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quarta-feira, 8 de junho de 2022
Rio
Preto - Resumo Histórico por José Marinho de Araújo
O
território que constitui o município do Rio Preto começou a ser habitado no
último quartel do século XVIII.
Fica encravado no flanco sul da Mantiqueira, estendendo o seu território por
sobre o vertente oeste da Serra Negra, e por sobre as vertentes este da serra
da Mira. Pelo lado sul corre o rio Preto divisor dos estados de Minas e Rio de
Janeiro
Não foi fácil a penetração dos
primeiros povoadores desta zona que guardava valiosas riquezas minerais, e, como
noutras partes da então capitania de Minas, aguçavam a cobiça dos mais audazes.
O solo do município de Rio Preto não só dava os minerais como a prodigalidade
de suas sementeiras. Era um solo privilegiado.
Uns
atraídos pelo ouro, outros pela fertilidade do solo.
E, assim, esses povoadores
intemeratos, que para o sertão de Rio Preto dirigiam-se, deram origem à cidade,
aos arraiais e povoados que formam o município de Rio Preto.
A atração do ouro, nos flancos da
Mantiqueira vertentes riopretanas, foi a causa primordial do aparecimento da cidade
de Rio Preto.
A zona de Rio Preto permaneceu em
sertão até por voltade1780, mais ou menos.
FEU DE CARVALHO, em interessantes artigos — O Descoberto da Mantiqueira,
publicados no «Minas Gerais», dá- nos o seu depoimento a respeito do que
colheu no estudo da história mineira.
Os descobertos da Serra da
Mantiqueira, Arrepiados e Caiethé são de d. Rodrigo José de Menezes, segundo
declaração sua, assim relata-nos Feu de Carvalho, por nós encontrada em correspondência,
com o Ministro de Estado Martinho de Mello Castro.
O descoberto da Serra da
Mantiqueira era compreendido sob a denominação de Áreas Proibidas, que por um
abuso inveterado, sem conhecimento de causa, tinha-se introduzido.
Os predecessores de d. Rodrigo
José de Menezes ignoravam completamente o verdadeiro estado em que se achava o
descoberto porque este abuse tinha-se feito misteriosamente e por meios surdos
e ruinosos para a fazenda real.
Impossível era continuar o
distrito da Mantiqueira vedado aos seus habitantes. Ainda mesmo que fosse
negado não poderia ser bem entendida a proibição para o seu povoamento. E os
caminhos do Descoberto da Mantiqueira onde se achava encravado o Sertão do Rio
Preto, tornaram-se preocupação máxima de d.Rodrigo.
O essencial da questão não consistia em haver muitos ou poucos caminhos; mas,
sim, em ser dirigidos de sorte que iriam terminar em certos pontos fixos, para
fora dos quais não pudesse passar coisa alguma de todo o recinto interior, sem
ser registrada, afim de não haver extravios. D. Rodrigo aprovou todos os atos
do intendente do ouro, Felix Vital Nóge, por ter obrado, com acerto, em
fiscalização de caminhos e outras medidas, a fim de acautelar o fisco. E
elogiou o seu procedimento ativo e vigilante.
Recomendou ao mesmo que não se descuidasse. Com a mesma vigilância e interesse,
continuasse com as suas pesquisas, a respeito das pessoas que abusivamente
tinham- se introduzido nos Campos Gerais de Santa Rita de Ibitipoca.
O intendente Nóge achou que não havia sítio para o estabelecimento de um
quartel, no descoberto da Mantiqueira, porque todo o âmbito da Serra da
Mantiqueira era cercado de matos gerais e impraticáveis.
Estes matos, rodeados por uma parte pelo rio Preto e por outra pela Estrada
Geral, - o rio corre de norte a Sul, - defendida pelas patrulhas de soldados,
uma do Caminho Novo e outra do Paraibuna, onde, forçosamente, iriam ter as
pessoas que saíssem do sitio Córrego das Pedras, dispensava o quartel.
Ali, no Caminho Novo, ou na Paraibuna, seriam registradas e apreendidas as
pessoas que fossem encontradas com algum extravio.
O que determinou o fato de ter o Governador autorizado a alguns mineiros a
fazerem socavões, foi uma informação, chegada de várias partes, vaga ou
positiva, não se sabe, de que havia grande extravio de ouro.
E resolve, por isso, mandar a estas paragens, Francisco António Rabello, um de
seus ajudantes de ordens, para com acerto, examinarem o estado em que se achava
o distrito da Mantiqueira.
Esse ajudante partiu a 17 de outubro de 1780, para Ibitipoca, examinando a
entrada desse lugar e outros mais matos gerais da Mantiqueira abaixo.
Pelas ordens de S. Majestade, era proibido que, nesses matos, se abrissem
picadas ou veredas por onde pudessem passar extravios para a capitania do Rio
de Janeiro, devendo passar- se por fora, pela estrada que achava- se aberta e patrulhada.
RODOLPHO PORTUGAL, um riopretano estudioso de historia local, em artigo
publicado na «A Ordem» jornal da cidade, de 7 de julho de 1921, assegura que as
terras do Sertão da Mantiqueira, vertentes do rio Preto, foram, por muito
tempo, conservadas incultas e desertas.
Procuravam os Governadores das Minas estabelecer barreira natural ao extravio
do ouro, pois que a bruteza dos matos e as asperezas das serras, certo, bem
acautelariam o fisco insaciável.
Entretanto, por sob as matas, pelas picadas dos índios que subiam para a
colheita do pinhão, no campo, começaram, também, a transitar os mineiros do rio
das Mortes, a salvo da argúcia dos Registros do Caminho da Garcia Rodrigues
Paes. E, assim, se fez a comunicação da Região Mineira do rio das Mortes com a
Freguesia do Campo Alegre (hoje Rezende) e outras da Capitania do Rio de Janeiro.
O Sertão do Rio Preto era habitado pelos índios Coroados.
LUIZ DAMASCENO FERREIRA, na sua História de Valença, diz que a Câmara Municipal
de Valença prestou, em 1872, ao Governo da Província do Rio de Janeiro, as
seguintes informações:
«Em 1789, por ordem do Vice-Rei Luiz de
Vasconcelos e Souza, deu-se princípio à catequese e civilização dos Índios que
residiam entre os rios Paraíba e Preto e as freguesias de Rezende, São Pedro e
São Paulo da Paraíba do Sul.
Foram encarregados dessa missão, o Capitão Ignacio de Souza Werneck, o abastado
fazendeiro José Rodrigues da Cruz, senhor da fazenda de Ubá, e o Padre Manoel
Gomes Leal que, nessa época, fizeram sua entrada no dito território e erigiram
uma frágil e pequena capela, no principal aldeamento dos índios hoje cidade de
Valença sob a invocação de Nossa Senhora - da Glória, e, por ordem do Vice-Rei
Dom Fernando José de Portugal e do Bispo Dom José Joaquim Justiniano, foi o
Padre Manoel Gomes Leal encarregado, como capelão da referida capela, de
ensinar a religião católica aos índios.»
Cerca de 1.400 índios constituíam a população humana da vertente sul da
Mantiqueira até á bacia do rio Paraíba do lado do vale do rio Preto.
E LUIZ DAMASCENO FERREIRA, no seu trabalho citado, afirma que, em 1800, foram
batizados quarenta e dois índios, dentre quarenta e nove pessoas que receberam
o sacramento do batismo, na nova capela de Nossa Senhora da Glória. Um deles
foi o cacique «Tanguará» — que passouachamar-seHyppolito.
Na carta que o coronel Manoel Rodrigues da Costa, datada de 24 de outubro de
1781, dirigiu a d. Rodrigo José de Menezes, governador da capitania de Minas
Gerais (apud FEU DE CAR VALHO artigos O Descoberto da Serra da Mantiqueira,
publicados no «Minas Gerais»—Nº XIV—28—4—37), dizia que:
«Dos ribeiros do Bananal e Bom Sucesso,
nas cabeceiras do Rio Preto, há boas esperanças de jornais, pelo que dizem os
que agora de lá vieram, e alguns fizeram Roças; porém o receio do gentio não dá
lugar a alargarem-se e na Conquista do dito gentio, há de ser preciso cautela,
sem que se mantém como costumam.
Sim, que conservem- se nas suas Vivendas, porque fazem Roças, tem Bananais, e
usam de todas as plantas, só faltam línguas para persuadi-lo a paz, a qual se
há de solicitar, e não é muito brava, o que faz é fugir; e pelo que me assegura
a pouca distância por detrás das Cabeceiras do Rio do Peixe, estão as primeiras
Aldeias, e as mais estão encostadas ao Paraíba, e giram pelo Rio Preto.»
Sob esses dois focos de civilização— Valença e Borda do Campo — estava o Sertão
do Rio Preto, inexplorado.
A freguesia de Valença foi criada em 1819 e destinada a vila desde 25 de agosto de 1801. E Borda do Campo, hoje Barbacena, vila
criada em 14 de agosto de 1791. Teve o título de Nobre e Muito Leal Vila de
Barbacena, por alvaráde24defevereirode1823.
