84-Manoel Rodrigues Gomes, lavrador em Santa Rita de Jacutinga

85-Pedro Antônio Xavier, carpinteiro

86-Florenço da Costa Nogueira, carpinteiro

87-Francisco Manuel de Sousa, negociante em São Sebastião do Rio Bonito

88-Antônio Pedro de Carvalho negociante em Santa Isabel do Rio Preto

89-Joaquim Tomé, valeiro, Residente em Santa Isabel do Rio Pre-to. 

90-Manuel Martins Serra, negociante em Santa Isabel do Rio Pre-to.

91-Manuel Joaquim, empregado de Antônio Ferraz.

92-José Vicente de Normandia e Castro, lavrador

93-Carlos Lapão de Miranda Ribeiro, negociante em conservató-ria

94-Germano, escravo da Baronesa de Monte Verde.


CAPÍTULO XVII.


Pronunciados.



Em 25 de julho de 1863, o doutor Chefe de Polícia relata em seus autos do Processos Crime e argumenta o despacho de pro-núncia:

”Visto estes autos, etc do Corpo de Delito de folhas 13 a 15, conta que no dia 25 de maio deste ano ,encontrou-se dentro do rio Preto ,10 braços além da porteira do lugar de nominado Casa Grande ,terras da fazenda de Santa Clara, um cadáver em Pé que ,sendo tirado se reconhece como ser de Manuel Pereira da Silva Júnior, este  NU , com uma grossa corrente de ferro na cintura e uma Pedra nas pontas dela de peso de arroba e meia; os pés ata-cados por um cabresto, que  igualmente prendia uma Pedra com 16 libras, havia grande depressão em ambos os punhos que mos-traram haver estado também amarrado na corrente, terem sido cortado os lábios a língua o nariz os olhos e as orelhas, a verem 16 experimentos feitos por caroços de chumbo e um quarto de bala na região do sal abaixo do omoplata esquerdo,

 um ferimento do lado direito do crânio com separação do os-so parietal e do temporal, feito com instrumento cortante, 

outro na região precordial entre a terceira e o a quarta coste-la com ofensa do coração

 e outro na região o que está lá o que selar do lado direito fei-to por instrumento cortante e perfurante 

julgaram os Peritos que o cadáver estava no rio 4 ou 5 dias em vista de seu processo de decomposição 

e reconheceu haver 7 e meio palmos d'água no lugar nem que esse se achava, 

o que confirmou- se o juízo acerca da prisão dos punhos, na corrente para o fim de ficar o cadáver nitidamente coberto pela água, e só pelo desprendimento dos punhos foi que tomou a po-sição e em que se encontrava por causa do peso das pedras pela corrente e o cabresto.

é da maior notoriedade verdade inimizade capital que a famí-lia Fortes votava a Pereira porque o tendo este aberto uma estra-da do Arraial de Bom Jardim ao Rio Preto na fazenda de Pirapitin-ga que então lhe pertencia, e onde já tinha construído uma ponte e devendo ele continuar a entroncar na da Presidente Pedreira no arraial de Conservatório

 tinha de atravessar terras dos Fortes, alguns dos quais fize-ram toda a oposição, da qual foram consequência, os seguintes fatos:

O réu Antônio Inácio Ferraz, cuja mulher pertence à família Fortes, deu ordens a Elisário Mariano de Moraes, então adminis-trador na fazenda de Santa Clara, para impedir Pereira de entrada em terras dela, além do rio Preto resultado aí, queixar-se Pereira, ter processado Morais em Valença.

O doutor Antônio Joaquim Fortes de Bustamante mandou um de seu empregado e 30 escravos evitarem Pereira de continuar a picada em suas terras e o conduziram preso à sua presença se não quisesse retirar-se; o que obrigou a Pereira a recorrer autorida-des. 

Sendo, porém, depois foi entupida a picada pelos escravos.

Uma balsa de Pereira que estava no Porto São Fernando, do rio Preto, para serviço dos trabalhadores, foi carregada de pedras, furada e submersa pelo dito Manoel Domiciano e os escravos de Francisco Gomes, Desiderio como informaram nas folhas 116 e 118 v 

A ponte do Boqueirão na estrada do Bom Jardim, feita por pereira pois cerrada pelo mencionado Ferraz em um dos pontos principais travessões que sustentavam as vigas.

 o próprio Ferraz confessa as folhas 79 a existência e causa da inimizade desde 1854, chegando a ao ponto de oferecerem os For-tes ao Governo Provincial outra estradas gratuitamente e tratar dr Fortes de abalar a crédito de Pereira na casa comercial Furquim y Irmãos do Rio de Janeiro.

 não tendo Pereira outros inimigos, só o exposto, faz suspeitar que a partiu da família Fortes o assassinato de Pereira.

O Ofício da página 190 prova que que o engenheiro Modesto de Faria Bello tem ordem da presidência, para proceder o neces-sário exame e orçamento, contratar a conservação da estrada do Bom Jardim.

Pelas contas de folha 191 datado 17 de maio se vê que para isto foi Pereira chamado a Santa Rita.

E, na noite de 17, passou o engenheiro na casa de Ferraz, co-mo consta do seu interrogatório, a folha 176 verso e da citada carta e o disse o mesmo engenheiro a desfolhas 51......................

