A
ponte que passa entre o Boqueirão da Mira, construída por Pereira, é uma obra
de arte
A ponte que passa entre o Boqueirão da Mira,
construída por Pereira, é uma obra de arte que está causando no círculo dos
engenheiros sérios estudos devido à sua construção. É ali que seu construtor vê
o motivo para que sua estrada seja reconhecida.
Muito sólida, dá passagem diariamente às boiadas
que descem pelas serras do Bom Jardim, às tropas e aos cavaleiros.
Se conseguisse jogar a ponte ao fundo do ribeirão
Pirapitinga que por ali passa apertadinha vinha não só desmoralizar Pereira,
como arruiná-lo. Dessa forma não poderia esperar como era seu desejo, serem
indenizados pelo Governo da Província os seus vultosos gastos na construção de
estradas e pontes.
Seria uma estúpida agressão ao infortunado
bandeirante da terra ribeirinha.
E, numa noite, em dia e mês do ano de 1856,
Belizário Mariano de Morais, o administrador de Santa Clara, acompanhado de
Calisto, “Tira-Prosa” e muitos escravos da Fazenda, vão ao Boqueirão trazendo
sua gente munida de serrotes, mandando cortar as travessas da ponte,
deixando-as de forma que na passagem de qualquer peso, cairia no ribeirão.
No dia seguinte- o milagre- passa uma boiada e
nada acontece. Pouco depois o madeirame descia pelas águas agitadas do ribeirão
Pirapitinga.
A este respeito o “Correio Mercantil”, da Corte,
na sua edição de 16 de maio de 1856, publica o seguinte:
“A estrada do Boqueirão e a atrocidade inaudita”
O “Jornal do Comércio” e “Correio Mercantil”, de
11 do corrente publicaram ambos nesse mesmo dia uma notícia de grande alcance a
que deve se prestar a toda atenção. Diz a “Gazetilha”
-Escreve-nos de Minas – A 20 de Abril de noite,
homens perversos dirigiram-se à ponte colocada na estrada do Boqueirão,
ultimamente feita pelo Sr Manoel Pereira da Silva Júnior, e ali armaram uma
terrível cilada aos pobres viandantes, boiadas e tropas; arrancados os
corrimões e muitas taboas do assoalho lateral, cortaram à serra as travessas
sobre as quais descansam as linhas do mesmo assoalho( o lateral), e as deixaram
presas pela grossura uma polegada e tanto; o menos peso seria o bastante para
levar ao abismo, passageiros e bagagens, mas a Providência Divina, passou logo
uma boiada de sessenta rezes sem o menor perigo !
Fez-se o auto do corpo de delito, mas, talvez,
nisso ficará!”.
O “Correio Mercantil" coincidindo em dar a
mesma notícia e um pequeno artigo, já deixava entrever melhor o fim a que se
dirige a inocente publicação, acrescentando que os moradores da vizinhança,
correndo imediatamente a escorar a ponte, perguntaram entre si, quem seria esse
perverso, essa alma de tigre, esse assassino mesmo, que cometeu semelhante
fato?
E, a essas perguntas o boiadeiro que assinou o
artigo respondeu:
Segundo certo escritor quando se quiser conhecer
o autor de um crime, procure — se antes de tudo saber a quem ele pode
interessar.
Com efeito, se essa notícia, não for da meia
noite, o atentado merece exemplar castigo, e as mais rigorosas investigações
para o descobrimento de seu autor, muito mais havendo já o corpo de delito;
porém se começar aparecer descontos á notícia, dá se o publico a custar a crer
que os serradores pudessem de noite, as escuras, regular a polegada de grossura
que deixaram madeiras ou enfim se o negócio for algumas das costumadas
invenções para serem decantadas pela imprensa como fingida oposição à sua
estrada: então, meus senhores, botem, por hora, de quarentena a sua notícia
porque o cansado romance e fingimento de perseguições ou oposições já está tão
gasto e tão calvo, que nem mesmo a tal polegada de grossura que a serra deixou
as taboas, poderá tapar - lhe a calva; nesse caso, aplicando a doutrina do
escritor do nosso boiadeiro, cada um de nós interrogará a si próprio:- Quem
será o miserável que tem o interesse em inventar tão ridículos embuste “.
"O Imparcial".( por Araujo, José
Marinho,”Crime da Cava Grande”.
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