fazenda santa clara ...Ouro, café e gado de João honorio de Paula motta

Apoio ao documentário Santa Clara...Clareai., lançado a 14 de Abril de 2018 em Santa Clara. Santa Rita de Jacutinga-MG

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Crime da Cava Grande.No Capítulo II, José Marinho, descreve assim o crime de Manoel da Silva Pereira Junior.


Capítulo II



Surge Pereira



         Manoel da Silva Pereira Júnior é de origem portuguesa. Fazendeiro abastado no vale do rio Preto, proprietário da Pirapetinga, fazenda cuja sede se debruça sobre o rio Preto, na confluência do ribeirão São Francisco ( hoje 2018, já foi identificada a confusão sobre sua verdadeira localização, no documentário Santa Clara...Clareai).
























É uma casa muito ampla e espaçosa.  A terra promissora e fértil. O trabalho muito bem organizado e produtivo, devido à administração de seu proprietário.


 




Fazenda de Pirapetinga às margens do rio Preto, no Estado do Rio de Janeiro, que pertenceu ao Manoel da Silva Pereira Júnior na época dos anos de 1800.

Foi vendida depois para Antonio Ferraz.

Hoje esta Fazenda recebe o nome de São Francisco.[1]





Salão da Fazenda de Pirapetinga




É casado com d. Inácia Maria da Silva Pereira, cujo consórcio há muitos filhos, maiores e menores.

Pereira é um homem empreendedor e de vontade de ferro.







Baixo, corpulento, de cinquenta e poucos anos, usa duas longas suíças que lhe caíam pelo rosto, já embranquecidas, dando-lhe um aspecto senhorial.

 É sempre visto a cavalo pelas estradas, cobrindo-se ao sol com um guarda sol roxo.

Viaja só, por toda Província, não leva consigo nenhum pajem, como é de costume à gente abastada. É um homem do povo, grandemente benquisto.

Mal grado o espírito nacionalista inundara os corações brasileiros, desde 1822, estabelecendo uma linha divisória entre estes e os portugueses; Pereira era estimado pelos brasileiros deixando à parte o jacobinismo, cedendo amizade a Pereira pelos dotes de coração que este possuía.

Empolgado pela idéia de abrir estradas, medida que vinha trazer ao vale do rio Preto inestimáveis benefícios, acompanha, com vivo interesse, todas as iniciativas a respeito.

Já se foram aqueles tempos que os governadores de Minas procuravam estabelecer barreiras naturais para evitar o extravio do ouro, tendo como auxiliar, a bruteza dos matos e asperezas das serras, acautelando bem o fisco insaciável.

Pereira segue a Ouro Preto e oferece ao Governo da Província seus serviços para que se construa a estrada idealizada, ligando Conservatória a Bom Jardim de Minas, obrigando-se a fazer às suas custas uma ponte sobre o rio Preto, nas proximidades de sua fazenda - Pirapetinga.

Com tal proposta recebe a autorização de construir pelos cofres públicos da Província, uma estrada que partisse da fazenda de Pirapetinga fosse à Freguesia de Bom Jardim, com quatro léguas de extensão.

                                                                                                         



Ruínas da ponte sobre o rio Preto, construída por Pereira, local: Areal de Barbosa Gonçalves. Vista parte do estado de Minas Gerais. Foi destruída por ocasião da Revolução de 1930[2] para evitar a penetração de forças mineiras em território fluminense. Ponte terminadas as obras em 06 de agosto de 1856






“Para alcançar a Freguesia do Bom Jardim de Minas, tem a estrada que passar pelo Boqueirão da Mira que...” outrora existia um enorme poço de uns cem metros de circunferência e cinqüenta de profundidade, formado pelas águas do ribeirão Pirapetinga, cujas bordas eram todas de imensas massas de granito que perpendicularmente formavam as paredes que continham as águas como encadeadas. Por um cataclismo ou revolução da natureza, abriu-se a rocha do alto a baixo, de uma altura não inferior a cinquenta metros, para dar passagem às águas represadas e assim formar uma bela e grandiosa obra da natureza que se chama Boqueirão, a qual por uma estrutura natural com suas paredes de rochedos alcantilados e de uma altura superior a cinquenta metros, parece destinado a ser um dia uma das mais seguras prisões do Estado”.[3]









Boqueirão da Mira.

           

De conformidade com o prometido Pereira constrói a ponte de Pirapetinga, mais adiante da sede de sua fazenda, sobre o rio Preto, terminando as obras da construção em 06 de agosto de 1856.[4]


Vestígios da Ponte sobre o rio Preto construída por Manoel da Silva Pereira Júnior. Terminada em 06 de agosto de 1856.

Local: Areal em Barbosa Gonçalves.