Rio Preto era um ponto de passagem, excelente para o contrabando do ouro.
Depoimentos de pessoas antigas, afirmam que o local onde se assenta a cidade
era conhecido por Lamas de Ubá. Acreditamos essa afirmação, pois as terras desta
zona pertenciam à fazenda Ubá, de propriedade de José Rodrigues da Cruz, sita a
dez léguas da margem do Paraíba. A palavra Lamas, uma das asserções que
abraçamos, é em pregada no sentido de definir arredores, como o é em muitas
localidades portuguesas. No perímetro da cidade, doutro lado do rio Preto,
deságua no ribeirão Ubá. E esse fato vem consubstanciar uma outra asserção: a
da existência de muita lama pelas margens desse ribeirão, em cujas margens se
espalhavam sesmarias doadas por d. João VI aos primeiros povoadores do solo
fronteiriço ao solo do município do Rio Preto.
Prosseguiremos com as nossas pesquisas históricas em FEU DE CARVALHO, no seu
interessante artigo O Descoberto da Mantiqueira, acima citado:
Um ajudante de ordens do governador d. Rodrigo José de Menezes, o de nome
Francisco Antônio Rabello, trouxe ordens para fazer exames necessários nos
Matos Gerais do Rio Preto, procurando o meio mais seguro de impedir- se os
aludidos extravios e, ao mesmo tempo, indagar das pessoas que tinham pedido
licença para lavraras terras, do ouro que haviam descoberto.
Encaminhando - se pela estrada da serra, pelo ribeirão Santa Rita, por lhe
haverem informado ser o mais frequentado, pela serra abaixo percorreu seis
léguas, em caminhos de carros, abertos, e cultivadas mais de três léguas.
Dai para diante continuava o mesmo caminho de carros, pelo qual andavam bestas
carregadas, conduzindo mantimento até o rio do Peixe. Toda a estrada tinha de extensão
oito léguas.
Em todas essas extensões percorridas, encontrou varias roças antigas.
O terreno estava sendo preparado, também, em alguns pontos para roças novas. Certificaram-no
de que todos os matos achavam- se habitados por grande número de moradores, que
comunicavam- se por caminhos e picadas com uns e outros, que tinham roças
plantadas, paióis e ranchos, em que se recolhiam.
O ajudante encontrando- se com Antônio Tavares, um dos descobridores do ouro,
referiu-lhe que, no rio do Peixe, entre as barras dos rios Pirapetinga e Pouso
Alegre, que ambos desaguavam naquele, com ferros e canoas, tinha já trabalhado
e tirou duzentas e vinte e duas oitavas e quatro vinténs de ouro. Fazendo a
conta do tempo que trabalhou e a gente empregada nesse trabalho, vinha a tocar,
a cada um, por dia, meia pataca de ouro.
O guarda-mor Manoel Rodrigues da Costa, em 15 de dezembro de 1781, dá, a d.
Rodrigo José de Menezes, governador da Capitania, notícia de que nas cabeceiras
do rio do Peixe estava abrindo uma lavra o capitão Manoel dos Santos Castro em
terras concedidas pelo dito guarda- mor, e ainda não havia dado lista do que
tirou.
Ao ajudante Rabello, certificaram várias pessoas de crédito, das quais se
informou que, em muitas partes do sertão da Mantiqueira poder-se-ia creditar
jornal diário de quatro vinténs e nos rios de maior quantia, por ser o sertão
muito abundante de águas que das serras desciam e regavam a maior parte das
terras, tornando se portanto, muito úteis para o exercício de mineração.
Era crença geral do povo que a ruptura dos Mattos Gerais fora devido ao exemplo
de José Ayres Gomes, que tinham- se apoderado de um grande número de léguas de
terras nos referidos matos.
Ao mesmo era atribuída a abertura de caminhos de carros e picadas pelos matos,
por onde seguia- se à cavalo do engenho de cana que fez, a sair na fazenda que
tinha na estrada geral do Rio de Janeiro, chamada a Mantiqueira, cujas terras
possuía e proibia a todos os mais que entrassem por elas.
Constou mais ao ajudante que alguns dos moradores da estrada do Rio de Janeiro
tinham feito roças, paióis e aberto caminhos para dentro do sertão proibido,
por onde poderia, quem quisesse, passar sem encontrar a patrulha.
Em Ibitipoca, o ajudante deixou ordem ao capitão Manoel dos Santos Castro, em
Santa Rita, ao capitão de auxiliares Antônio José Machado e, na Borda do Campo,
ao coronel Manoel Rodrigues da Costa, para que, cada um deles, mandasse, em
todas as entradas assinaladas. fazer uma relação dos povoadores que se
encontrassem no aludido sertão.
O ajudante de ordens assevera que o governador poderia dar a segurança
necessária e desejada nos extravios, a vista do mapa que, com a maior exatidão,
pode fazer José Joaquim da Rocha que pelo mesmo general fora encarregado da execução.
Francisco Antônio Rabello persuadia de que o meio mais eficaz para neutralizar
os extravios, seria uma estrada nas margens setentrionais, do rio Preto, a que
geralmente chamavam Paraibuna, que fazia divisa das capitanias de Minas Gerais e
Rio de Janeiro.
Esta estrada deveria ser patrulhada desde a sua barra até à cabeceira,
proibindo-se canoas e toda a sorte de passagem pelo rio, que lhe informaram
faziam, pela sua grande extensão e defesa na maior parte dele.
Seria um serviço difícil de se executar, pois o percurso do rio Preto é de 198
quilômetros, desde as suas nascentes, nas Agulhas Negras (Itatiaia) até á foz
do Paraibuna.
Se assim procedessem, evitariam a abertura de novos caminhos.
Em 19 de julho de 1781 d. Rodrigo José de Menezes mandou expedir, ao comandante
do Destacamento do Caminho Novo, alferes José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes,
instruções pelas quais devia reger.
A ele estava encarregada a vigilância das margens do rio Preto.
Tiradentes, na carta de 25 de setembro de 1781 dava conta ao governador da
capitania de suas atividades, sobre a fundação do Caminho dos Menezes, e
vigilância sobre as margens do rio Preto, a fim de se evitarem contrabandos.
Era imprescindível a distribuição de terras. Grande número de habitantes já
vivia nestas paragens.
João Pedro de Bustamante Sá, desde 1760 vinha cultivando numa dessas entradas
das Áreas Proibidas, umas terras de que tomou posse. Lá pelos Gerais, a massa
humana disseminava- se. Membros das famílias Delgado Motta, Braz de Almeida,
Ferreira da Cunha, Gomes, lá tinham- se estabelecido com fazendas de cultura e
cuidando-se de mineração. O rio do Peixe, desde as suas cabeceiras até à foz, e
seus afluentes, como o Pirapetinga, já era bastante conhecido e bem povoado,
assim também as cabeceiras do rio Preto, como Bananal e Bom Sucesso.
Já em 1781, haviam estabelecidos com roças no ribeirão Pirapetinga, três
quartas de légua, acima da foz do rio do Peixe, Antônio José Rodrigues Pereira,
d. Úrsula das Virgens e Theotonio José de Oliveira, este a cinco léguas.
Na vertente do rio Preto, desbravando o sertão ínvio, o homem civilizado vinha,
aos poucos, peneirando.
LÚCIO JOSÉ DOS SANTOS, em sua História de Minas Gerais, depõe que, a 20 de
fevereiro de 1780, já no reinado de d. Maria I, em Portugal, tomou posse do
governo da Capitania, d. Rodrigo José de Menezes, mais tarde Conde de Cavaleiros.
A este Governador muito deve a Capitania, quiçá do município de Rio Preto.
Percebendo d. Rodrigo a ruína que ameaçava as minas, fez, á d. Maria I, uma
minuciosa Exposição sobre o estado e decadência da Capitania, propondo uma
série de medidas que revelavam grande tino administrativo (4 de agostode1780)
Construiu diversas estradas; propôs a liberdade das indústrias; aconselhou a
criação de um serviço de correios; a concessão de empréstimo aos mineiros, com
juros de 8 a 9% ao ano; a supressão da casa de fundição; a transferência da
Casa da Moeda, do Rio de Janeiro para Minas; a criação de uma fábrica de ferro,
etc.
O governo português queria ouro e não reformas. Tudo continuou na mesma.
Do que dependia de seu governo, tudo se obteve. Entre esses bens, a criação
dos Registros dos rios Preto, Paraíba e Paraibuna.
A decisão imperial n. 135, de 14 de novembro de 1822, dispensava às pessoas que
entrassem na Corte, pelos registros dos rios Preto e Paraibuna, de novas guias
de viagens, quando se retiravam.
E a de número 137, de l1 de julho de 1824, mandou cessar os emolumentos nos
registros de Paraibuna e Rio Preto, aos tropeiros e viandantes.