A 20 partiu Pereira desta Vila onde se achava o réu doutor Grabriel Proisquillec Fortes de Bustamante  (que fugiu para a Eu-ropa no mês último), com destino a Santa Rita que dista 6 léguas prometendo voltar no dia seguinte, segundo afirmaram as teste-munhas sexta, sétima e oitava a folhas 97 v, 128v  e 148 v ,porém não apareceu

 ali vindo ainda no dia 22 uma carta do engenheiro repetindo chamada

 seus parentes e amigos procederam as precisas indagações tendo em vista o haver ele passado à 1:00 da tarde, em casa de Joaquim da Fonseca Moura légua e meia aquém de Santa clara e não havia chegado à casa de seu irmão José Joaquim da Silva Pe-reira que fica a igual distância além desta fazenda e acharam seu cadáver a 25 do lugar e no estado descritos no Corpo de Delito 

a 22 de maio Francisco de Paula Dias Moreira e Antônio José de Novaes viram salpicos de sangue no batente da porteira do la-do de cá, sangue coalhado em folhas das partes laterais do cami-nho e neste, mas já misturado com Terra havendo pegadas de gente e de animais cavalares reunidos.

a 24 nó obstante ser domingo, o réu João Francisco de Azeve-do, administrador da fazenda, mandou por escravos o roçar o ma-to e consertar o caminho aquém da porteira, unicamente assistiu a esse serviço, contra o seu costume; mato esse que não era roça-do há mais de 20 anos

 e apesar disto ainda se encontraram dia 25 salpicos de san-gue nas folhas e ramos, como prova o Corpo de Delito, as folhas 12 verso e a afirmar a sétima testemunha a folha 125 v.

a corrente que estava no cadáver é uma atiradeira de carro da fazenda de Santa Clara, porque só assim reconheceram diver-sos escravos dela; um dos quais ajudou a fazenda fazê-la, como é perfeitamente igual as outras que de lá se mandaram buscar se-gundo prova do exame da folha 24 e reconheceu o réu Quintino de Lima Sampaio a folha 42.

o cabresto que atava os pés é o mesmo que veio em uma mu-la russa queimada comprada pelo doutor Gabriel que é morador na mesma fazenda.

a 12 de maio, João Francisco retirou os escravos que se em-pregavam em matar formigas a pé de um morro donde se avista porteira,e a  25 fê-los voltar para esse serviço.

junta-se a tudo isso, o fato de ter ele mandado encolher to-dos os Correntes do carros e   substituídas por tiradeiras de ma-deira com as competentes combas, logo depois de aparecer o ca-dáver

e resultara a certeza de que o assassinato de Pereira foi per-petrado por pessoas da fazenda Santa Clara, no lugar da porteira da Cava Grande, onde se procurou apagar os vestígios.

A Primeira testemunha, Antônio Joaquim de Oliveira, diz a folha 54 a um em 1 hora da tarde se dirigiu para a fazenda de dona Eleutheria e ao chegar em uma volta, muito perto da porteira, ouvi vozes que indicavam algum assassinato, pelo que deu volta e subiu para onde pudesse observar; então reconheceu a voz de Pedreira dizendo que o matassem para   depois o judiarem.

não podendo vê- lo por causa do mato e por que favoravel-mente estar derrubado mais viu 4 ou 5 ,não os pôde reconhecer,  2 delas lhe pareceram o escravo Porfirio e  Manuel Joaquim

 os mesmos gritos de Pereira foram também ouvidos por 2 boiadeiros que conheceram a Manuel Joaquim dentre os matado-res porque o tinham anteriormente visto castigando um escravo em Santa clara.

conforme referida a terceira testemunha Baltazar José dos Santos cujo depoimento consta das folhas 60 e folha 64. esse Manuel Joaquim que foi feito do réu Ferraz até março deste ano e era ultimamente o cozinheiro do doutor Gabriel em suas viagens e passeios.

eu próprio réu Quintino de Lima Damião desertor do primeiro regimento de cavalaria condenado a 10 anos de prisão contra trabalho como prova o documento de folha 187 e ele confessa a poder 37 42 e 169,

o réu por filho escravo da fazenda de Santa clara em seu in-terrogatório a folha 30 a folha 36 além de outras coisas declara o seguinte deste ponto que na quinta-feira de Ascenção deste ano 14 de maio seu Quintino de Santa clara em uma mula do doutor Gabriel e voltou no dia seguinte com o réu Calixto Marques da Silva.

que na quarta-feira da semana seguinte às 2 para as 3:00 da tarde viu Pereira passar na estrada para Santa Rita cavalgando uma mula tordilha preta e após ele sair Calixto e depois Quintino armados ambos, de pistola estoque e faca, demorando se o último enquanto carregar e a sua pistola.

que ao escurecer voltou Calixto molhado da cintura para bai-xo dizendo ter atirado em uma capivara, quando o fez em Pereira, e só na manhã seguinte foi que apareceu Quintino saindo há uns a tarde para esta Vila a visitar o doutor Gabriel segundo disseram voltaram alta noite.

Que na sexta-feira 22, chegou a fazenda doutor Gabriel, à noi-te e no sábado depois do almoço dizendo a Calixto para esperar, saiu com o João Francisco e Quintino pela estrada onde existe a porteira, voltando ao meio-dia, e então despachou Calixto ao qual deu um embrulho que supõe ser dinheiro.

que nessa noite João Francisco deu ordem para no domingo seguinte rosar-se o Mato consertar se o caminho na porteira da Cava Grande.

que depois do aparecimento do cadáver de Pereira mandou ele guardar todas as correntes que tinham ganchos e trabalhavam nos carro

a ausência de Calixto, de sua morada na Conservatório, e es-tada dele em Santa Clara ,são confirmados pelos depoimentos da quinta e sexta testemunha as folhas 79 a 102.

os 2 boiadeiros ao avistar minha casa da fazenda, viram Pereira na volta que o caminho faz em frente à ela, e um Cavalheiro partiu de lá deu seu humor e saiu adiante de Pereira i quando se aproximavam de uma ponte ouviram um tiro além dela ...

CONTINUA...