Estrada Manoel da Silva Pereira Júnior.

Vestígios da ponte sobre o rio Preto construída por Manoel da Silva Pereira Júnior, terminada a 06 de agosto de 1856.

Ponte sobre o rio Preto. Local Areal de Barbosa Gonçalves


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Iniciando o serviço da construção da estrada, da barranca do rio Preto a Bom Jardim, Pereira só encontrou nas montanhas da Mantiqueira, um único caminho para cavar sua estrada: o Boqueirão da Mira.
















E, a estrada passa por aí, porém, a entrada e saída é por cima do rio, por uma ponte cujas vigas são embutidas na pedra, por um e outro lado. A não ser por essa passagem estreita e decorativa, própria para celebrizar artistas dos pincéis, nenhum mortal seria capaz de entrar ou sair dele, sem ser com auxílio de asas, qual novo Ícaro no labirinto de Creta.

Com todo esforço, próprio da vontade de um Pereira, a ponte é lançada.

Outras pontes pequenas são construídas em pedra, em madeira, não pondo em conta as dezenas de bueiros, no decurso da estrada que penetra mata adentro, levando ao Campo, onde as auras brandas sopram, onde o Sol, a bruma do degelo sazonando os frutos que enriquecem a Zona, um intercâmbio animador tende ao crescimento, não só do vale do Rio Preto, como de outras plagas, realizando assim, as velhas aspirações dos governos das Províncias de Minas e do Rio de Janeiro, enraizadas no cérebro de Manoel da Silva Pereira Júnior, que o cognominaremos de “o Bandeirante da terra Ribeirinha”.

Por circunstância que Pereira ignora o governo da Província de Minas não cumpre o prometido, e, o abastado fazendeiro de Pirapetinga, dispõe-se com arroubo a fazer a estrada às suas expensas pondo em cheque a sua fortuna adquirida depois longos anos de trabalhos e com uma persistência cristã.

Quando estavam em meios os trabalhos iniciados, o Presidente da Província do Rio de Janeiro sabendo do intuito patriótico de Pereira abre um crédito autorizando, a Pereira, a construção da estrada desejada.

Em portaria do Governo da Província do Rio de Janeiro de 07 de Abril de 1857 Pereira obtém autorização para construir a estrada da Freguesia de Conservatória até a ponte de Pirapetinga[5].

O entusiasmo de Pereira cresce. Pela sua cabeça não passa a idéia que enquanto estende as pontes sobre o rio Preto, e sobre o ribeirão Pirapetinga, no Boqueirão, fazendo sua estrada penetrar mato a dento, galgando montanhas. Põe a sua fortuna em cheque.

Com a construção do trecho da barranca do rio Preto à Freguesia de Bom Jardim o seu numerário esgota-se, as dívidas tomam mais vulto, sendo obrigado a alienar alguns de seus bens, chegando até a hipotecar a Pirapetinga, para terminar a construção do caminho Presidente Pedreira a Bom Jardim.

Caprichoso no feitio da sua estrada, nem por isso atende à vontade de todos os proprietários dos terrenos em que ela se estende. Muitos desejam que a estrada passe por suas portas; outros se aborrecem porque não se conformam que suas culturas, seus domínios sejam devassados pela passagem da estrada.

Outros, ao contrário,oferecem ao construtor o local da lavoura do café, julgando assim, que Pereira não cava sua estrada ali, poupando assim o sacrifício da planta.

Não obstante esses revezes que não amortecem o ânimo do bandeirante da terra ribeirinha, já se pode transitar a cavalo da barranca do rio Preto a Bom Jardim.

A fim de se livrar de vultosos compromissos, o malogrado bandeirante vende a sua fazenda Pirapetinga, mas, absorvido nas idéias de compensações, não se aborrece, procurando agora fazer que a estrada entre em território fluminense, em busca da Freguesia de Conservatória partindo da barranca do rio Preto.

Para esse serviço de grande monta, conta com o auxílio do Governo da Província do Rio de Janeiro.

É incansável. Não conhece ainda o desânimo. É visto sempre no trabalho de sua estrada, com um pedaço de espada, cortando o mato leve, marcando o roteiro de seu caminho.

Não é um Jeremias, mas o seu Thabor não está longe.





[1] Por Fátima Helena Oliveira de Araújo e Araújo 2009
[2]“Correio de Minas” de Juiz de Fora, 04 de Junho de 1933
[3] “Dicionário Geográfico” Moreira Pinto. Imprensa Oficial- Rio de Janeiro 1889
[4] Essa ponte foi queimada por ocasião do Movimento Revolucionário de 1930, para evitar-se a penetração de forças mineiras em território fluminense.
[5] Hoje Barbosa Gonçalves, terras pertencentes aos membros da família Vilela. Local “Areal”.

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