Continua, agora, em seu artigo publicado na "A Ordem", atrás citado,
o riopretano RODOLPHO PORTUGAL:
Mais tarde, quando o governador das Minas, Pedro Maria Xavier de Athayde Mello,
estabeleceu definitivamente Registro do Rio Preto, em torno do qual se foi
fazendo povoado, surgiram dai, as primeiras habitações humanas que formam a cidade
atual.
Decisão imperial n. 268, de 17 de dezembro de 1824, mandou abrir uma estrada
desde o presídio do Rio Preto, até entrar na comarca de São João Del Rei.
Passou a ser o Rio Preto sede de um presídio.
E o lugar foi batizado por este nome — o Presídio do Rio Preto.
Até 1800, o lugar era ainda, pelo povo, designado como A Passagem de Rio
Preto, mas, na linguagem dos autos, de posse das datas, já com ufania, se
chamava Arraial do Rio Preto-Aplicação de Nossa Senhora da Conceição de
Ibitipoca- Comarca do Rio das Mortes.
Era guarda-mor, então, Francisco Dionísio Fortes; escrivão da guardamoria,
José Leite Ribeiro Bressani, substituído, em 1801, por Cosme Teixeira Galvão,
e este, em 1807, por Francisco Maximiliano Alves de Mello. Em 1810 passou pelo
registro do Rio Preto, o sábio naturalista SAINT HILAIRE que do lugar, de seu
povo, de sua fauna e de sua flora, dá interessante anotação. (Ler Segunda
Viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a São Paulo 1822)—AUGUSTO DE SAINT
HILAIRE—Tradução de Afonso de E.Taunay.
Já por este tempo, a estrada para o Rio de janeiro era franca e, por sobre o
rio Preto, se lançara uma ponte de cercade150passes.
O espírito esclarecido dos governos da Metrópole e de Minas entendia que, com a
abertura de estradas, muito lucrariam as condições do País, derrubando aquelas
velhas idéias de proibição de aberturas de caminhos.
Entre elas, aquela plasmada no aviso imperial de 9 de maio de 1745, dirigido ao
governador da capitania, mandando proibir o uso do caminho que abriam Antônio
Gonçalves de Carvalho e outros, moradores na Aiuruoca, para sairem no Rio de
Janeiro e costa do mar, e proceder contra eles na forma da lei de 27 de
outubro de 1733.
Esse fato é relatado no trabalho organizado pela Secretaria de Agricultura do
Estado de Minas Gerais—MINAS GERAIS EM 1925 - na seguinte forma:
«HORROR ÀS ESTRADAS — A visão estreita da política da Metrópole não podia
permitir o menor progresso da Capitania de Minas e como um dos elementos de
progresso é sem duvida a estrada, o caminho que, unindo os lugares, facilita o
comércio, as cortes portuguesas impediam o seu desenvolvimento na capitania,
como já tivemos ocasião de ver em outra parte desta obra.
Aqui queremos falar apenas da carta régia de 12 de outubro de 1758,
determinando ao governo de Minas Gerais que de prontas e enérgicas providências
contra o padre Antônio Gonçalves de Carvalho e seus associados, por terem
aberto uma picada que de Aiuruoca ia sair no rio Paraíba.
Dois dias depois era expedida pelo mesmo Governador uma carta régia, ordenando
"que os réus de que se trata a ordem supra sejam sentenciados na Relação
do Rio de Janeiro." O Padre Antônio Gonçalves de Carvalho foi preso algum
tempo depois por aquele atentado, e, a 18 de agosto de 1760, entregue ao Bispo
do Rio de Janeiro para ser julgado com as culpas que tiver, em todo o caso,
porém, deve ficar inibido de voltar às terras em que estava estabelecido.
“Além dessa carta régia, outras muitas
já foram expedidas, durante essa proibição, sempre punida ferozmente, por muitos
anos.»
E por esse fato o sertão do Rio Preto permaneceu, por muitos anos, depois das
bandeiras, ainda entregue ao seu estado primitivo.
Mas, agora, visões esclarecidas aboliram essas idéias.
Rio Preto integrou- se, também, às zonas que vinham sendo povoadas.
Na extremidade mineira, chantou-se um cruzeiro de madeira lavrada; ao pé do
qual havia um cofre e um quadro representando as almas do purgatório.
Pouco além estava o Registro, ou ponto fiscal, que era tão somente um rancho
aberto como esses que, ainda hoje, a beiram as estradas.
Ali se descarregavam as tropas, cujas cargas eram miudamente examinadas e se
pagavam tributos.
Em paralelo ao rio, na esplanada, junto aos morros, se entendi ao arraial.
Todo ele era uma rua muito larga, com umas cinquenta casas baixas, separadas,
uma das outras, todas elas com seus quintais plantados de bananeiras e
laranjais.
O Registro tinha dois empregados civis. O administrador que coletava os
impostos e o escriturário.
O destacamento era de seis soldados de cavalaria de Minas, comandados por um furriel
e um cabo.
As passagens dos rios, então, tornaram-se livres. O que antes eram controladas
pelo governo, como faz certo a carta régia de 22 de abril de 1711, em
recomendação de S. Majestade ao Governador para que, com a ajuda dele,
cumprir- se a ordem que lhe enviou o provedor da fazenda do Rio de Janeiro,
para se por em arrematação as passagens dos rios e dos caminhos que vinham para
Minas, ainda que se achasse em terras de donatários, por pertencerem todos à
Fazenda Real, e cobrar o que se estiver devendo das arrecadações. que haviam
feito antes das alterações desses moradores, ouvindo aos rendeiros, e deferindo-lhes
como for de justiça
Francisco Dionísio Fortes, o segundo guarda-mor do Registro do Rio Preto, muito
se interessa pelo progresso da terra em que passou a residir. Da terra que
distribuía aqueles que vinham explorá-la. Distribuía apenas os direitos de
explorar as datas e águas minerais do sertão do Rio Preto.
E decreto da Regência, de 14 de julho de 1832, vinha coroar de êxito os seus anseios
- foi o curato de Nosso Senhor dos Passos do Rio Preto do Presídio, elevado à
Paróquia. Até então residia no Registro uma cura, dependendo da Freguesia de
Santa Rita do Ibitipoca, a que pertencia o curato.
Uma capelinha singela e pobre assentava-se no morro dos Beatos, a cavaleiro da
praça central, em meio do cemitério. Ali, os primeiros habitantes da cidade,
ouviam e assistiam os ofícios religiosos e recebiam os sacramentos da Igreja.
Estamos no fim do primeiro período do Rio Preto - as grupíaras vazias os
socavões à beira do rio, que atestavam o trabalho exaustivo dos mineradores, na
maior parte escravos, em busca da areia luminosa, já estão cansados de produzir.
Razão mais forte fez com que se afastassem os operários da mineração.
E' que só do ouro não pode o homem viver. É preciso cavar e terra e dela tirar
o necessário para o seu sucesso. E esses homens, assim compreendendo,
resolveram tratar da terra tão fértil; e cultivá-la.
E, nova época se fundou no Rio Preto — iniciou-se o segundo período: - o período
do café.
E pela bruma do tempo, no esquecimento, lá se foram os árduos embates da
procura do ouro no seio virgem da terra.
E uma planta maravilhosa começou a ser cultivada nos nossos terrenos—-o café.
Como onda, a preciosa rubiácea nos veio de Campo Alegre de Rezende, por via
Conservatória e Falcão, enchendo de verde, esse verde alinhado que embriagam
as nossas vistas, as encostas dos nossos morros.
No rincão do Rio Preto é que se plantou o primeiro pé de café, na então
província de Minas Gerais.
E isso nos afirma HILDEBRANDO MAGALHÃES, no seu artigo O café em Minas Gerais,
publicado no «O Malho», de 23denovembrode1933.
Rio Preto tomou parte saliente na revolução de 1812. Deu muitos voluntários
para essa trégua. E muitos de seus homens de destaque puseram-se ao lado do
governo constituído.
Na História da Revolução de Minas Gerais, e posta em um quadro cronológico,
organizado de peças oficiais das autoridades legítimas, há um ofício dirigido
ao Ministério da Justiça, pelo Comandante Superior da 8 a. e 13a. Legião da
Guarda Nacional da Província do Rio de Janeiro, participando as providências
que dera para reunião das Forças, no Rio Preto, datado de 21 de Junho de 1842,
diz assim: "-Tendo no dia 18 do corrente mês, às 11 horas, do dia, recebido
um ofício do Juiz de Direito de Vassouras, e algumas cartas de pessoas influentes,
requisitando — me Força da Guarda Nacional das Legiões do meu comando e a
minha presença no Presídio do Rio Preto, Província de Minas Gerais, montei a
cavalo em minha casa, às 3 horas da tarde, do mesmo dia, e como tivesse de
avisar alguns oficiais para que fizessem reunir as suas companhias só pude
ganhar Vassouras às 10 horas do dia 19, ponto central das Forças que deviam
marchar; ordenei, então, que o 3° Grupo de Cavalaria e -4ª. Companhia do 2º no
Paty de Alferes se dirigisse à Vila da Paraíba do Sul, onde devia estar já o
Chefe da 8ª (oitava). Legião. Depois de dar as providências que estavam ao meu
alcance, pude reunir cerca de 80 praças da Guarda Nacional de ambas as armas e
as fiz partir às 6 horas da tarde para o ponto do Rio Preto, onde se achava o
digno chefe da 2ª Legião de Barbacena, Nicolau Antônio Nogueira da Gama,
acompanhado do Exmo. Visconde de Baependi. e alguns outros oficiais, com as
forças de Valença e da dita 2ª Legião reunidos aos esforços dos mencionados
Chefes e Exmo. Visconde. No dia 20, á meia noite, foi quando pude juntar a ela.
E, é de admirar que há tal hora fosse recebido pela Guarda Nacional, postada em
linha, e com o maior entusiasmo, rompendo vivas á S. M. o Imperador e ao seu
Governo Legal. Pelos ditos Senhores, fui informado de que, nesse mesmo dia,
marchara uma força composta de 80 praças de Cavalaria e Infantaria Nacional do
Rio Preto, para que, de combinação com outra da Freguesia de Santo Antônio de
Rio Bonito, desalojassem os rebeldes que se haviam apoderado do Arraial de
Santa Rita de Jacutinga, o que conseguiram como soube hoje, sem dar um tiro,
fugindo os rebeldes em debandada, apenas avistaram nossas armas, e deixando,
em nosso poder, doze ou treze cavalos, e igual número de selins, com dois
clarins, que covardemente abandonaram. Este ponto do Rio Preto conta hoje com
mais de 300 praças, de gente sem disciplina, sim, mas possuída de um grande
entusiasmo e decidida dedicação à Sua Majestade, o Imperador, e às Leis que nos
regem. Acho indispensável aqui alguma Força de Linha que coadjuve a Guarda
Nacional, armamento e munições e, sobretudo Oficiais hábeis que a disciplinem
e comandem. Neste sentido tenho oficiado ao Tenente Coronel Antônio Diniz Costa
Guimarães e ao Capitão José Thomas da Aquino Cabral, o primeiro para tomar
conta das Forças que devem ocupar Santa Rita, ponto que cumpre conservar; e o
segundo para encarregar da instrução da gente deste lugar. Não posso deixar de
levar ao conhecimento de V. Ex. o denodo e coadjuvação que tenho encontrado e
todos os Cidadãos de todos estes lugares, cujos nomes mais notáveis em tempo
farei constar a V. Ex. para serem presentes a S. M. O Imperador, fazendo,
contudo, deste já, especial menção ao Dr. Antônio Joaquim Fortes Bustamante,
Antônio José Osório de Pina Leitão, administrador do Registro do Rio Preto,
Reverendo Antônio Pedro dos Reis, cidadão Luiz José de Souza e Silva, o Capitão
Thomé Dias dos Santos Brandão. Os fazendeiros vizinhos se têm prestado
voluntariamente a fazer os fornecimentos, acrescendo terem outros subscritos
grandes quantias, que já montão a 14:0003000 rs., para as primeiras despesas;
enfim, todos os oficiais Guardas e Cidadãos se tem postado dignamente. "
E pelas margens do Rio Preto, desde o Presídio até à Ponte do Zacarias,
espalhava-se a força em número elevado.
Em outro ofício trocado entre os mesmos, percebe-se que "em Serra Negra e
Rio do Peixe havia uma partida de rebeldes que impedia o trânsito de gados e
viveres que se dirigiam ao Rio de Janeiro, escolhi uma força de 160 homens de
Infantaria, e 60 de Cavalaria, deixando suficientemente guarnecido o Ponto do
Rio Preto, marchei para frente, e posto que distasse o ponto de minha partida
à Serra, fiz a marcha em três dias a fim de exercitar a força que marchava, e
que sendo, como disse de Guarda Nacional, e paisanos, nenhuma instrução tinha e
necessário era habitual a marcha e melhor habituá-la a tocar o inimigo; no
segundo dia de marcha fomos logo pressentidos pelos rebeldes que franquearam
pelo lado direito da estrada pela direção da serra, onde achavam-se bem
fortificados. "E, na tarde do dia 15, poucos momentos depois de acampar a
força na posição que pude encontrar mais adequada, indo o Coronel José Joaquim
de Lima postar os Piquetes avançados, quase a tiro de fuzil, em distância dos
rebeldes, apareceram em número de cento e tantos homens afetando embaraçarmos
de tomada daquela posição." Mais adiante diz que "um padre que diz
chamar-se Manoel Rodrigues do Couto, pedira suspensão das armas por seis
dias" e que por ali havia estado o Padre José Antônio Marinho.
NELSON DE SENNA em sua Efemérides Mineiras, diz que a 16 de setembro de 1842, o
general Barão de Caxias, nesta data, baixou uma ordem do dia, no arraial do
Rio Preto, louvando e agradecendo ao Exercito e à Guarda Nacional de Minas os
serviços prestados para sufocar a recente rebelião dos liberais derrotados na
ação decisiva de Santa Luzia.
MAX DE VASCONCELLOS, no seu livro Via de Comunicações diz que a ponte sobre o
rio Preto, na fazenda de Santa Clara, é de aroeira e foi construída em 1831.
Francisco Dionísio Fortes, o antigo guarda- mor do Registro do Rio Preto,
tornou- se proprietário e garimpeiro de grande extensão do vale do Rio Preto.
Cinquenta anos depois de seu estabelecimento no sertão do Rio Preto, era o
fazendeiro mais importante, reformando e aumentando a majestosa fazenda de
Santa Clara, fundada a maiores que, relembrando os castelos feudais do Reno,
surge à margem direita do rio Preto; é ela uma serie de edificações.
Foi Francisco Dionísio Fortes um lutador, conseguindo fortuna colossal.
E querendo corresponder à terra que, com o seu produto, lhe encheu as arcas,
procurou melhorá-la, participando com aqueles que residiam na antiga passagem
do Rio Preto, afim de que a localidade pudesse ser admirada por todos que
transitassem pelo caminho do Registro do Rio Preto, que liga a Zona do Rio das
Mortes à Metrópole.
Em 15 de abril de 1844, pela Lei Provincial n. 27- — a elevação de Rio Preto á
Vila, fincando — se num dos flancos de um morro da cidade (hoje ladeira de
Dr.Portugal) o pelourinho que simbolizava a criação da Vila.
Devido às injunções políticas a vila de Rio Preto ficou entregue a uma jigajoga
de interesses, sendo em 12 de março de 1846, suprimida pela Lei n. 285,
contentando assim ao partido situacionista que foi derrotado nas últimas
eleições.
Dois partidos batiam-se no município-Conservador e Liberal,
Os Fortes, família numerosa, senhores da situação, pertenciam ao partido
Conservador e muito prestígio desfrutava na Corte. Eram eles, todos, homens
dedicados às letras jurídicas e ocupando lugares na magistratura.
A vontade desses homens era cumprida por todos os seus amigos.
Era a lei.
Rio Preto ressentia-se a falta de uma igreja que primasse pela sua feitura,
substituindo , substituindo aquela capela dos tempos da Passagem do Rio Preto,
que se achava no meio do cemitério. Era muito pobre.
“Francisco Tereziano Fortes", filho do segundo guarda-mor de Registro,
herdeiro de grande fortuna, senhor da fazenda de Santa Clara, legou, em
testamento, certa importância e quantidade de arrobas de café, para construção
de um. novo templo. E seus herdeiros assim o cumpriram. E a 26 de setembro do
1860, realizou-se a inauguração da nova Igreja Matriz, templo vasto e de belo
aspecto.
Com esta obra despendeu a baronesa do Monte Verde, dona Maria Teresa de Souza
Fortes, viúva do Tereziano, a importância de duzentos contos.
Foi auxiliada, também, pelo seu irmão Carlos Theodoro de Souza Fortes, barão de
Santa Clara.
O Vigário da Freguesia, Padre Martiminiano Teixeira Guedes, muito se esforçou,
também, para o feliz término das obras.
Ali, próximo ao altar, existem os restos mortais desses três bem feitores e, na
sacristia, os retratos a óleo, dos construtores do templo, homenagem prestada
pelos seus contemporâneos,
A baronesa de Monte Verde que, mais tarde, em 1867, foi agraciada com o título
de viscondessa do Monte Verde, recebeu, no dia da inauguração, grandes
homenagens.
Um fato doloroso deu-se a 20 de maio de 1863. E' assassinado nas proximidades
da fazenda de Santa Clara, o português Manoel Pereira da Silva Júnior. De um
emaranhado de motivos, como sejam: -abertura de uma estrada pelos terrenos dos
Fortes,- campanha difamatória feita pela imprensa por Pereira, aos Fortes- e
questões políticas, pois Manoel Pereira da Silva Júnior constituíra-se chefe do
partido liberal, houve esse desfecho que causou o degringolar da importante
família. Dali só ficou em Rio Preto, isto mesmo na fazenda de Santa Clara, a
viscondessa do Monte Verde, e, na fazenda de São Fernando, no estado do Rio, o
barão de Santa Clara. Os demais membros retiraram-se e outros fugiram à ação da
justiça, como o Dr. Gabriel Ploiskellec de Bustamante, juiz municipal do termo,
principal mandante do crime, indo se homiziar na África.
A vila que havia sido criada novamente a 11 de julho de 1857, pela lei número
853, foi, em consequência desse fato, transferida para a Povoação de Nossa
Senhora do Porto do Turvo, pela Lei número 1.191, de 27 de julho de 1864.
Devido à luta entre conservadores e liberais, posteriormente, a vila fora
suprimida pela lei nº 285, de 12 de março de 1846, e restaurada, pela lei
provincial nº 472, de51demaiode1850.
Com a queda do prestígio dos Fortes, causada por uma devassa feita pelo Governo
da Província, cumprindo ordem do Paço Imperial, Rio Preto entrou numa fase de
estacionamento.
O período do café que constituiu o segundo período de Rio Preto estava, nessa
ocasião, em pleno esplendor. Mas ficou prejudicado com o acontecimento de 20 de
maio de 1863. O entusiasmo criado pelos Fortes, na lavoura de café,foi
amortecendo,declinando.
E, a Guerra do Paraguai veio dar uma solução a esse hiato. As vistas dos
habitantes de Rio Preto ficaram voltadas para os campos da luta. Certo ânimo
esboçara-se no comércio; a lavoura começou a ser tratada com interesse.
Terminada a guerra, um surto de progresso soprou por sobre Rio Preto. Muitos de
seus filhos lá estiveram e voltaram cobertos de glórias, como Francisco Gomes,
Policiano de Lacerda e outros.
E Rio Preto, como demais partes do país começou a sentir os efeitos do
entusiasmo pós-guerra Paraguai: os brasileiros, ainda sofrendo as consequências
das refregas, revelaram em si, um espírito criador, adotando organizações no
trabalho e procurando dar largas ao espírito inventivo para resolver de modo
prático as necessidades da vida.
E pelo Presídio, o caminho da Corte para as zonas do Campo e Borda do Campo
tornou-se bastante comercial. Tropas e mais tropas conduzindo produtos da
lavoura por aqui transitavam. E, o Presídio ergueu-se, iniciando-se, então, o
terceiro período — o período da cana-de-açúcar. Não havia uma grota em que não
existisse um engenho de cana. A lavoura de café começou a ser substituída pela da
cana-de-açúcar.
E, um trabalho para ser novamente instalada a vila de Rio Preto, notou- se na
antiga Passagem do Rio Preto novos valores políticos começaram a
manifestar-se.
A lei Provincial n. 1844, de 13 de Setembro de 1870, transferiu a sede do
município de Turvo para Rio Preto. A primeira etapa estava vencida.
Em 22 de julho de 1871, a sua instalação fez- se solenemente no Paço Municipal.
Sob a presidência do Tenente Coronel Antônio Belfort Ribeiro de Arantes,
presidente da Câmara Municipal do Turvo, que viera para esse fim, abriu- se a
sessão de instalação, com a presença dos vereadores Cândido Alves Coutinho, Dr.
Manoel da Silva Gouvêa, Barão de São José, Manoel Dias Santos Brandão, Dr.
Mariano Pereira da Silva Gomes e tenente João Baptista Gonçalves da Costa
Pires. Aos vereadores foi deferido o juramento que prestaram aos Santos
Evangelhos e empossada a Câmara.
Serviu de secretario Diogo Alves Ribeiro do Valle
Foram empossados depois os vereadores Francisco Vieira Valente, João Evangelista
de Souza Franco, Ildefonso Antônio Duque e Antônio Faustino da Silva Pinto, que
também faziam parte da primeira Câmara, e não se achavam presentes no ato da instalação.
Câmara elegeu seu presidente o Senhor capitão Cândido Alves Coutinho e secretario
efetivo o Sr. Francisco Antônio Duarte da Silveira.
Uma alegria natural se notava em todos os meios da vila, irradiando-se de todos
os semblantes uma festiva satisfação.
Os ódios partidários desapareceram, uma emoção sem limites comungou a alma dos
riopretanos.
Novas esperanças se focalizaram.
A lei número 1.781, de 21 de setembro de 1871, eleva a vila de Rio Preto à
categoria de cidade, título até hoje vigorante.
E a lei provincial número 2.210, de 2 de junho de 1876, criou, em Rio Preto,
uma comarca de segunda entrância, entrando em exercício o primeiro juiz de
direito da comarca, o doutor Lucas Antônio Monteiro de Castro.
As estradas que alcançavam Rio Preto começaram a ser bastante movimentadas. A
idéia de uma estrada de ferro que ligasse a Corte a Rio Preto começou a ser
ventilada. Com a inauguração dos trilhos da então estrada de ferro União
Valenciana, em Valença, o Dr. Alberto Furtado, riopretano ilustre, cobriu-se de
ânimo para trabalhar junto ao governo, a fim de conseguir para Rio Preto, tão
útil melhoramento.
E os seus esforços foram coroados, em 6 de novembro de 1892, com a inauguração
da linha, cujos trilhos atingiam acidade.
Foi festiva a inauguração, contando com a augusta presença dos Condesd'Eu.
Um surto de progresso, por essa ocasião pairou sobre a cidade: Com a vitória do
ideal republicano, o Dr. David Campista, então intendente municipal, passou a
melhorar as condições da cidade. Outro espírito brilhante passou a orientar os
destinos de Rio Preto — Gastão da Cunha.
Sob a sua influência, fundou-se a Santa Casa valendo-se de legados, como o de
Barão de São José. O Barão de Santa Clara, já idoso, ainda o auxiliou nesses
anseios.
Em 12 de dezembro de 1917, fez-se, na cidade a primeira experiência de luz
elétrica, fornecida pela usina construída e montada pelos Srs. Caldas &
Costa.
Em 19 de julho de 1919, instalou-se, em prédio próprio, o Asilo São Vicente de
Paula, afim de ali abrigar a velhice desamparada.
Decreto Estadual de 30 de maio de 1919, sob o n. 3188, criou, em Rio Preto um
Grupo Escolar.
Decreto Estadual de 20 de Fevereiro de 1930 criou, em Rio Preto, uma Escola
Normal Oficial, de primeiro grau.
Com a ascensão do farmacêutico Dermeval Moura de Almeida à presidência da
Câmara e ao cargo de Prefeito, este em 1931, a cidade passou a receber melhoras
ao seu aspecto.
Fim
segunda-feira, 6 de junho de 2022
A
ponte que passa entre o Boqueirão da Mira, construída por Pereira, é uma obra
de arte
A ponte que passa entre o Boqueirão da Mira,
construída por Pereira, é uma obra de arte que está causando no círculo dos
engenheiros sérios estudos devido à sua construção. É ali que seu construtor vê
o motivo para que sua estrada seja reconhecida.
Muito sólida, dá passagem diariamente às boiadas
que descem pelas serras do Bom Jardim, às tropas e aos cavaleiros.
Se conseguisse jogar a ponte ao fundo do ribeirão
Pirapitinga que por ali passa apertadinha vinha não só desmoralizar Pereira,
como arruiná-lo. Dessa forma não poderia esperar como era seu desejo, serem
indenizados pelo Governo da Província os seus vultosos gastos na construção de
estradas e pontes.
Seria uma estúpida agressão ao infortunado
bandeirante da terra ribeirinha.
E, numa noite, em dia e mês do ano de 1856,
Belizário Mariano de Morais, o administrador de Santa Clara, acompanhado de
Calisto, “Tira-Prosa” e muitos escravos da Fazenda, vão ao Boqueirão trazendo
sua gente munida de serrotes, mandando cortar as travessas da ponte,
deixando-as de forma que na passagem de qualquer peso, cairia no ribeirão.
No dia seguinte- o milagre- passa uma boiada e
nada acontece. Pouco depois o madeirame descia pelas águas agitadas do ribeirão
Pirapitinga.
A este respeito o “Correio Mercantil”, da Corte,
na sua edição de 16 de maio de 1856, publica o seguinte:
“A estrada do Boqueirão e a atrocidade inaudita”
O “Jornal do Comércio” e “Correio Mercantil”, de
11 do corrente publicaram ambos nesse mesmo dia uma notícia de grande alcance a
que deve se prestar a toda atenção. Diz a “Gazetilha”
-Escreve-nos de Minas – A 20 de Abril de noite,
homens perversos dirigiram-se à ponte colocada na estrada do Boqueirão,
ultimamente feita pelo Sr Manoel Pereira da Silva Júnior, e ali armaram uma
terrível cilada aos pobres viandantes, boiadas e tropas; arrancados os
corrimões e muitas taboas do assoalho lateral, cortaram à serra as travessas
sobre as quais descansam as linhas do mesmo assoalho( o lateral), e as deixaram
presas pela grossura uma polegada e tanto; o menos peso seria o bastante para
levar ao abismo, passageiros e bagagens, mas a Providência Divina, passou logo
uma boiada de sessenta rezes sem o menor perigo !
Fez-se o auto do corpo de delito, mas, talvez,
nisso ficará!”.
O “Correio Mercantil" coincidindo em dar a
mesma notícia e um pequeno artigo, já deixava entrever melhor o fim a que se
dirige a inocente publicação, acrescentando que os moradores da vizinhança,
correndo imediatamente a escorar a ponte, perguntaram entre si, quem seria esse
perverso, essa alma de tigre, esse assassino mesmo, que cometeu semelhante
fato?
E, a essas perguntas o boiadeiro que assinou o
artigo respondeu:
Segundo certo escritor quando se quiser conhecer
o autor de um crime, procure — se antes de tudo saber a quem ele pode
interessar.
Com efeito, se essa notícia, não for da meia
noite, o atentado merece exemplar castigo, e as mais rigorosas investigações
para o descobrimento de seu autor, muito mais havendo já o corpo de delito;
porém se começar aparecer descontos á notícia, dá se o publico a custar a crer
que os serradores pudessem de noite, as escuras, regular a polegada de grossura
que deixaram madeiras ou enfim se o negócio for algumas das costumadas
invenções para serem decantadas pela imprensa como fingida oposição à sua
estrada: então, meus senhores, botem, por hora, de quarentena a sua notícia
porque o cansado romance e fingimento de perseguições ou oposições já está tão
gasto e tão calvo, que nem mesmo a tal polegada de grossura que a serra deixou
as taboas, poderá tapar - lhe a calva; nesse caso, aplicando a doutrina do
escritor do nosso boiadeiro, cada um de nós interrogará a si próprio:- Quem
será o miserável que tem o interesse em inventar tão ridículos embuste “.
"O Imparcial".( por Araujo, José
Marinho,”Crime da Cava Grande”.
quarta-feira, 25 de maio de 2022
[... ]No seu segundo memorial, os índios pediam fôssem os terrenos demarcados na forma da lei, para que se evitassem novas violências e que sôbre as terras que excedessem fôsse imposto o pagamento de foros, exigidos àqueles que, futuramente, quisessem cultivar. Insistiam também os suplicantes — como se vê no documento acima — na nomeação de outro diretor dos índios, para a sua proteção e direção. Decorrido algum tempo, sem que tivesse qualquer solução o caso atinente à devolução das terras furtadas aos índios, os Coroados, por seu procurador Francisco Dionísio Fortes de Bustamante, novamente apelavam para a Sua Majestade: — “Senhor. Dizem os indios Coroados da aldêa de Valença, freguezia de Nossa Senhora da Gloria, entre o Rio Preto e Parahyba, comarca d’esta cidade e côrte que ha mais de 15 annos que os supplicantes foram aldeados por seu director o fallecido José Rodrigues da Cruz, de ordem de vossa magestade. “Era o districto que hoje occupam antiga morada dos supplicantes, e depois que reconheceram a vossa magestade por seu soberano foi-lhes demarcado terreno para cultivarem, e d’onde tirassem a sua subsistência; foram-lhes igualmente facilitados outros meios de dinheiros, viveres e tabaco de fumo, tudo á custa da real fazenda; mandaram-se-lhes abrir caminhos para o interior do sertão, e ultimamente tiveram a dita de lhes ser dado um parocho, para os instruir e guiar pelo caminho da fé e da religião como mostra o documento N. 1. “Tudo assim correu bem a favor dos supplicantes emquanto lhes assistiu aquelle expressado director. Falleceu este, e desde esse tempo teem os supplicantes sido perseguídos com toda a sorte de vexação; são todos em menos preço por aquelles visinhos e por elles roubados, como se vê da carta N. 2, e ultimamente esbulhados do terreno que lhes fôra mandado dar por vossa magestade por Eleuterio Delphim e outros, que a titulo de inculto obrepticia e sobrepticiamente o obteve de sesmaria com tão notoria violencia dos supplicantes que nem o terreno mesmo immediato á igreja lhes deixaram. “Representaram já os supplicantes uma vez á vossa magestade immediatamente e instruiram o que allegam com documentos; mas foi o primeiro d’aquelles requerimentos mandado a informar ao dezembargador ouvidor da comarca em 5 de Março e o 2o a 18 de julho, e ainda não foram deferidos. “E porque todo o mal vem aos supplicantes de não terem nem director nem procurador n’esta cidade que promovam os seus interesses, nem elles o podem fazer por si, porque não sabem fallar portuguez, e aos supplicantes se segue gravissimo prejuizo na demora, porque lhes vae passando o tempo de fazerem suas roças, sem as quaes não podem subsistir: “Pedem a vossa magestade que por effeitos de soberana commíseração se digne fazer-lhes a mercê de lhes mandar nomear por director o capitão Miguel Rodrigues da Costa; e restituir o terreno que lhes foi indevidamente tirado pelo expressado Eleuterio Delphin e outro:. E.R.M. — Francisco Dyonisio Fortes de Bustamante.” (23) (23) Rev. do Inst. Hist. e Geogr. do Brazil — pág. 524 — N. 15 — 1854. VALENÇA ALDEIA, Iório, Leoni.[...]
segunda-feira, 16 de maio de 2022
(...)A Estrada do Bom Jardim e o Menino Gabriel.( não há no original).
Acervo de Rodrigo Fortes
[...] Quando todos cuidaram que esta grande via de comunicação, a mais importante para os municípios de maior produção do sul de Minas, estaria livre e desassombrada da guerra que há seis anos lhe move o capricho de uma célebre; quando ninguém supunha que essa guerra reaparecesse em vista do fato incontestável de fazer-se por esta todo o trânsito que de outrora pelas estradas do Chora e Santa Rita de Jacutinga se fazia; quando finalmente, essa estrada e sua direção, ultimamente examinada por dois engenheiros distintos, foi por eles julgadas as de melhores condições não só para rodagem de primeira classe, como para uma via férrea de declividade nunca excedente a 1 ½ %; eis que aparece nas colunas do Correio Mercantil de 28 de março último, oculto como sempre, o menino que compõe a epígrafe deste artigo, dirigindo chalaças e delusões indiscretas, ou melhor, estúpidas, aos Srs. Engenheiros Aroeira e Manoel Pereira, pelo fato de haverem percorrido juntos as duas estradas que se disputam a preferência. Não refutaremos essas parvas alusões, porque elas se acham refutadas pelo contraste de caráter que há entre o agressor e os agredidos.
Escrevendo
este artigo, só temos em vista informar o público da pertinácia com que se
pretende ainda demorar a solução da mais célebre questão que nesse gênero tem
aparecido, e que o mesmo público aguarda com interesse. Certo o mesmo Gabriel
de que o engenheiro Aroeira não fora fascinado pelo melodiano canto das sereias
bípedes, a quem fora por ele apresentado, com a mesma facilidade com que o Sr.
Domonte se fascinara pelas sereias quadrúpedes, e nem tão pouco a riqueza e
magnificência do palácio em que fora hospedado lhe haviam ofuscado a vista e
transviado a razão para não distinguir o superior do péssimo, partiu
imediatamente para o Rio de Janeiro para informar ao tio doutor desse raro e
espantoso fenômeno!
Dias
depois seguia ele a caminho de Ouro Preto munido de cartas de empenho para que
o presidente de Minas não desse crédito às informações do engenheiro Aroeira,
visto como, tinha ele feito os exames das estradas em questão em companhia de
Manoel Pereira! Esquecia-se o menino que tinha ido debaixo de chuva, por
caminho quase intransitável por causa da enchente do Rio Preto, encontrar o
mesmo engenheiro, obsequiá-lo acompanhando-o no dia seguinte até a fazenda
Santa Clara, onde pernoitaram sem que esse fato inspirasse o menor receio a
ninguém, tanto a respeito do caráter do hospedante, como da honradez do
hospedado.
Esquecia-se
ainda que dias antes o Sr. Albergaria, encarregado pelo governo de examinar de
passagem a questão, viajara com seu tio, que também o fora encontrar na vila do
Rio Preto e recebera dele uma besta de sela; fora acompanhado de José Theodoro
Rodrigues e Joaquim Pereira, percorrer parte da estrada do Boqueirão, sem que
ninguém suspeitasse ou suspeite da honradez e caráter sério do Sr. Albergaria
por ter recebido um mimo do Sr. Carlos Theodoro, fazer o exame acompanhado por
dois homens capazes de prestar-se a ações e atos indignos. Continuemos. Além
das cartas de empenho, o menino fora autorizado para oferecer gratuitamente ao
governo a estrada que seu tio já havia oferecido na administração do Sr.
Conselheiro Carneiro de Campos, e fora por ele aceita essa oferta mentirosa!
Agora, porém, redobravam as condições vantajosas da oferta, cresciam os
sacrifícios patrióticos e aumentaram rasgos de generosidade em favor do público
e dos cofres provinciais! Que raro exemplo de patriotismo (digno de ser
imitado) praticado repetidas vezes pelo homem que antes de aparecer a ideia
desta estrada nunca os praticara para tornar o seu nome conhecido! Quem diria
que a estrada do Bom Jardim havia despertar no coração de homens tão excêntricos
o fogo de um entusiasmo tão patriótico a favor de melhoramentos de que tanto
carecemos?! O que, porém, se não conforma com isso tudo é acharem-se duas
pontes fechadas sobre o Rio Preto, sem que o público possa gozar dos excelentes
caminhos, de que nos fala o menino em seu artigo, que atravessam as fazendas
dos Srs. Fortes, que, segundo ele diz, sempre estiveram francos a todos! E os
ferrolhos? Ah! É para que o público não vá dar uma volta sem conhecimento de
causa! Está explicado! Muito bem! Continuemos. Além das cartas de empenho,
repetição de ofertas gratuitas etc., o menino teve ordem expressa do tio para
que dissesse a todas as pessoas com quem falasse o seguinte: - Manoel Pereira
não possui um só vintém, vendeu tudo quanto possuía para pagamento de dívidas,
está desgraçado! - Esta linguagem, como meio muito honesto e honroso do nosso
herói para atravancar a estrada que o incomoda, não é nova, ela é irmã gêmea da
mesma estrada, ou mais antiga por outros motivos mais sérios e graves.
Com
efeito, o nosso menino como sempre, nunca se esqueceu da fórmula recomendada, a
qual já tanto se acostumou, que repetia a um mesmo indivíduo três a quatro
vezes para o tornar bem ciente dessa circunstância importante para a causa de
seu tio. E nós que desejamos auxiliá-lo nessa tarefa nobre, assim como em todas
dessa ordem, autorizados pelo Sr. Manoel Pereira, declaramos que talvez seja
essa a única verdade de que ele se serve para o triunfo de sua causa; mas asseguramos-lhes
também que ainda essa circunstância não atravancará a estrada do Bom Jardim,
ela continuará a melhorar-se todos os dias, a conservar-se constantemente,
muito embora produzam as cartas de empenho e a nova oferta o efeito desejado.
Desse
modo fica dispensado o menino Gabriel de continuar com a sua árdua tarefa,
porque, nós o repetimos: - Manoel Pereira não possui um só vintém, vendeu tudo
quanto possuía para pagamento de credores; está desgraçado! Mas a estrada do
Bom Jardim continua e continuará!
Duas
palavras mais para descrever o menino Gabriel.
Este
herói, para ser conhecido o caráter, basta vê-lo, ouvi-lo e cheirá-lo. Visto, é
um alfaiate de Paris! Ouvido, é o símbolo do pedantismo! Cheirado, é um vidro
de almíscar ou patchuli! Mas como nem todos o vêm, nem todos o ouvem e nem
todos o cheiram, vamos cantá-lo em verso, porque em prosa está cantado.
I
Quando vires,
leitor,
Menino magro
e comprido
Trajando mui
presumido,
Terás um
certo doutor,
Formado para
o amor.
Nunca para
questões sérias,
Porque as
suas misérias
Tornariam-se patentes
Desenganando
as gentes
De seu saber
em matérias.
II
Foi bonito, é
bem-feito,
Corpinho
bastante esguio,
Não se parece
com o tio;
Espicha a
perna, anda direito,
Em namorar é
perfeito;
Promove suas
conquistas,
Mostrando
aparentes vistas
De no futuro casar-se
Com aquelas
que enganar
Com promessas
já previstas!
III
Com luvas
pretas calçando
Vê-lo-ás a
toda a hora,
Calça estas
as tira fora,
Sempre de cor
variando,
E os gaiatos
zombando
Do boneco
perfumado:
Ande eu bem
enfeitado
À custa de
meus parentes,
Diz ele
mostrando os dentes,
Embora seja
zombado.
IV
Meu solar é
em Lisboa,
Diz ele sério
falando,
Embora esteja
eu andando
Por essa
terra à toa
Eu tenho nome
na história,
Desses feitos
de glória
De minhas
antepassadas,
De lauréolas
coroadas
Por mais de
uma vitória.
V
Circula em
minhas veias
Régio sangue
puro e nobre,
Muito embora
eu seja pobre,
Tenho solar
com ameias;
Estou livre
das cadeias,
Castigo dos
plebeus,
Muito embora
sejam meus,
Desprezo essa
canalha,
Oriundos de
gentalha,
Vil raça de
pigmeus.
VI
Gasto
dinheiro a granel,
Disse mal, eu
não sou pobre,
Por ordem do
tio nobre
Que guerreia
o Manoel,
Propago certo
aranzel
Para chegar
ao meu fim;
Todos
acreditam sim
Não continuar
a guerra,
Pois gastou
tudo na terra
Da estrada do
Bom Jardim.
VII
Petit maître
singular
Serei da
história moderna,
Enteso bem
minha perna,
Contradanço,
sei bailar,
Farto a todos
de cheirar
As minhas
perfumarias,
Que enjoam
por muitos dias
Quem tiver de
as aturar,
Dou-me em
tudo a revelar,
Até nas minhas
manias.
VIII
Aqui tens,
caro leitor,
O retrato
lindo e fiel
Do menino
Gabriel
Apelidado
doutor;
Sinto, porém,
certa dor
Que, sendo
ele togado,
Seja só
advogado
No distrito
da relação,
Que lhe negou
permissão
De ser nunca
magistrado!
IX
É mentira,
ele dirá
Quando ler
este jornal,
Sou juiz
municipal
Por um régio
alvará;
Bem caro me
pagará
O poeta
desprezível
Que,
reduzindo-me ao nível
Da mais
simples expressão,
Feriu o meu
coração
Na fibra a
mais sensível.
(ass.) Pois
não! Que esperança!
Correio
Mercantil – 28 de abril de 1862
Gabrieladas.
Continuemos a cantar em verso o menino
Gabriel; antes de tudo, porém, transcreveremos uma notícia que o correspondente
de Portugal transmitiu ao Diário do Rio e que foi publicada no dia 23 de maio,
que diz respeito a esse nosso inocente herói. Começa assim: “Os jornais do
Porto dão conta de um desastre de que foi vítima, no convento das Ursulinas,
uma menina de nove anos. A infeliz menina chamava-se Eliza Gabriel Ploesckelech
Fortes de Bustamante, filha de um rico brasileiro chamado Gabriel Ploesckelech
Fortes de Bustamante, que ainda há pouco concluíra na Universidade de Coimbra a
sua formatura em Direito: essa infeliz menina morreu vítima do fogo, etc”. Que
pena e que dor temos de não conhecer essa menina! Se a conhecêssemos, talvez
tivéssemos prevenido essa lamentável desgraça, advertindo-lhe que se
acautelasse do fogo, porque seu pai era um formidável e forte busca-pé, que por
onde passava queimava, quando não chamuscava.
Cantemos
o desditoso e infeliz pai da infeliz Eliza.
I
Passo uma
vida feliz
Devido a duas
questões
Gasto
dinheiro aos milhões,
Sem olhar
para o que se diz.
Minha tia
nunca quis
Em tais
questões figurar,
E muito menos
gastar
O dinheiro
que seu esposo,
Levando vida
sem gozo,
Custara tanto
a ganhar.
II
Eu, porém,
que sei falar
Linguagem mui
sedutora,
Engano a
pobre senhora
Para dinheiro
me dar;
Rio-me do seu
chorar
Quando ela
diz, meu sobrinho
Poupa esse
dinheirinho
Que tanto
custou juntar,
À força de
mal passar,
A teu tio,
coitadinho.
III
Acredite,
minha tia,
Seu conselho
seguirei;
Jamais nunca
gastaria
Com bazofia
ou bizarria.
Nunca mais
esqueceria
Essa
lembrança da história
Que faz a
nossa glória
O nome de
Thereziano,
E o de José
Floriano,
De mui
saudosa memória.
IV
Sei da história
desgraçada
Deste último,
tio meu,
Que na
indigência morreu,
Não herdando
de nós nada;
A família
malfadada
Sofre demais
a opressão
Que contrista
o coração
Do ente o
menos sensível,
Mas é vontade
invencível
Do tio Dr.
Zangão.
V
Portanto não
gastarei
Sem motivo
justo e nobre
O dinheiro
que ao pobre
Ele e não eu
roubei
Brevemente
voltarei
Desta viagem
ligeira,
Darei conta
verdadeira
À minha boa
madrinha,
Que verá da
conta minha
Não ter gasto
em bandalheira.
VI
Sigo então
para Minas
Com ricos pajens
fardados,
Quase como eu
perfumados,
A conquistar
as meninas
A quem repito
mofinas
Até fazê-las
ceder;
E depois
venho dizer:
Minha tia,
mais dinheiro,
Que o
remendão carpinteiro
Pretende a
questão vencer.
VII
Que vergonha
minha tia,
Se tal coisa
acontecer!
Tio doutor há
de morrer
De paixão no
outro dia:
Quem tal
coisa pensaria
Depois de
trabalhos tantos
De festas
feitas aos santos,
Presentes à
Albergaria,
Eu sempre de
romaria
Sofrendo
trabalhos quantos!
VIII
Eis que a
pobre velhinha,
Por tais
razões convencida,
Restando-lhe
pouca vida,
Preenche a
vontade minha,
Lastimando
coitadinha
Por acreditar
em mim;
Digo não há
coisa assim
Como as duas
questões:
Os Fortes
fracos ladrões,
E a estrada
do Bom Jardim.
IX
Que
trabalhos, minha tia,
Sofri eu, passando
mal
No Supremo
Tribunal
E Relação da
Bahia!
De noite
nunca dormia
Pensando
nestas questões,
Procurava
distrações
Com medo de
enlouquecer,
Promovendo
assim vencer
Os Fortes
fracos ladrões.
X
Sinto, porém,
um pesar
Que me oprime
o coração,
É que, finda
esta questão,
Nesta cena
singular,
Onde hei
representado
Com caráter
de honrado
O mais
brilhante papel,
Passando por
bacharel
Na velha
Coimbra formado.
XI
Sinto mais
ser divulgado
Por um
moderno jornal
Segredo que
em Portugal
Eu deixei recomendado;
Quis a morte,
quer o fado
Que eu seja
muito infeliz,
Suportando o
que se diz
De minhas
vadiações
Lá na terra
de Camões,
Onde estudar
nunca quis.
XII
Morreu a
pobre Elizinha
De uma
desgraça fatal,
Podendo de
Portugal
Vir um dia a
ser rainha;
Bastava se
filha minha,
Que tenho
sangue real,
Fosse embora
bem ou mal
Essa menina
arranjada
Com fidalga
ou criada,
Ninguém sabia
de tal.
(ass.) – O
Rodim Rio-Pretano
Correio
Mercantil – 6 de junho de 1862
I
Desculpa
leitor amigo
Esta minha
versalhada,
Sem medida e
mal rimada
Que é esta a
regra que sigo,
Desde tempo
mui antigo
Conheço
certas questões
Que só em
versos ratões
Devem hoje
ser cantadas,
Hoje queremos
estradas
E não
fechados portões.
II
Derrubem-se
os mandões
Ridicularizem-se
os tais,
Que sem menos
nem mais
Vedam
públicas servidões;
Complicam as
questões,
Tudo oferecem
sem cumprir;
Não se fartam
de mentir,
E o público a
sofrer
Dando voltas
de morrer
E há de calar
e ouvir?! Não.
(do autor)
Gabrieladas
I
A Câmara
Municipal
Desta nossa
pobre vila
Embirrou,
tomou quizila,
De nossa
estrada fatal;
Procura-lhe
fazer mal
Votando
indicações
Pra que se
abram portões
Que nunca
deram caminho,
A um célebre
homenzinho
Que insulta
nossos brasões.
II
Esse mal eu
já previa
Na passada
eleição
Por isso de coração
Pedi muito a
minha tia,
A ver se ela
gostaria
Para eu sair
presidente
Da Câmara com
a minha gente;
Mas ela não
quis assim
E o ingrato
Bom Jardim
Fez-me ficar
suplente.
III
Dos honrados
suplentes
Presidente
fiquei sendo,
E tão duro
osso roendo
Com meus
prateados dentes;
Combinei com
meus parentes
Anular tal
eleição,
Incumbindo-se
o Zangão
De trapacear
e mentir,
Até o poder
conseguir
Dos poderes
da nação.
IV
Depois de
muito esperar,
De dois anos
ter passado,
Vai o
conselho de estado
Dá-me um cheque
de matar!
Apeou-me do
lugar
Na ordem da
votação,
Sustentando a
eleição
Do ingrato
Bom Jardim
Que não quis
votar em mim
Por causa do
Boqueirão.
V
Passar por
tal decepção
Depois de
tantos trabalhos,
Antes bater
com dois malhos
Na cabeça do
Zangão;
Cortar-lhe
mesmo o ferrão
E por-lhe o
corpo a tinir,
Já que não
soube zumbir
Para produzir
efeito;
Zumbir a
torto e a direito,
Não presta
para mentir.
VI
Triste foi a
decisão,
Cruel o meu
padecer;
Antes queria
morrer
Na pessoa do
Zangão.
Dar gostos ao
remendão
E a roda
municipal
Foi desgraça
sem igual
Para mim e
meus parentes,
Que passados
e presentes
Lastimamos
este mal.
VII
Que me resta?
Paciência.
A custo
mostrar os dentes,
Já que até
dos suplentes
Tiraram-me a
presidência!
Alegre na
aparência,
Vingança no
coração,
Esperar a
eleição,
Vencer a
ferro e a fogo,
Mostrando
assim ao povo
Que fortes os
Fortes são!
VIII
Que nos
resta? Suportar
Ainda por
mais dois anos
O capricho
dos tiranos,
Dessa câmara
popular
Que não cessa
de embirrar
Contra a
nossa pretensão
De acabar com
o Boqueirão,
Cortando
pontas e serras
Para defender
as terras
Do tio Doutor
Zangão.
IX
Continue, não
importa
A Câmara a
representar
Ao Governo
sem parar,
Que tal
estrada está morta;
Ou seja,
direita ou torta
Essa por nós oferecida,
Ela será
preferida
Pois temos
muito dinheiro,
Não haverá
engenheiro
Que contra
nós se decida.
X
Mas se acaso
algum turrão
Embirrar com
a nossa estrada
Por não ter
sido traçada
Com declive
muito bom,
Responderemos
então
Pela seguinte
maneira
- A serra da
Mantiqueira
Que nos opõe
embaraços
Vai ceder a
Fortes braços
Ainda que
Deus não queira.
XI
Que!
Atravessar uma estrada
Por meio de
nossas terras
Perfurem-se
montes e serras
Reduza-se
tudo a nada;
Nossa justa
pretensão
Entupir o Boqueirão.
Arrasando a
Mantiqueira
É esperança
lisonjeira
Do tio Dr.
Zangão.
XII
Não olhemos a
despesa
No custo de
nossa estrada
Fique, pois, bem-acabada
Essa magna
empresa;
Imite-se a
natureza
Com um outro
boqueirão,
Mas feito em
tal direção
No atravessar
a serra
Que não vá
cortar a terra
Do tio Dr.
Zangão.
XIII
Arrasar a
Mantiqueira
Para passar
nossa estrada,
Custará pouco
ou nada,
Será mesmo
outra ligeira;
Ainda sendo a
primeira
Em gênero e
construção,
Elegância e
perfeição,
Que perpetue
na história
Um tal feito
de glória
Do tio Dr.
Zangão.
XIV
Perfure-se
essa montanha,
Conste da
história dos fatos
Célebres como
o do Athos,
Hum, de
glória tamanha!
Não foi maior
a façanha
Desse antigo
guerreiro
Por ter sido
o primeiro
Que citou a
natureza (1)
Para ceder
com presteza
A seu poder e
dinheiro.
XV
Imitemos o
guerreiro
Que intimou o
monte Athos
Não impedisse
os atos
Dos monarcas
o primeiro,
Do contrário
iria inteiro
Entupir o
oceano
Por ordem do
soberano,
Que não
poderia sofrer
Resistisse a
seu querer
O soberbo
monte ufano.
XVI
Perfurar a
Mantiqueira
Aos Fortes
será possível,
Reduzi-la
mesmo a nível
Ainda que
Deus não queira!
Desmentir ao
Aroeira
E sua
informação
Acerca do
Boqueirão,
É dos Fortes
um dever,
Para o mundo
conhecer
A sua forte razão.
XVII
Entupir o
boqueirão
Arrasando a
Mantiqueira
A picão e
cavadeira
A cavadeira e
picão
Foi lembrança
do Zangão
Foi lembrança
lisonjeira
Ainda que
Deus não queira
Disse ele
estando a tossir
Por força hei
de conseguir
Arrasar a
Mantiqueira.
(ass.) O
Menino
(1) Xerxes tendo perdido grande parte do seu exército na passagem
difícil do monte Athos, deu ordem para que fosse perfurado, escrevendo-lhe ao
mesmo tempo uma carta que lhe dizia que não se opusesse a sua resolução, do
contrário o mandaria lançar no oceano.
A resposta do monte a tal intimação não é conhecida; talvez agora se
encontra nas entranhas da serra, que vai ser perfurada com o mesmo fundamento.
Se assim acontecer, que achado para a história!
Correio Mercantil – 12 de outubro de 1862.
N.B. – Existe
uma quantidade grande de artigos, choradas em versos e mofinas, referentes a esta
questão desde 1856.
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
Antônio José de Freitas